Busca

Time de futebol de pessoas trans lança campanha para representar Sorocaba na Taça da Diversidade

O Mandabuscá Futebol Clube está entre os dez únicos times de atletas trans do Brasil. Sem apoio da Prefeitura, a equipe precisa arrecadar dinheiro para participar do campeonato, no sábado (10), em São Paulo

Maíra Fernandes (Portal Porque)

Para ajudar com o pagamento da locomoção da equipe, que custa R$ 900, o time está recebendo PIX de qualquer valor para a chave (e-mail): timemandabuscafc@gmail.com. Foto: Divulgação

Entre os raros  times de futebol para pessoas trans existentes no Brasil, está o sorocabano Mandabuscá Futebol Clube, nascido há cerca de dois anos e com objetivos que ultrapassam a prática esportiva. Sem nenhum apoio do poder público para subsistência, a agremiação que soma hoje cerca de 20 atletas precisa de ajuda para ir representar a cidade no campeonato Taça da Diversidade, em São Paulo, no sábado (10).

Para ajudar com o pagamento da locomoção da equipe, que custa R$ 900, o time está recebendo PIX de qualquer valor para a chave (e-mail): timemandabuscafc@gmail.com.

Para se ter uma ideia da importância e ineditismo do projeto para a cidade, é importante frisar que o Brasil conta hoje com apenas 10 times formado por esse público; cinco deles no estado de São Paulo, contando com o time de Sorocaba.

Essa será a segunda vez que a equipe sorocabana participa do evento, cujo objetivo é chamar atenção para a falta de diversidade no meio esportivo, por meio do futebol, um dos esportes em que a homofobia se mostra mais forte.

Para combater esse ambiente preconceituoso é que o time Mandabuscá nasceu, em dezembro de 2021 em Sorocaba, pelas mãos de Lucas Almeida, fundador do clube, que joga tanto futebol de campo como futsal e society.

Lucas Almeida, homem trans que já jogava em um time com essa proposta em São Paulo, sentiu falta do esporte quando se mudou para Sorocaba e começou a mobilizar, por meio das redes sociais, outros homens trans interessados em montar um time.

De lá para cá, a equipe foi se modificando, pessoas saindo e outras entrando e, a ideia inicial de ser apenas uma agremiação de homens trans foi se adaptando à demanda e ficando mais inclusiva. “O nosso time nasceu apenas para homens trans e, no decorrer do projeto, outras pessoas trans como não binárias e gênero fluido, começaram a querer fazer parte do coletivo, pois de certa forma se identificava com a nossa luta e também sofria pela mesma questão de exclusão do esporte”, conta Lucca Spinelli, 32, faturista, que começou no time em janeiro de 2022.

 A luta por espaço

Desde que iniciaram o time, eles têm passado por diferentes espaços para os treinos. Atualmente, se reúnem ou em uma quadra pública do Jardim Simus ou em um local anexo à Casa do Idoso. Para eles, é importante a interação com jogadores de orientações sexuais diferentes também para trabalhar a quebra de preconceitos. No entanto, o local ideial para eles seria um espaço fechado e mais seguro, considerando ainda o risco de violência motivado por preconceitos.

Por conta disso, logo no início do projeto, procuraram o município, por meio da Secretaria de Esportes, em busca de ajuda. Como essa não veio, continuaram persistindo de outros modos e com diferentes apoios, como o do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), além da mobilização pelas redes.

O objetivo do time é cada vez mais participar de campeonatos, levar o nome da cidade e agregar mais atletas trans para a equipe.

Kaleb Campos, 37, desempregado e que está no time desde o início, conta que quando se reuniram, por meio da convocação do Lucas nas redes, eram quatro homens trans que também tinham em comum a falta de oportunidades de jogar em times. “No primeiro dia que nos reunimos para jogar bola ficamos em um canto que não era quadra. Então toda hora tínhamos que mandar alguém buscar a bola, e daí nasceu o nome do time”.

Como explica Yan Oliveira, 21, ajudante geral, que está no time desde o ano passado, a vontade do grupo é ter visibilidade para ter mais apoios, como ajuda para participar de campeonatos, espaços para jogar mais seguros, meio de locomoção e também um treinador para os atletas. “Não temos muita renda, para participarmos dos campeonatos fazemos rifas, campanhas…”.

Apesar dos percalços, o objetivo do time é tentar sobreviver, mesmo que, em determinados momentos, precisem arcar com os custos para que o projeto não acabe. “O Mandabuscá não é somente um time de futsal, e sim um grupo de pessoas trans unidas não apenas para a prática de esportes, mas também para a socialização, troca de experiências, roda de conversas, acolhimento… Somos uma família!”, garante Spinelli. “Fiquei encantado com a proposta desse projeto social e, daquele momento em diante, só me passou uma coisa na cabeça: eu preciso fazer parte!”, conta.

Esporte, acolhimento e terapia

Para os atletas, o time representa muito mais do que um clube para a prática do esporte. O projeto também aproxima pessoas que passam por situações físicas e emocionais similares, garante acolhimento, troca de informações, experiências e tem efeito terapêutico para muitos.

Boa parte dos participantes já gostava e jogava futebol antes da transição e, após o processo, a dificuldade – seja por exclusão ou mesmo por medo – era um problema comum entre eles.

“Cada pessoa trans tem suas próprias questões, disforias… Falando por mim, homem trans que durante a minha infância inteira pratiquei esportes, ser obrigado a parar de jogar por circunstâncias da sociedade foi extremamente frustrante. Por isso, ter entrado no time foi absurdamente importante no meu desenvolvimento enquanto homem trans”, conta Lucca Spinelli, reforçando que a prática do esporte traz felicidade, qualidade de vida e eleva sua autoestima.

Yan Oliveira relata que a experiência com a equipe tem sido maravilhosa e refletido na sua saúde física e mental. “O time me trouxe alegria e me mostra que a gente pode ser o que quiser. Somos uma família, há respeito, amizade…”.

Kaleb Campos também evidencia essa característica de acolhimento entre a equipe, pois além de jogar há a troca de conversas, de experiências… “É um encontro lindo e me renova todas às vezes. Encontrar o time para jogar aos domingos me faz começar a semana com mais calma, foco e com a certeza de que eu quero ver as pessoas trans ocupando cada vez mais espaços todos os dias”.

Para conhecer mais sobre o time acesse https://www.instagram.com/mandabuscafc/

mais
sobre
campanha futebol Mandabuscá FC Pessoas Trans Taça da Diversidade
LEIA
+