Anunciado pela Prefeitura de Sorocaba como a maior operação desse tipo realizada no município, o desassoreamento do rio Sorocaba é medida paliativa, afirma o biólogo e professor da UFSCar, André Cordeiro, que também é vice-presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê.
O serviço será feito, após licença ambiental da Cetesb, pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) em parceria com o governo de Estado pelo programa Rios Vivos, do Departamento de Águas e Energia (DAEE). A limpeza e remoção dos bancos de areia inclui 9,2 quilômetros do rio Sorocaba e 1,6 km do córrego Itanguá.

Para André Cordeiro, do Comitê de Bacias, o ideal seria um plano municipal de drenagem que protegesse o rio. (Foto: Acervo Loja de Ideias)
“O ideal é que se faça uma gestão da drenagem urbana para que o sedimento não chegue no rio. Quando você tira estes bancos de areia, provoca aumento da velocidade da água à jusante causando enchentes mais abaixo, além de eliminar todo o ecossistema associado a este sedimento”, afirma Cordeiro.
Em relação ao ecossistema do fundo do rio, Cordeiro explica que é chamado de bentônico, “composto por uma comunidade específica de microrganismos, invertebrados e mesmo alguns peixes que vivem sobre e dentro do sedimento, numa relação parecida com o solo em uma floresta, onde ocorrem os processos de decomposição da matéria orgânica, que afeta e altera a composição da água”.
Nesse ecossistema ocorrem vários processos metabólicos importantes para manutenção da comunidade de animais e plantas em ambientes aquáticos.
GESTÃO DE DRENAGEM
Cordeiro explica que existem várias formas de se reduzir a quantidade de água e de sedimento que vão parar na calha do rio. “Há medidas baseadas na natureza, como áreas naturais para absorção de água do solo, redução da impermeabilização do solo, manutenção das áreas de várzea e vegetação no entono dos rios, proteção das nascentes e diversas outras obras”, avalia.
Para ele, além dessas medidas, é preciso combater fatores que aumentam o carregamento de material para o rio, como “o aumento de impermeabilização com a aprovação de novos empreendimentos imobiliários, construção de marginais e canalização de rios, entre outros”.
ÁREA DE DESCARTE
Para Cordeiro, “sem que haja uma melhoria do gestão da drenagem urbana, [desassorear] é o mesmo que enxugar gelo”. Ele alerta também sobre outro problema, que é onde depositar o material retirado.
De acordo com a Prefeitura de Sorocaba, não está definida ainda a área de descarte para as toneladas de sedimentos que sairão do rio e do córrego. A Cetesb está analisando qual será o local para depois emitir a licença ambiental.
A ação do programa Rios Vivos foi anunciada na quinta-feira, dia 14 deste mês, em Sorocaba, com a presença do governador Rodrigo Garcia e do secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA), Marcos Penido. O total desse programa totaliza um investimento de 90 milhões, referentes aos serviços de limpeza e dragagem de mais de três mil quilômetros de cursos d’água.