Já com a locomoção debilitada, músico emociona e levanta o público com sua irreverência e versatilidade musical. Foto: Facebook Sesc Pinheiros
Morreu nesta segunda-feira (17) o músico João Donato, aos 88 anos, depois de enfrentar uma série de problemas de saúde. Em maio, ele se apresentou no palco do Sesc Sorocaba, acompanhado de Jards Macalé, naquele que foi o seu último show no Brasil.
Já com a locomoção debilitada, o músico emocionou e levantou o público com sua irreverência e versatilidade. A informação da morte foi confirmada pela assessoria de imprensa do artista e o corpo será velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Um dos principais nomes da música brasileira, Donato esteve nos palcos até o fim de maio, antes de ser internado por 26 dias. Depois da apresentação em Sorocaba, a última no Brasil, fez show no Chile.
Em Sorocaba, para um público que lotou o teatro do Sesc, o músico mostrou o motivo de ser reverenciado por tantas gerações: a visível fragilidade na saúde física destoava da vitalidade ao piano.
Contando histórias e fazendo piadas, tocou e cantou canções consagradas, além do repertório do álbum “Síntese do lance”, em parceria com Jards Macalé, feito durante a pandemia de Covid-19 para celebrar os 60 anos de carreira dos músicos.
“Eu vou sentir muito a falta dele. É só isso que posso dizer no momento”, lamenta o músico Jards Macalé, parceiro de Donato, lembrando que a última apresentação dos dois juntos, com o projeto “Síntese do lance”, foi justamente em Sorocaba. Naquele dia, após o show, Donato ainda atendeu o público, autografando álbuns e posando para fotos, lembranças que, agora, se tornam mais especiais para os fãs.
A sorocabana Maria Fernanda Dordetti, 32, assistiu ao show de João Donato e Jards Macalé duas vezes: a primeira no ano passado, em São Paulo, e a segunda, em maio deste ano, no Sesc Sorocaba. “E fui tiete: tirei foto e peguei autógrafo. Ainda bem. Era incrível ver João ao piano, instrumento que parecia fazer parte dele”, lembra
Maria Fernanda tem como canções preferidas do repertório de Donato “Emoriô” e “Bananeira”, músicas que, além de cantar, o artista ainda contou as histórias por trás das composições. “Que bom viver no mesmo tempo de João, que agora vai cantar com Gal do outro lado.”
Sobre o músico
Multi-instrumentista, João Donato se firmou na música brasileira por sua versatilidade, atuando como compositor, pianista, acordeonista, arranjador e cantor. No ano passado, ele lançou o disco “Serotonina”, primeiro trabalho solo com canções inéditas em 20 anos.
Nascido no Acre, aprendeu a tocar acordeom na infância. Na década de 1940, se mudou para o Rio de Janeiro, onde começou a despontar profissionalmente até se tornar um dos precursores da bossa nova.
Uma de suas músicas mais conhecidas é “Minha Saudade”, que fez em parceria com João Gilberto. A canção fez parte das primeiras apresentações de bossa nova.
Donato também fez parcerias com Gilberto Gil, com as músicas “A Paz” e “Lugar Comum”; com Caetano Veloso com “Surpresa” e ainda com Chico Buarque com a canção “Cadê Você”. Ele se tornou amigo também de nomes como Tom Jobim, Maria Bethânia e Gal Costa.
“Serotonina”, último disco do artista, trouxe dez faixas, com temas escolhidos do acervo histórico do músico, estabelecendo novas parcerias com compositores como a cantora Céu e a forrozeira Anastácia.
João Donato iria se apresentar ao lado de Martinho da Vila, no Coala Festival, em 16 de setembro. O encontro considerado histórico seria uma apresentação inédita entre os dois. Os compositores já se encontraram em ocasiões anteriores e Donato, inclusive, já serviu de inspiração para algumas composições do sambista.
*Com informações da Folhapress
A sorocabana Maria Fernanda Dordetti ao lado do ídolo: foi ao show e ainda ganhou autógrafo. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
