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Punição para os genocidas

Com coragem e determinação, é preciso identificar, responsabilizar e punir de maneira exemplar todos os que participaram do projeto de extermínio dos povos indígenas

José Carlos Fineis* (Portal Porque)

Investigação da Polícia Federal deve comprovar a materialidade de um projeto de genocídio dos povos indígenas e incentivo às atividades ilegais em suas terras. Foto: Urihi Associação Yanomami

A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o abandono que condenou centenas de indígenas do povo ianomâmi à desnutrição, à doença e à morte durante o governo Bolsonaro (2019-2022). Se a investigação for séria, como se espera que seja, ela não só apontará a materialidade de um projeto de extermínio dos povos indígenas, mas também culminará com o indiciamento dos responsáveis pelo crime de genocídio.

Um dos efeitos mais nocivos da sobreposição cotidiana de crises e ultrajes, característica marcante do Brasil de Temer e Bolsonaro, é a banalização da dor. As pessoas passam a assimilar as mortes evitáveis, a violência estrutural, a criminosa omissão dos governantes – para citar alguns exemplos de fatos que se tornaram corriqueiros nos últimos anos — como se fossem fatalidades ou ocorrências naturais.

Diante da overdose de notícias ruins, num estranho processo interior que só os psicólogos podem explicar, passa-se a conviver com os efeitos psicossomáticos da tragédia – apatia, ansiedade, insônia, agressividade, angústia, sentimento de impotência –, sem que se encontrem meios e energia para organizar uma reação, seja ela na forma de pressão política, seja de manifestações ou de ações judiciais.

Mesmo nesse quadro de abatimento, entretanto, a revelação das condições em que o povo ianomâmi vinha sendo mantido – dolorosamente comprovada por imagens que remetem aos campos de concentração nazistas, em toda sua crueza –, causou empatia, revolta e indignação entre os brasileiros, e mexeu com os brios de quem quer que tenha senso de dignidade e respeito pela vida.

E maior ainda é a indignação quando se constata, como tem sido demonstrado, que a situação não é de hoje e vinha sendo denunciada com insistência ao governo federal, sem que este tomasse qualquer providência. Pelo contrário: o projeto do governo de extrema-direita – tudo leva a crer — consistia justamente no extermínio dos povos indígenas e na exploração de suas terras por atividades ilegais.

Mais do que socorrer os ianomâmis e outros povos indígenas abandonados por um regime verdugo e desumano, é fundamental que as investigações avancem e apontem os nomes de todos os culpados pelo projeto genocida levado a cabo por um presidente que, em nenhum momento, demonstrou preocupação com o bem-estar dos povos indígenas e a proteção de suas terras.

O extermínio dos ianomâmis e a premeditada depredação da floresta amazônica no governo Bolsonaro são uma vergonha para os brasileiros — e a vergonha será ainda maior se, depois de apurados os crimes e responsabilidades, ninguém for punido. O Brasil não se reconciliará consigo mesmo se não tiver coragem de punir exemplarmente os genocidas, independentemente de cargo, nome ou patente.

*José Carlos Fineis é editor-chefe do Portal PORQUE

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