
Evento debate a política educacional adotada pelo Governo Tarcísio de Freitas: discussões seguem até domingo. Foto: Reprodução/YouTube
O Engenho Central, em Piracicaba, sedia até este domingo (3), o 27º Congresso da Apeoesp (Associação dos Professores do Estado de São Paulo). O evento, além de tradicional pauta de debates envolvendo questões trabalhistas, reservou um painel dedicado a debater a política educacional do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Intitulado “A luta contra o retrocesso em São Paulo e a defesa intransigente da valorização dos profissionais da educação, na perspectiva da qualidade do ensino”, o painel será realizado neste sábado (2).
O tema foi motivado pela série de medidas do governo Tarcísio de Freitas que já estão mobilizando não apenas os professores, mas também outras representações de servidores como o Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente).
“A direção do Sintaema repudia a medida do governador Tarcísio de Freitas e do secretário que olham para a educação como mercadoria e não como um direito e querem incorporar à educação pública a lógica das empresas privadas focadas na geração de lucro”, diz nota divulgada pela entidade.
As manifestações de repúdio começaram com a recusa do governo Tarcísio de adotar o PNDL (Programa Nacional do Livro Didático) em que São Paulo abriria mão de R$ 120 milhões em livros didáticos doados pelo Governo Federal para os estudantes do Estado.
Na época, o secretário de Educação, Renato Feder, importado do governo direitista do Paraná, argumentou que iria modernizar as ferramentas do aprendizado fornecendo livros digitais para os alunos, uma medida que excluiria estudantes sem acesso à internet ou computador.
Reprovado
Não bastasse a discutível substituição de livros didáticos por cartilhas digitais quando elas foram apresentadas continham erros absurdos em história, biologia, matemática, física e outras matérias. Produzido pela equipe da Seduc (Secretaria de Educação), o material contém seis mil aulas e foi distribuído, em abril, a 5.300 escolas paulistas.
Um dos slides, por exemplo, para alunos do 8º ano do ensino fundamental, informa que a Lei Áurea, criada em 1888, foi assinada por Dom Pedro 2º e não por sua filha, a Princesa Isabel. “Em 1888, Dom Pedro II assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil. No entanto, a insatisfação popular com a monarquia continuou a crescer”, diz o texto.
Em outro conteúdo de história, destinado a estudantes do 9º ano do ensino fundamental, o material digital afirma que, em 1961, Jânio Quadros era prefeito da São Paulo e proibiu o uso de biquíni nas praias da capital paulista, que não tem praias. Na verdade, Jânio Quadros era presidente da República e baixou decreto proibindo o biquíni nas praias de todo o país.
Ainda mais absurdo é um erro de tabuada em aula digital para o 6° ano do ensino fundamental, onde 38 dividido por 9 em vez de 4, aponta 6 como resultado correto.
A montanha de erros prossegue. Alunos do primeiro ano do ensino médio receberam um slide em que a música “É Proibido Proibir”, de Caetano Veloso, um dos hinos contra a ditadura militar brasileira, aparece com uma foto e o nome de outro cantor da época, Geraldo Vandré.
A Secretaria de Educação do Estado já emitiu nota reconhecendo as gafes e prometendo afastar os servidores responsáveis pelos erros, mas o material foi corrigido e deverá continuar sendo empregado, apesar de um relatório elaborado pela Repu (Rede Escola Pública e Universidade) demonstrar que o conteúdo contém problemas metodológicos, erros conceituais e fazem uma má contextualização das informações para os alunos.
O estudo da Repu garante que o material não seria aprovado no processo de avaliação de qualidade usado pelo MEC na escolha dos livros didáticos. Os pesquisadores anotaram erros em todas as disciplinas e em todas as etapas de ensino.