
Moro é chamado de ‘criminoso contumaz’ e ex-juiz retruca dizendo que hacker teria invadido aplicativos de mensagens de mais de 170 pessoas. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O hacker Walter Delgatti e o senador Sergio Moro (União-PR) bateram boca na sessão desta quinta-feira (17) na CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro. Delgatti chegou a chamar o ex-juiz titular da Operação Lava Jato de “criminoso contumaz”. A acusação aconteceu quando Moro quis saber a quantos processos o hacker responde pelo crime de estelionato.
Delgatti disse que respondeu a quatro processos e que foi absolvido em todos. Moro citou uma lista de mais de 40 ações judiciais, além de uma condenação. O hacker reagiu, dizendo que, em segunda instância, o processo “foi dado como prescrito”.
“Relembrando que eu fui vítima de uma perseguição em Araraquara, inclusive comparável à perseguição que o senhor fez com o presidente Lula e integrantes do PT. Ressaltando que eu li as conversas de vossa excelência, li a parte privada e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz. Cometeu diversas irregularidades e crimes”, afirma o hacker.
Delgatti ficou conhecido, em 2019, por ter tido acesso às mensagens trocadas entre Moro e os procuradores da Lava Jato. Ele obteve o material após invadir celulares de autoridades, inclusive de Moro, que à época era ministro da Justiça de Bolsonaro.
As conversas obtidas por ele deram origem à série de reportagens capitaneadas pelo The Intercept Brasil, conhecida como Vaza Jato, que revelou o conluio montado por Moro para condenar ilegalmente o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ficou impedido de disputar as eleições de 2018.
Escusas
Após ser acusado, Moro retrucou, alertando o depoimento que ele não poderia chamar um senador de “criminoso”, pois estaria cometendo crime de calúnia. Delgatti então pediu “escusas”, usando termo comumente empregado por Moro para justificar a série de crimes que cometeu. Ele, por exemplo, pediu “respeitosas escusas” ao Supremo Tribunal Federal, em 2016, após divulgar um grampo ilegal de diálogo entre a então presidenta Dilma Rousseff (PT) e Lula.
“Bandido aqui, desculpe senhor Walter, que foi preso é o senhor. O senhor foi condenado. O senhor é inocente como o presidente Lula, então?”, disse Moro, tentando ironizar. “O senhor não foi preso porque recorreu à prerrogativa de foro por função”, rebateu o hacker.
Posteriormente, Moro citou que Delgatti teria invadido os aplicativos de mensagens de mais de 170 pessoas. Delgatti confirmou e voltou a atacar o ex-juiz da Lava Jato. “Inclusive, cheguei às conversas do senhor com o então procurador Dallagnol e essas conversas foram chanceladas pelo STF e são utilizadas até hoje para anular condenações de pessoas inocentes”, afirmou Delgatti.
“Pessoas que cometeram crime contra a Petrobras e roubaram dinheiro, é isso…”, respondeu Moro. “Eu fico com a versão do STF“, rebateu novamente o hacker.