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Abusos de golpistas de Santa Rosália e omissão de autoridades completam um mês

Paulo Andrade (Porque)

  • Foto: Renata Rocha/Porque
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Sob a forte tempestade que caiu esta tarde, o acampamento sorocabano dos inimigos da democracia, em frente ao prédio do Exército, no bairro Santa Rosália, em Sorocaba, completa um mês nesta sexta-feira, 2 de dezembro. Para a verdadeira liberdade política, não há o que comemorar, só o que lamentar e se envergonhar.

O PORQUE passou pelo acampamento no início da noite. A reportagem encontrou poucas pessoas, mas, com a complacência das autoridades, as duas pistas da avenida Senador Roberto Simonsen, uma das principais daquela região, estavam fechadas com os próprios veículos dos golpistas.

Apesar da conspiração contra o Estado Democrático de Direito por si só ser um crime, o ruidoso acampamento ainda traz uma série de outras suspeitas e inconvenientes. Não se sabe quem financia os custos envolvidos, como banheiros químicos e outras estruturas; o incômodo ao trânsito e às escolas das imediações também são evidentes.

Embora a ilegalidade e os excessos sejam notórios, como as ruas fechadas esta noite, as autoridades de Sorocaba nada fazem para que se desmonte o circo ali armado. Críticos do ato perguntam o porquê do Ministério Público local não denunciar a ofensa à democracia; o porquê do Conselho Tutelar não verificar a responsabilidade de adultos que levam crianças ao local; o porquê da Prefeitura não dispersar a aglomeração por meio da Urbes ou da Guarda Civil.

Oposição e comerciantes legalizados também questionam por que a administração municipal não fiscaliza o comércio ilegal que ali se manifesta e que, em outras regiões, é tão duramente coibido.

Pessoas que circulam pelo bairro relataram ao PORQUE que boa parte dos que permanecem em frente ao prédio do Exército são indivíduos de idade mais avançada, com a vida financeira resolvida, que levam netos ou outras crianças para ensiná-los a bajular o militarismo. Ou são jovens abastados e seus seguidores que fazem do local um ponto de encontro no final de tarde, a fim de extravasarem o tédio e a revolta contra a democracia popular.

Manga na Rodovia com golpistas

Antes de montarem acampamento no Jardim Santa Rosália, os golpistas que querem derrubar o presidente eleito, Lula, à força, já tinham causado estragos bloqueando estradas na região, bem como em outras partes do país. No caso de Sorocaba, logo após as eleições, o prefeito Rodrigo Manga virou alvo de chacota e de asco nacionais ao confraternizar com inimigos da democracia no bloqueio da Rodovia Raposo Tavares. Ávido por propaganda e por redes sociais, o próprio prefeito veiculou um vídeo dele no bloqueio, afagando golpistas, em suas redes sociais.

Diante desse fato, não é por acaso que as investigações e denúncias sobre a baderna dos conspiradores em Sorocaba surgem de fora da cidade; nunca daqui mesmo, que deveria zelar pelo respeito do município à Constituição, às demais leis e à organização democrática da sociedade.

Em Sorocaba, além dos acampados inconformados usarem cones da Urbes para bloquear vias públicas em Sorocaba (enquanto a Urbes se omite), um promotor público escancaradamente de direita já disse “amém” às manifestações antidemocráticas, mesmo depois que os transtornos dela foram denunciados pela vereadora Iara Bernardi (PT).

Foi preciso que a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal apontassem uma empresa de transporte de Boituva como uma das financiadoras de golpistas. Já o Ministério Público do Estado, independente dos promotores locais, esteja investigando que dá sustentação para os conspiradores.

Vergonha nacional e internacional

Inegável, aos olhares internos e do mundo, que o extremismo dessa direita raivosa e estridente é trágica para a imagem da Nação e vergonhosa para os brasileiros que prezam a democracia. Porém, a avalanche de vídeos e mensagens insanas dos golpistas, que vêm a público, acabam se configurando em piadas insanas, embora de péssimo gosto, sobre os limites a que podem chegar os devaneios de fanáticos direitistas sem noção de justiça social.

