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A missão de Lula vai muito além de bem governar

Que o presidente consiga inspirar e concretizar um projeto solidário de país, como já verbalizou em incontáveis ocasiões e demonstrou perseguir, no ato da posse, com um gesto de forte impacto emocional e simbolismo, ao receber – feliz ideia – a faixa presidencial das mãos de pessoas comuns do povo, dada a ausência de seu infeliz antecessor

José Carlos Fineis* (Portal Porque)

O presidente Lula e a primeira-dama Janja chegam para a posse, no domingo (1): liderança precisa irradiar esperança e inclusão. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Quem trabalha ou trabalhou durante longo período em uma empresa, seja ela pequena ou grande, tenha ela muitos ou poucos funcionários, já deve ter experimentado uma realidade que, com poucas variações, só muda mesmo de endereço: a cada troca de direção, o espírito reinante também se altera.

Não só as decisões objetivas, mas também o comportamento, as atitudes, as palavras, o conjunto de crenças, preconceitos e costumes de quem está no comando têm o poder de influenciar os funcionários, e produzem mudanças por vezes drásticas, para melhor ou para pior, no desempenho da empresa.

O poder irradia e inspira, para o bem ou para o mal. Conforme a personalidade de quem está no comando, empresas com equipes entrosadas e competentes podem, em curto período de tempo, tornar-se ambientes tóxicos, nos quais a bajulação e a fofoca acabam por substituir a cooperação e o profissionalismo.

E assim é, também, com um país. O exemplo, invariavelmente, vem de cima e, de acordo com aquilo que o governante inspira nos cidadãos, tanto é capaz de estimular gestos sublimes quanto, no outro extremo, provocar o que existe de mais grotesco, incivilizado e violento, a ponto de pôr em risco os fundamentos da vida em sociedade.

Desnecessário incomodar o leitor com a lembrança das incontáveis vezes em que, nos últimos quatro anos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) irradiou ideias e sentimentos negativos, inspirando e estimulando a divisão, o preconceito, a intolerância, a crença em ameaças inexistentes, o oportunismo golpista, a negação de tudo o que uma sociedade tem de mais precioso, a começar pela democracia.

Bolsonaro exerceu sua influência odienta e desagregadora com tanto esmero que acabou por ressignificar a palavra ignorância. Sob sua batuta, ignorância deixou de ser o que os dicionários ensinam – falta de conhecimento, instrução ou saber – para tornar-se uma falha moral que se constrói nas pessoas, inoculando-lhes informações e conceitos falsos, incutindo-lhes medos de perigos imaginários, fazendo-as desacreditar de valores e direitos essenciais.

Que essa página triste, vergonhosa, indigna da história brasileira seja virada, com palavras, gestos e atitudes, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por seus ministros, pelos governadores dos Estados, pelos senadores e deputados federais e estaduais que assumem agora.

Se o poder emana do povo, como a própria vontade popular fez inscrever na Constituição, que os bons exemplos emanem dos governantes para o todo da sociedade. Que Lula, especialmente, sobre cujos ombros recaem tantas esperanças, encontre forças e meios – em si e nos que estão a sua volta – para promover e irradiar o bem-estar social e a inclusão. Que consiga inspirar e concretizar um projeto solidário de país, como já verbalizou em incontáveis ocasiões e demonstrou perseguir, no ato da posse, com um gesto de forte impacto emocional e simbolismo, ao receber – feliz ideia – a faixa presidencial das mãos de pessoas comuns do povo, dada a ausência de seu infeliz antecessor.

Neste momento em que o Brasil se vê, por força da vontade legítima das urnas, sob nova direção, só o que se pode desejar é que o presidente Lula exerça com todo o vigor sua capacidade de inspirar um desejo genuíno de reconstrução nacional, de paz, de respeito mútuo e de harmonia – valores de que o Brasil, desorganizado estrutural e psicologicamente por um (des)governo nefasto, tanto necessita para se reconciliar consigo mesmo e com o mundo.

Parafraseando Lula, democracia para sempre! Que os brasileiros tenham, doravante, motivos de sobra para erguer a cabeça, com esperança, dignidade e solidariedade. Que as más influências cessem e deem lugar a um projeto de país justo, igualitário e fraterno. E que as tristes sombras de um passado recente não sejam mais do que referências de todo o mal a ser evitado.

*José Carlos Fineis é editor-chefe do Portal PORQUE

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