O caso envolvendo o vereador Dylan Dantas (PSC), que esteve na Escola Estadual Joaquim Izidoro Marins na terça-feira, 28, para cobrar satisfações sobre um “selinho” entre duas alunas, ocorrido em uma encenação teatral, continua repercutindo na cidade e gerou intenso bate-boca na Câmara. Na sessão desta quinta-feira, 30, Dantas usou a tribuna para ler uma nota na qual se colocou na posição de vítima, e informou ter entrado com representação contra as vereadoras Iara Bernardi (PT) e Fernanda Garcia (Psol) na Comissão de Ética, alegando calúnia e difamação. No entanto, fontes que acompanharam o tumulto na escola afirmaram ao PORQUE que o vereador proferiu “falas homofóbicas”, coagindo e constrangendo profissionais da educação em sua abordagem.
Dantas foi repudiado pelos alunos que, reunidos no corredor da escola, aos gritos de “Vaza!” e “Homofóbico!”, acompanharam a saída do vereador com um coro de “Lixo! Lixo!” (leia reportagem no link abaixo). Ontem, ele leu uma nota em que se definiu como vítima de uma situação que, conforme testemunhas, foi gerada por ele próprio, com sua tentativa de intervir na rotina escolar. Após a leitura da nota, o vereador alegou ter sido atacado e caluniado sem razão pelas vereadoras Fernanda Garcia (Psol) e Iara Bernardi (PT), pois sua ida à unidade foi, em suas palavras, “amistosa”. As vereadoras citadas se defenderam, e o assunto degenerou em um bate-boca, atrasando a sessão ordinária e adiando a votação de projetos.

Na sessão desta quinta-feira, 30, Dantas usou a tribuna para ler uma nota na qual se colocou na posição de vítima, e informou ter entrado com representação contra as vereadoras Iara Bernardi (PT) e Fernanda Garcia (Psol) na Comissão de Ética, alegando calúnia e difamação. (Foto: Câmara de Sorocaba)
Na nota, repassada impressa também aos jornalistas presentes na sessão, o vereador narra todo o episódio, alegando que foi ao local para atender uma denúncia de que “crianças, em determinada escola estadual da nossa cidade, estariam sendo induzidas por professores a se beijarem em uma apresentação teatral”. O vereador alega que, ao chegar, se reuniu com diretor, vice-diretor, coordenadora pedagógica e a professora responsável pela encenação. Fontes que serão preservadas pelo PORQUE, para evitar retaliações, reafirmaram o que já haviam informado na terça, afirmando que Dantas se portou de maneira agressiva e inquisitória em suas abordagens aos responsáveis pela escola e pela apresentação.
CONSELHO DE ÉTICA
Em outro ponto da nota, Dylan Dantas diz que, depois do episódio “amistoso”, ficou surpreso com as notícias de que as vereadoras Fernanda Garcia e Iara Bernardi – chamadas pelos professores após o episódio para ir até o local e ficarem cientes do ocorrido – “agredindo” sua figura nas redes sociais e imputando-lhe “as mais terríveis condutas”, sem que soubessem o que realmente havia acontecido.
“Eu e minha família nos sentimos destruídos pela forma terrível e cruel que fomos atacados pelas vereadoras. Fomos vítimas desse crime irreparável que é a calúnia e a difamação. E ainda pior, cometido nas redes sociais que potencializam o alcance e duração dos danos”, disse o vereador, reiterando que pretende restaurar sua honra “manchada de um modo tão irresponsável”, mediante a representação que fez contra as parlamentares no Conselho de Ética.
Na Sessão, após a leitura da nota, foi passado o direito de palavra para as vereadoras, que reiteraram suas críticas à atitude de Dantas. O pastor Luis Santos (Republicanos), em defesa de Dantas, iniciou um bate-boca com o presidente Cláudio Sorocaba (PL) e as vereadoras.
ENTIDADES DE CLASSE REPUDIAM
A professora Ana Paula Souza Brito, presidente do Conselho Municipal de Educação de Sorocaba, e a professora Adriana Santos Pinto, vice-presidente do mesmo colegiado, registraram, em nota enviada ao PORQUE, que se solidarizam com os profissionais e estudantes da escola Joaquim Izidoro Marins, face ao ocorrido com a ação do vereador Dylan Dantas.
“Enfatizamos que os vereadores possuem função fiscalizadora e que podem transitar em quaisquer espaços públicos. Entretanto, nesse caso específico, há indícios de exacerbação da função, principalmente pelo constrangimento apontado pelos professores e estudantes envolvidos”, afirmam. As escolas públicas, prossegue a nota, apresentam inúmeras demandas, referentes à estrutura e condições materiais, carecendo de soluções para as quais o vereador poderia se empenhar em colaborar. “E o mesmo não possui formação técnica educacional e pedagógica para proferir análises de cunho didático-metodológico, como também não pode, por intermédio da observação de uma ação, tecer conclusões precipitadas e preconceituosas sobre o trabalho desenvolvido por uma escola”, concluem.
Do mesmo modo, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) repudiou o ato que classificou como “inadmissível” e se solidarizou com toda a comunidade escolar daquela unidade. “A escola foi vítima do preconceito e intolerância, que tem atingido o País nos últimos anos, promovido por um vereador bolsonarista da cidade. É inadmissível que uma escola pública sofra interferência nas suas atividades pedagógicas, ainda mais por quem nada entende de educação”, enfatiza a entidade.
Para a Apeoesp, a falta de esclarecimento e debate no ambiente escolar perpetuam a prática discriminatória que tem se fomentado no Brasil. “E, diante dos fatos e sabendo da importância da escola no combate aos preconceitos, reforçamos a importância de uma escola autônoma, com liberdade de aprender e de ensinar, com o intuito de ampliar as possibilidades educacionais de cada indivíduo. Ressaltamos ainda que, neste 28 de junho, Dia Mundial do Orgulho LGBTQIA+, a importância da defesa das bandeiras de respeito, orgulho, diversidade e do pertencimento também no ambiente escolar”, conclui a nota.