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Maia pede demissão do governo de São Paulo após apoio de Garcia a Bolsonaro

A posição do governador, que perdeu a reeleição no domingo, provocou um racha no PSDB e também dentro do governo, com diversas ameaças de debandada. Cientista político vê apoio de Rodrigo Garcia como “insignificante” e diz que isso confirma “o declínio do PSDB”

Rede Brasil Atual

“Informo que na data de hoje deixo a Secretaria de Projetos e Ações Estratégicas do governo de São Paulo. Agradeço aos governadores João Doria e Rodrigo Garcia pela oportunidade”, afirmou o agora ex-secretário Rodrigo Maia. Foto: Flickr

O secretário de Ações Estratégicas do governo paulista, Rodrigo Maia (PSDB), ex-presidente da Câmara dos Deputados, anunciou nesta quarta-feira (5) sua demissão do cargo após o governador em exercício, Rodrigo Garcia (PSDB), declarar “apoio incondicional” à reeleição de Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A informação foi confirmada pela jornalista Andréia Sadi, da Globonews.

Maia havia assumido a pasta ainda durante a gestão de João Doria (PSDB), que deixou o governo estadual neste ano para concorrer à presidência, mas acabou preterido pelo partido. Após o primeiro turno presidencial no domingo (2), tanto o ex-governador como o PSDB posicionaram-se como neutros na disputa entre Bolsonaro e Lula, assim como a nível estadual, entre Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT).

Na tarde desta terça, Garcia, no entanto, tornou público seu apoio aos candidatos da extrema direita. Derrotado em terceiro lugar com 18,40% dos votos válidos, o tucano justificou sua posição com o antipetismo. Apesar de pesar sobre ele mais do que divergências ideológicas, como também ressentimentos de investigações na gestão do ex-prefeito Haddad contra sua família por desvio de dinheiro público. O anúncio de apoio, contudo, pegou a equipe do governador e do próprio partido de surpresa, que desde então falam em racha.

Racha no PSDB

“Informo que na data de hoje deixo a Secretaria de Projetos e Ações Estratégicas do governo de São Paulo. Agradeço aos governadores João Doria e Rodrigo Garcia pela oportunidade”, afirmou o agora ex-secretário Rodrigo Maia, em seu perfil pessoal no Twitter. O ex-presidente da Câmara, embora não tenha levado adiante mais de 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, posicionou-se como oposição ao atual chefe do Executivo e com críticas, principalmente, por meio das chamadas “notas de repúdio”.

Maia também avalia que uma possível reeleição de Bolsonaro colocaria a democracia brasileira em risco. Além dele, também são esperadas as demissões dos secretários de Cultura, Sérgio Sá Leitão; do Desenvolvimento Social, Laura Machado e Desenvolvimento Econômico, Zeina Latif. Nomes históricos do tucanato, como o do ex-chanceler e ex-senador Aloysio Nunes, também afirmaram estar constrangidos com o apoio de Garcia ao bolsonarismo.

“É uma vergonha, é o fim do mundo. Esse apoio do Rodrigo ao Bolsonaro me constrange. Nem sei se constrange mais o PSDB. É um absurdo o partido ficar indiferente a essa ameaça à democracia que se avizinha”, lamentou Nunes ao jornal O Estado de S. Paulo.

Insignificante e declínio do partido

O cientista político Pedro Fassoni, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), também avalia que a decisão do atual governador “confirma o declínio do PSDB”, que já vem acontecendo desde 2014, pelo menos. A avaliação do cientista político, porém, é que o apoio de Garcia não ajuda muito Bolsonaro. “Até porque ele (governador) teve um desempenho muito fraco nessa disputa, é o primeiro tucano que não consegue se eleger desde 1994, inclusive. Então mostra o desgaste que o tucanato enfrenta em São Paulo e também não acho que vai influenciar muito na disputa o apoio de Garcia a Bolsonaro”, observa em entrevista ao Jornal Brasil Atual.

Fassoni ainda comenta que o PSDB “colhe o que plantou no passado”. Além de seu desgaste no plano estadual, o partido também viu encolher nesta eleição sua bancada na Câmara dos Deputados, que passou de 22 para 13 deputados federais, menos do que Psol e Rede, que consideram pela federação eleger 14 parlamentares. Fassoni complementa que o partido “tem posturas extremamente conservadoras, quando não reacionárias. Apoiou o golpe em 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff, defendeu a contrarreforma trabalhista, entre outras medidas impopulares”.

“O PSDB chegou a eleger cerca de 100 deputados federais no governo de Fernando Henrique Cardoso, hoje tem pouco mais de 10 deputados federais. Então, é um partido que se torna praticamente inexpressivo no Congresso Nacional. Essa direita liberal, também chamada de tradicional no Brasil, acabou sendo tragada pela direita fascista, pela direita bolsonarista, a bancada da bala, os fundamentalistas religiosos. Os setores mais reacionários da sociedade brasileira. Então, na verdade, o PSDB acaba colhendo justamente aquilo que plantou no passado”, destaca Fassoni.

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