Um estudo inédito realizado nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro apontou que pessoas negras têm 4,5 vezes mais chances de serem abordadas pela polícia do que as brancas. O levantamento é do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, formado por advogados criminais e defensores de direitos humanos, em parceria com o Data Labe, organização social com sede no conjunto de favelas da Maré, no Rio.
Veja a íntegra do estudo aqui.
A pesquisa mostra que 13,5% dos entrevistados negros relataram já terem passado por abordagens policiais feitas dentro de residências, enquanto 5,1% dos entrevistados brancos relataram ter vivido esta situação. Entre os que declararam terem sido abordados mais de dez vezes pela polícia, o percentual entre os negros foi de 19,1%, mais que o dobro em comparação aos entrevistados brancos (8,5%).
“A gente consegue perceber experiência de violência com ambos os grupos, mas as situações são mais intensas, mais recorrentes, mais frequentes quando a gente analisa as pessoas negras, considerando as devidas proporções de respondentes”, disse a jornalista Elena Wesley, uma das porta-vozes do Data Labe.
O objetivo do relatório, segundo Elena, é criar um protocolo mais objetivo, pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário, que não abra margem para a interpretação subjetiva dos agentes e que impeça que haja diferenças nas abordagens.
A advogada Vivian Peres, coordenadora de Programas do Instituto, observou que não há questionamento por parte do Judiciário nas abordagens policiais. Vivian relatou ainda a necessidade de criação de protocolos que possam ser observados por agentes de segurança. “Se existisse um protocolo com regras objetivas, talvez a gente pudesse começar a mudar essa realidade.”
O RACISMO DA POLÍCIA
De acordo com o estudo, 46% das pessoas negras abordadas pela polícia ouviram algum comentário sobre a cor da sua pele. Já para pessoas brancas, a cor da pele foi mencionada em 7% das abordagens.
O levantamento também mostra que 89% das pessoas negras que passaram por abordagem policial relataram terem sofrido algum tipo de violência física, verbal ou psicológica. Para as pessoas brancas, o número é de 66,8%.
O grupo de pessoas negras foi também o que relatou maior incidência de contato nas partes íntimas durante abordagens: 42,4% ante 35,6% no outro grupo. Neste número estão homens, mulheres e pessoas que se classificam em outros gêneros.
A grande maioria (74,5%) dos participantes negros que já foram abordados e que responderam ao estudo classificaram suas experiências durante abordagens policiais como “ruins” ou “péssimas”. Já no grupo de pessoas brancas, essa classificação correspondeu a 47,1% do total.
A advogada Vivian Peres destaca que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo registrou, em 2020, 12 milhões de abordagens policiais e que menos de 1% delas culminou em prisão em flagrante. “É um número muito pequeno para uma quantidade tão grande de pessoas que são abordadas de forma ilegal, porque não havia evidências, e sem, de fato, significar um enfrentamento à criminalidade”, afirmou a advogada.
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Fonte: Redação, com informações da Agência Brasil