Simone Guazelli hoje pratica natação e dá aulas da modalidade: também é guarda-vidas no Sesi Votorantim e, após se recuperar do acidente, voltou com tudo ao esporte. Foto: Divulgação
Ela é uma das maiores medalhistas da história do atletismo e do esporte de Votorantim e região. Mas a carreira promissora quase foi ceifada por um grave acidente de moto, que comprometeu a perna direita. A peça que a vida lhe pregou, se para alguns poderia representar o fim de um sonho, para essa guerreira marcou o início de outra brilhante trajetória no desporto. Estamos falando de Simone Guazelli Silva Leonardo, hoje com 39 anos.
Sorocabana de nascença, mas votorantinense de coração, ela fez parte da mais brilhante e vencedora equipe de atletismo da história de Votorantim. Foi descoberta por um dos maiores treinadores de atletismo da região, o professor Luiz Alberto de Camargo, em um trabalho de garimpagem de talentos em escolas estaduais de Votorantim, principalmente na EE Wilson Prestes Miramontes, localizada no Parque Jataí.
Com Simone Guazelli, a equipe de atletismo do Sesi de Votorantim chegou a brigar com Itu pela hegemonia do esporte regional. Ao longo de mais de uma década, conquistou vários títulos, inclusive estaduais e nacionais.
Além de Guazelli – que se especializou nas provas dos 400m, 800m e 1500m, além de provas de pedestrianismo até o terrível acidente –Tatiane Mota (recordista por muito tempo do dardo), Tatiane Jamaica (100m e 200m) e Ramiro Nogueira (destaque na América do Sul) também faziam parte deste trabalho que, infelizmente, não existe mais em Votorantim.
Hoje atleta paraolímpica, Simone Guazelli – que falou com exclusividade ao Portal Porque – ministra palestras para jovens abordando a sua vida e superação. Confira:
Portal Porque – Como você começou no esporte?
Simone Guazelli – Eu nasci em Sorocaba e me mudei para Votorantim. Assim que eu cheguei à cidade, nas aulas de educação física com o professor Luiz Alberto de Camargo [na Escola Wilson Prestes Miramontes], ele me viu praticando as atividades esportivas e me disse que eu tinha jeito para corrida, que eu era ‘cumpridona’. E levou não somente eu, como vários alunos ao Sesi, onde tinha uma equipe de atletismo. Foi assim que o atletismo surgiu na minha vida.
PQ – Você participou de várias provas?
SG – Sim, no atletismo de pista eu fiz diversas provas em Jogos Regionais, Jogos Abertos, no Troféu Brasil fiz 4x100m, corri várias São Silvestres, fiz 3 mil, salto triplo, marcha atlética, 1500m, mas minha especialidade foi os 800m, onde sou até hoje a atual recordista estadual estudantil com a marca de 2m12s. Depois dos 20 anos, eu fiz muitas provas de rua, disputei Joguinhos Abertos, Paulistas, Brasileiros, enfim…
PQ – Mas os 800m era a preferida?
SG – Com certeza. Foi a prova que mais marcou, quebrei o recorde estadual em Presidente Prudente. Também fiz os 4x100m no Troféu Brasil competindo com grandes nomes do país. O atletismo me proporcionou estar junto com atletas de seleção brasileira e de mundiais, além dos Jogos Abertos. Foi uma época de muitas glórias.
PQ – Quem foi sua inspiração no esporte?
SG – Sem dúvida foi a Soraya [Vieira Telles]. Tenho uma grande admiração por ela, com quem tive o privilégio de disputar junto os 800m, 1500m e 5 mil metros em Jogos Regionais, Abertos e provas de rua. Uma atleta que inspira e é um grande ser humano, pois além da estrela que sempre foi no esporte, é uma pessoa maravilhosa, uma pessoa motivadora, inspiradora, uma referência.
PQ – Você foi revelada numa escola pública para o esporte. O caminho ainda é por aí?
SG – Eu acredito que para o esporte de Votorantim e assim como Sorocaba e demais cidades terem grande força é preciso criar esses núcleos nas escolas. As escola é a base do esporte. Sempre foi. Na nossa época, tinha a parceria da Prefeitura com o Sesi. Esse é o caminho.
PQ – Aí você sofreu aquele acidente de moto que mudou sua vida. Como foram esses momentos difíceis? Como você tirou forças naquele momento terrível?
SG – Graças a Deus naquele momento difícil eu tive muita força. Quando eu me acidentei dentro do esporte muitos atletas me visitaram no hospital. Muitas pessoas me deram força: amigos, família. Então isso fez a gente passar por essa fase com um pouco mais de facilidade, com um pouco mais de esperança. Eu ainda acreditei que podia voltar para o esporte. Isso nunca morreu dentro de mim.
PQ – Ao contrário de muita gente que passou pelo mesmo momento, você reagiu e passou a ver o mundo de outra maneira?
SG – O meu acidente só me fez abrir novas oportunidades, me fez conhecer esse mundo que é da AACD, do atleta com deficiência, que é um mundo incrível. Conheci histórias de vidas maravilhosas pelas quais hoje eu agradeço a Deus por fazer parte desse mundo do PCD.
PQ – O interessante é que você se transformou em uma poli-atleta depois de tudo isso.
SG – Com tudo isso que aconteceu na minha vida, eu me vejo melhor do que antes. Agradeço a Deus por ter conhecido o atletismo, por ter feito parte da equipe de atletismo do Sesi de Votorantim, ter conhecido grandes atletas, ter feito parte de uma grande equipe. Também agradeço a Deus pelo meu acidente, por eu hoje ser nadadora paraolímpica, por hoje eu conhecer e conseguir nadar no mar. Por hoje eu conseguir pedalar, por hoje eu conseguir remar. Acredito que tudo na vida tem um propósito e um momento certo. Meu momento no atletismo encerrou como atleta, mas como técnica ainda continua.
PQ – Fale da Simone hoje treinadora.
SG – Eu já dava aulas de atletismo antes do meu acidente. Tinha uma equipe em Mairinque pela qual eu trabalhei oito anos. A gente também teve grandes resultados. Tenho atletas que estão na seleção brasileira. Mas com meu acidente eu parei um tempo. Depois que conheci a natação, retomei como professora de natação para pessoas com deficiência. Hoje sou técnica junto com a Kelly Lúcia da ACD Sorocaba. Além de técnica de natação, também faço parte da equipe do Sesi Votorantim de funcionários, onde sou guarda-vidas.
PQ – Qual a mensagem que você deixa para as pessoas que passaram por essa situação difícil que você venceu?
SG – Eu diria que você é muito mais do que consegue enxergar. O horizonte que você enxerga é um, mas o de Deus é muito maior. Então acredite nisso. Nunca desista de você. Nunca desista dos seus sonhos. Nunca desista de ser feliz. Acredite. Ser feliz é um momento, a tristeza é um momento, mas a vida vale muito a pena. A mensagem que eu gosto muito e que levo pra minha vida é que às vezes Deus acalma o marinheiro. Às vezes Deus acalma o mar e outras vezes ele ensina a nadar. Eu acho que o meu caso foi esse.
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