
Eduardo Bolsonaro durante sessão legislativa: agora ele é alvo de investigação da polícia, enquanto entidades pedem a sua cassação. Foto: Divulgação/CUT Brasil
O discurso do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), neste domingo (9), durante evento armamentista, comparando professores a traficantes de drogas, é classificado como criminoso tanto por duas vereadoras e professoras de Sorocaba, quanto pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) estadual e regional, pela CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e pelo Ministério da Justiça.
A atitude do deputado já virou alvo de investigação por parte da Polícia Federal, nesta segunda-feira (10), por ordem do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Ele quer saber se, durante o evento em defesa de armas aos civis, foram confirmadas incitações ou apologias a atos criminosos.
No discurso de domingo, ao usar o microfone durante o 4º Encontro Nacional do ProArmas, em Brasília, Eduardo Bolsonaro afirmou: “Não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante de drogas que tenta sequestrar os nossos filhos para o mundo do crime. Talvez o professor doutrinador seja pior”.
Indignadas, as vereadoras de Sorocaba, Iara Bernardi (PT) e Fernanda Garcia (Psol), que são professoras, se manifestaram sobre os ataques à profissão. Iara, por exemplo, disse que a fala de Eduardo Bolsonaro é “doentia e criminosa e pode incitar pessoas contra a escola e os profissionais da educação, como fez o pai dele [Jair Bolsonaro] quando foi presidente da República”.
Ela, que desde os anos 1970 leciona, disse ainda nunca tinha visto tanta incitação à violência nas escolas quanto nos anos em que Bolsonaro foi presidente e que o filho dele agora continua reafirmando enquanto deputado federal.
“Esse era o modelo Jair Bolsonaro: incentivar ataques a pessoas com problemas psicológicos, perseguir professores, mandar alunos filmarem professores, defender escola cívico-militar, defender aprendizado em casa [home school]. A fala de Eduardo Bolsonaro é a continuação dessa política violenta. O ministro Flávio Dino está certo em determinar a apuração criminal do caso”, comenta.
Iara Bernardi falou ao Portal Porque enquanto participava de uma reunião on-line com o Setorial Nacional de Educação do PT. O encontro virtual havia sido marcado para debater a revogação do modelo atual de ensino médio, mas inevitavelmente, “a fala odiosa do Bolsonaro entrou na pauta e o repúdio é generalizado”, acrescenta.
Direita e ódio da educação
“Lamentavelmente, a extrema direita parece ter ódio da educação. Por isso, elegeram os professores como inimigos. Enquanto a maioria dos educadores ainda sofre com o descumprimento do piso salarial, escolas sem investimento, violência e assédio no trabalho, este deputado que nunca trabalhou na vida, desrespeita e deprecia o trabalho dos professores”, declara Fernanda Garcia.
Ela também lembrou das suspeitas de envolvimento do clã Bolsonaro com o crime e a milícia. “Quem tem relação estreita com o crime organizado é a família Bolsonaro, que abrigou inúmeros milicianos da zona oeste do Rio de Janeiro e seus parentes nos mandatos parlamentares que exerceram. É necessário que ele responda na comissão de ética por esta declaração desrespeitosa.”
Abaixo-assinado
A CNTE emitiu nota de repúdio “às manifestações deploráveis e criminosas do deputado federal Eduardo Bolsonaro contra professores. Pediu que as autoridades apurem os fatos e divulgou um abaixo-assinado pedindo a cassação do mandato do parlamentar.
Já a Apeoesp também emitiu nota de repúdio contra os ataques aos professores e disse que vai buscar “os meios legais” contra as falas do deputado. “A educação é o principal caminho para que o Brasil possa alcançar desenvolvimento sustentável e soberania, com justiça social. E os professores são construtores desse futuro”, ressalta a entidade.
A coordenadora regional da Apeoesp Sorocaba, Paula Penha, por sua vez, acrescentou à reportagem do Porque: “é um absurdo que deve ser investigado e punido. Os professores já enfrentam todo tipo de violências dentro das escolas, a fala de Eduardo Bolsonaro incita o ódio contra os docentes e fere a liberdade de cátedra”.
Bolsonaro incita violência
O deputado, em seu discurso no domingo, além de criticar o Ministério da Justiça por não dar “acesso à legítima defesa [na questão das armas] e de impedir as famílias de fazer o certo”, ainda permite a existência de grupos que acusam conservadores como ele de machistas e racistas. Ele ainda recomenda ao público armamentista: “tirem um tempo para ver o que eles [os filhos das pessoas] estão aprendendo nas escolas. Não vai ter espaço para professores doutrinadores tentarem sequestrar nossas crianças”.
Diante dessas falas, repercutidas em redes sociais, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, declarou nesta segunda (10): “Determinei à Polícia Federal que faça análise dos discursos proferidos em ato armamentista, realizado em Brasília. O objetivo é identificar indícios de eventuais crimes, notadamente incitações ou apologias a atos criminosos”.
Também nesta segunda-feira (10), o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) afirmou que vai entrar com uma representação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados contra Eduardo Bolsonaro. “Esse insulto a todos os professores brasileiros não pode ficar impune.”
*Com informações da Agência Brasil e CUT Nacional