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Lição de civismo e dignidade

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A tentativa de intimidação do presidente Jair Bolsonaro contra os servidores da Anvisa que aprovaram a vacina da Pfizer para crianças a partir de cinco anos de idade forneceu mais uma prova pública e inequívoca da vileza, mesquinhez e irresponsabilidade do inquilino do Palácio do Planalto – mas isso não é novidade.
O grande fato a ser registrado é a reação pronta, cívica, profissional e corajosa dos funcionários da Anvisa, a começar pela fala de seu presidente, Antonio Barra Torres, que já na sexta-feira estabeleceu um contraponto à vilania de Bolsonaro, assumindo a responsabilidade pela decisão e ensinando ao presidente da República como uma pessoa digna deve agir, em defesa daquilo em que acredita.
Bolsonaro afirmou que os nomes dos responsáveis pela decisão de liberar a vacina deveriam ser divulgados. Ele sabe que seus seguidores fanáticos – uma pequena parte daqueles 19% que ainda tentam justificar seus gestos insensatos, mesmo sabendo de seu imensurável despreparo, vitaminado por doses maciças de maldade – fariam daqueles técnicos alvos potenciais para perseguições e até para ameaças de morte, que efetivamente têm ocorrido.
Mas, na sequência da fala de Barra Torres, funcionários da Anvisa gravaram um vídeo em que mostram o rosto e dão, literalmente, a cara para bater, levantando cartazes com a frase: “Eu aprovei a vacina”.
Com essa atitude, essas pessoas ajudaram a devolver a esperança a milhões de brasileiros, oferecendo-lhes uma prova poderosa de que existe, sim, muita gente séria e honesta no Brasil, infinitamente mais aguerrida e corajosa do que esses que, nas redes sociais, se escondem por trás de perfis falsos para espalhar calúnias e fake news, na tentativa de prejudicar os que se colocam entre eles e os objetivos nem sempre lícitos que tentam alcançar.
Gente que sufoca o medo e enfrenta os perigos diariamente, ciente de que precisa continuar exercendo sua cidadania, honrando o compromisso com o povo brasileiro, acima de qualquer ameaça plantada pelos “gabinetes do ódio” e por autoridades como o próprio presidente da República, contra seus empregos, sua tranquilidade e até mesmo sua integridade física e psicológica. Profissionais fiéis a suas consciências e convicções, que fazem do Magistério, da Medicina, do Direito, do Jornalismo, dos próprios órgãos de governo e das organizações da sociedade civil trincheiras imprescindíveis para impedir que o fascismo avance, com todos os seus males – ainda que isso os condene a viver eternamente fora da chamada “zona de conforto”.
Como órgão de imprensa progressista, comprometido com a informação acima de tudo e a verdade acima de todos, o PORQUE se une em espírito e solidariedade aos funcionários da Anvisa e a todos aqueles que, no âmbito federal, estadual e municipal, seguram a todo momento, com palavras e atitudes, o touro do autoritarismo pelos chifres, impedindo que avance mais do que já avançou sobre as estruturas e os alicerces do Estado Democrático de Direito.
Os tempos têm sido difíceis para os que amam verdadeiramente o Brasil, e justamente por isso é preciso ovacionar publicamente quem quer que se levante contra a barbárie, a ignorância, a truculência, a intenção criminosa disfarçada de mero negacionismo.
É momento de olhar para o que temos de bom, e, por sorte, temos muito. Somos um grande país, pois para cada Pazuello existe um Barra Torres, para cada Paulo Guedes existe um Júlio Lancelotti, para cada negacionista existem milhares de pessoas que fazem fila para tomar a vacina e não bancam as crianças mimadas porque são obrigadas a usar máscara em público.
Se cada um fizer a sua parte, o Brasil virará, mais logo do que imagina, a triste página do bolsonarismo, e retomará o caminho do qual jamais deveria ter-se desviado, com justiça social, respeito aos direitos humanos, valorização do conhecimento, distribuição de riquezas e oportunidades, comida no prato, solidariedade e dignidade.
É esta a mensagem que fica no ar depois da grandiosa demonstração de civismo dos funcionários da Anvisa, em resposta à patética e rancorosa pregação daquele que, não tendo competência nem humanidade para governar, tentou semear o caos e a desordem entre os brasileiros, tarefa em que, felizmente – percebe-se claramente agora –, como em todo o resto, fracassou.
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