
Esgoto lançado por extravasores clandestinos, instalados pelo Saae, precisa ser retirado do Parque dos Espanhóis por empresa contratada pela autarquia. Foto: Renata Rocha
A denúncia feita ao Portal Porque por funcionários do Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), dando conta de que a despoluição do rio Sorocaba e afluentes vem sendo sabotada há cerca de dez anos pela própria autarquia, não pode ser ignorada – sob o risco de omissão e cumplicidade – pelos órgãos de fiscalização do Poder Executivo e do Meio Ambiente, notadamente a Câmara Municipal, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e o Ministério Público.
Segundo a denúncia, comprovada em vídeo pela reportagem do Portal Porque, o Saae adotou por prática a instalação de extravasores (drenos) em pontos da rede de esgoto que, com o crescimento da cidade, ficaram subdimensionados. Em vez de ampliar a capacidade da rede com tubos de diâmetro maior, a autarquia passou a instalar “ladrões” que despejam o esgoto excedente em córregos e no interior de galerias de águas pluviais – e, deles, para o rio Sorocaba.
Como resultado dessa gambiarra, a despoluição do rio Sorocaba e afluentes – realizada em décadas recentes, a um custo estimado de R$ 250 milhões em valores de hoje – corre o risco de se perder. Diversos córregos voltaram a exalar mau cheiro. A situação é tão absurda que o Saae precisou contratar uma empresa para remover os dejetos lançados nas águas do Parque dos Espanhóis, em Pinheiros, por uma série de extravasores instalados no córrego da Barcelona.
Independentemente do alinhamento político com o governo municipal, a Câmara tem o dever não só de exigir uma solução imediata, mas também de identificar os responsáveis pelos danos causados*. Menos não se espera da Cetesb – que afirmou, em resposta ao portal, ter notificado o Saae a prestar esclarecimentos – e do Ministério Público, por meio da promotoria do Meio Ambiente e do Gaema (Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente).
Por outro lado, antes de encerrar, é preciso deixar registrado um elogio aos funcionários do Saae, cuja coragem de denunciar – mesmo cientes de que podem sofrer retaliações – tornou público um problema gravíssimo, do qual não se tinha conhecimento. Se um dia os drenos forem banidos e os córregos e o rio Sorocaba ficarem livres do esgoto, isso se deverá a estes servidores, que, fazendo valer sua cidadania, recusaram a condição de cúmplices de um crime ambiental.
*Leia, a respeito, notícia sobre pronunciamento do vereador Fernando Dini (MDB) na sessão desta quinta-feira, 3, na Câmara de Sorocaba.
José Carlos Fineis é editor-chefe do Portal Porque