Uma das características da direita populista de Sorocaba é subestimar a inteligência das pessoas, recorrendo, por vezes, a artifícios pseudoinformativos que mais parecem piadas prontas. De outra maneira, como explicar que uma pesquisa sobre quem teria sido o melhor prefeito de Sorocaba nos últimos 30 anos pudesse incluir, no universo de entrevistados, munícipes a partir de 16 anos de idade?

Qualquer pessoa de bom senso que fosse chamada a organizar uma pesquisa sobre “quem foi o melhor prefeito dos últimos 30 anos”, mesmo sem formação em estatística, chegaria à conclusão lógica de que, para ter seriedade e ser confiável, a inquirição deveria limitar o universo dos entrevistados a quem, 30 anos atrás, já tivesse pelo menos 16 anos, a idade com que os brasileiros começam a votar e, supostamente, a se interessar por política.

Mas não. Permitiu-se que opinassem, em condição de igualdade com quem realmente viveu e conheceu os governos avaliados, pessoas que ainda estavam em fraldas ou sequer haviam nascido quando alguns dos prefeitos citados estiveram no poder. É como perguntar a alguém que nunca saiu de Maceió qual a melhor capital para se viver: Maceió, Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro…

A propósito dessa questão da idade, é forçoso notar que o atual prefeito, com todo o seu aparato ostensivo de marketing e tendo a máquina pública nas mãos – o que não é pouco –, só vence como o “melhor dos últimos 30 anos” na faixa dos 15 aos 29 anos de idade, ou seja: justamente entre aqueles que não tinham nascido, ou brincavam de Velotrol ou estavam mais preocupados com as espinhas no rosto do que com a política de Sorocaba, quando quase todos os outros governaram a cidade.

Curioso notar também que, mesmo com essa falha metodológica escandalosa, a “pesquisa”, ainda assim, não aponta uma aprovação majoritária ao governo Manga, como o atual inquilino do Palácio dos Tropeiros tenta fazer crer, valendo-se da mesma em posts nas redes sociais.

Se analisarmos os números por uma ótica que não seja a do marqueteiro e a do bajulador, eles revelam uma realidade diametralmente oposta. Afinal, se é MESMO verdade – e é preciso enfatizar esse “mesmo” – que 34,7% acham que Manga foi o melhor prefeito dos últimos 30 anos, obviamente, na opinião dos outros 65,3%, Manga NÃO foi o melhor das três décadas. Para dois a cada três entrevistados, houve outros, melhores do que ele.

É uma pena que a “pesquisa” não tenha incluído, assumindo de vez sua vocação ficcional que lembra um pouco o filme “De volta para o futuro”, nomes como Flávio Chaves, Cláudio Grosso, José Theodoro Mendes e Armando Pannunzio – ou, retrocedendo ainda um pouco mais no tempo, já que não é preciso conhecer para opinar, figuras históricas como Artidoro Mascarenhas (o Dr. Pitico), Gualberto Moreira e Eugênio Salerno.

O resultado em nada perderia no quesito credibilidade, ao passo que os entrevistados, pelo menos, teriam um leque mais amplo de opções para exercitar sua imaginação.