
Neste momento, nada mais importa do que parar o morticínio, seja de árabes ou judeus, preocupação que parece passar longe do Paço Municipal. Foto: Matt Hrkac/Flickr
É provável que o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), entenda mais de venda de carros e de aparecer nas redes sociais do que da história do conflito entre israelenses e palestinos. Daí sua proposta de censurar qualquer manifestação de apoio aos árabes na cidade, enviada à Câmara e que deve ser votada (e aprovada) nesta quinta-feira (19).
Se Manga se interessasse por história, poderia ter lido, por exemplo, o escritor judeu Primo Levi, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, que escreveu no livro “É Isto um Homem?”: “Viajamos até aqui nos vagões selados; vimos partir em direção ao nada as nossas mulheres e as nossas crianças; reduzidos a escravos, marchamos mil vezes para trás e para diante, numa fadiga muda, já apagados nas almas antes da morte anônima…”
Óbvio que há diferenças entre as situações, os tempos históricos são outros, mas a descrição que faz, de mulheres e crianças marchando para trás e para diante antes da morte anônima, pode ser uma descrição do momento hediondo em que passamos. De ver milhões de palestinos sem água, comida, energia, abandonando suas casas, que depois são destruídas, caminhando sem rumo, sem saída.
Centenas desses corpos, a maioria de mulheres e crianças, acabaram expostos pelo bombardeio a um hospital, na terça-feira (17). Mais que saber de quem é a culpa, e vários indícios apontam para Israel, é indagar, como faz Levi, como a humanidade pôde chegar a esse ponto?
Neste momento, nada mais importa do que parar o morticínio, seja de árabes ou judeus. Preocupação que parece passar longe do Paço Municipal de Sorocaba.
A ideia de hastear a bandeira de Israel, de mandar proposta para a Câmara proibindo manifestações na cidade a favor dos palestinos, ir buscar “sorocabanos” em jatinho emprestado de empresários em Brasília, não tem nada a ver com preocupações humanitárias. Parecem ações para mobilizar nas redes sociais um núcleo bolsonarisa-radical-evangélico com fins eleitorais. Não é para isso que se elege um prefeito.
*Frédi Vasconcelos é editor do Portal Porque