Com uma grande base aliada na Câmara, Manga tem aprovado todos os seus projetos sem problemas, inclusive a recente criação de 75 cargos de confiança, que custarão, anualmente, mais de R$ 10,3 milhões. Foto: Divulgação/Câmara
O prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) já nomeou pelo menos três assessores de vereador para os cargos de diretor de área da Prefeitura, criados há menos de um mês com o apoio da Câmara de Sorocaba. Os nomeados são pessoas de confiança dos vereadores Cícero João (PSD), Fábio Simoa (Republicanos) e do presidente da Câmara, Cláudio Sorocaba (PL).
Além deles, Manga também nomeou a esposa de um assessor do vereador Dylan Dantas (PSC) e um candidato a vereador derrotado nas eleições de 2016 e que hoje atua como cabo eleitoral dos deputados Vitor Lippi e Maria Lúcia Amary, ambos do PSDB, que também compõe a base de apoio de Manga.
O Portal Porque procurou os quatro vereadores para ouvir suas explicações, mas apenas Cícero João quis comentar o assunto. Ele negou que tenha indicado seu assessor para o cargo na Prefeitura e deu uma explicação que revela outro esquema de nomeações no Governo Manga: o de suplentes de vereador.
“O Amarildo [Amarildo Assis Ferreira, assessor de Cícero nomeado para a Prefeitura] era do PL, foi candidato a vereador e ficou como primeiro suplente do Cláudio Sorocaba. O cargo na Prefeitura é do próprio Amarildo porque ele é suplente de vereador. Normalmente, o primeiro suplente sempre tem um cargozinho. O Amarildo já teve uma vaga no Saae, passou pelo gabinete do vereador João Donizeti (PSDB) e depois ficou comigo. Agora, surgiu uma vaga e ele foi pra Prefeitura. Ele pediu exoneração comigo e voltou pro governo, para o cargo que ele tinha conseguido na própria eleição, quando ficou como suplente”, revelou Cícero.
De olho nas eleições do ano que vem
Com salário de mais de R$ 12 mil mensais, os 30 novos cargos de diretor de área aprovados pelos vereadores no dia 27 de março são temporários e só valem até o final do mandato de Manga, após as eleições municipais do ano que vem. O caráter provisório motivou acusações por parte dos vereadores da oposição — Fernanda Garcia (Psol), Iara Bernardi (PT) e Francisco França (PT) — sobre o uso político e eleitoral dos cargos.
Durante a votação em plenário, Fernanda Garcia chegou a dizer que Manga usaria os novos cargos para “lotar a Prefeitura de cabos eleitorais” visando a sua reeleição. Ela ainda disse que os vereadores da base aliada também fariam suas nomeações, o que revoltou os apoiadores de Manga, que acionaram o Conselho de Ética da Câmara contra a vereadora. “Essas nomeações vão ser publicadas no Portal da Transparência, vamos ver se eu não tenho razão”, disparou Fernanda, após ser avisada em plenário que o Conselho de Ética seria acionado.
Nesta quinta (27), Fernanda Garcia disse ao Porque que ainda não havia recebido nenhuma notificação sobre o processo no Conselho de Ética, “mas com as nomeações de claro aspecto político eleitoral já acontecendo, temos um embasamento fático para montar nossa defesa”.
Os nomeados
O Portal Porque constatou que pelo menos três assessores de vereadores foram nomeados para os cargos. São eles Claudineia Aparecida Viana Moreira Gouveia, contratada por Cláudio Sorocaba em 6 de janeiro de 2021 para ser sua assistente na presidência da Câmara; Philip Richard Belo Landers, advogado e assessor de Fábio Simoa de 3 de março a 4 de novembro do ano passado, e Amarildo Assis Ferreira, assessor de Cícero João na Câmara desde 12 de julho do ano passado. No caso de Claudineia e Amarildo, ambos estavam contratados pela Câmara até este mês.
Manga também contratou para um dos cargos de diretor de área Barbara Prieto, esposa do advogado Edson Prieto, assessor de Dylan Dantas. Em seu Facebook, Barbara atua como cabo eleitoral de Dylan, de Manga e da primeira-dama Sirlange, e se apresenta como “mulher, mãe, esposa, filha e antifeminista”.
Outro ex-assessor da Câmara também nomeado para um cargo de diretor de área é Rheenan Todero Galero. Ele trabalhou no gabinete do próprio Manga, quando vereador.
Por fim, Manga nomeou Gustavo Mendes Pavlicek Rebelles, que foi candidato a vereador pelo PTN, em 2016, quando recebeu 165 votos. Nas redes sociais, Gustavo atua como forte cabo eleitoral de Manga e dos deputados Vitor Lippi e Maria Lúcia. O PSDB não só faz parte da base de apoio do prefeito na Câmara como é líder do Governo Manga no Legislativo, na pessoa do vereador João Donizeti.
Durante a votação do projeto na Câmara, Donizeti defendeu a proposta, alegando que a criação dos cargos visa dar mais eficiência para a Prefeitura. Questionado por Francisco França sobre o tempo de duração dos cargos de diretor de área, ele então cometeu um ato falho e respondeu que “faz parte do acordo”. A oposição quis saber qual acordo, mas Donizeti desconversou, argumentado que é o prazo previsto para atender o plano de governo.
Além dos 30 cargos temporários de diretor de área, o projeto também criou outros 45 cargos de confiança na Prefeitura e mais uma secretaria municipal, a de Relações do Trabalho e Qualificação Profissional, além de dar status de secretário para a chefia de gabinete do prefeito.
Só com a criação dos 75 cargos de confiança, a Prefeitura desembolsará, anualmente, mais de R$ 10,3 milhões.