Não é possível identificar a origem da maioria das postagens de “acampados”, mas muitas são representativas do que ocorre em Sorocaba, hoje um dos principais nichos bolsonaristas do estado e do país.

Hilários, mas antidemocráticos

Em um vídeo que começou a circular esta semana, por exemplo, uma bolsonarista de verde e amarelo afirma que a chuva que castigava os golpistas eram culpa das antenas do projeto HAARP, que fica no Alasca. Ela crê em uma conspiração internacional pró-Lula e que “os caras” estão “mandando” para atrapalhar o protesto golpista.

” A gente sabe o que é antena HAARP e que essa chuva e esse tempo não (ocorrem) por causa de aquecimento global e peido de vaca. São antenas HAARP”, afirmou a bolsonarista (veja aqui).

O projeto High Frequency Active Auroral Research Program (HAARP) começou em 1993 e é financiado pela Força Aérea dos Estados Unidos, a Marinha e a Universidade do Alasca com o propósito de “entender, simular e controlar os processos ionosféricos que poderiam mudar o funcionamento das comunicações e sistemas de vigilância”.

Também esta semana, na terça-feira, um bolsonarista fez o seguindo comentário no Twitter oficial do presidente Jair Bolsonaro: “Me encontro a [sic] 30 dias parado na frente de quartéis. Cago na sarjeta, minha esposa me deixou e levou meus 2 filhos pequenos, perdi meu emprego e devo 2 mil ao meu primo”, lamentou. “Estamos fazendo a coisa certa, presidente? O silêncio me consome”, indaga o fiel “patriota” na postagem sob uma foto de Jair sentado atrás de um brasão da República.

Ambas as postagens circularam na mesma época em que Eduardo Bolsonaro foi flagrado na farra com sua esposa no Catar, onde acontece a Copa do Mundo de Futebol; o pastor golpista Silas Malafaia ser fotografado em um resort paradisíaco em Pernambuco; e o presidente Bolsonaro continuar se negando a ir trabalhar no Palácio do Planalto para cumprir o restante do seu mandato.

Também viralizou na internet, há cerca de 10 dias, um vídeo no qual bolsonaristas de Porto Alegre (RS) usam as luzes de celulares para supostamente pedir “intervenção” de extraterrestres a fim de impedir a posse legal do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Olhando para o céu com os celulares acima das cabeças e gesticulando, eles clamam por um “general” das estrelas que olhe por eles (veja aqui).

O autor do vídeo, um ciclista gaúcho que mora perto da arruaça golpista, teve sua postagem reproduzida por várias páginas e perfis e recebeu o nome de “Bolsomínions no multiverso da loucura”, em alusão a um filme da Marvel.

Fake News ainda correm soltas

Além das demonstrações de delírio ridículo em vídeo, as Fake News continuam correndo solta entre os bolsonaristas, como aconteceu durante todo o governo derrotado. No início de novembro, “acampados” festejaram uma suposta prisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que reconheceu o resultado das eleições.

Tudo mentira. Tudo fake. Chegaram a manipular um documento e ler em público entre acampados para anunciar o falso pedido de prisão no ministro do Judiciário (veja aqui).

Não somente Facebook, Twitter e Instagram servem ao propósito de bolsonaristas de divulgar Fake News. Também o Whats App e o Telegram foram instrumentos poderosos para a direita divulgar teorias conspiratórias e golpismo, que causam transtornos à população até hoje, passado mais de um mês das eleições.

Não é cidadania, é terrorismo

Como argumenta em sua página no Facebook o jornalista e historiador sorocabano Geraldo Bonadio, “alegam eles [os acampados] que os tribunais não podem impor limites às suas atividades. São invocações improcedentes. A Constituição Cidadã garante a mais ampla extensão possível ao exercício de tais direitos, mas isso não significa que sejam ilimitados. Exercidos de maneira truculenta e atentatória à ordem constitucional, tais manifestações não se caracterizam como direito de cidadania e sim como terrorismo puro e simples, atentatório à segurança nacional e que, por isso, deve ser prevenido e, no presente caso, reprimido”, ensina Bonadio.

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