
Sérgio Kbeça, no centro da foto, é conhecido ainda pelo bom humor, mas ressalta que no trabalho a coisa era séria. Foto: Divulgação
De uma família de Botucatu, mas “sorocabaníssimo” acima de tudo. Se alguém procurar pelo professor Sérgio Antunes de Oliveira certamente pouquíssimos irão saber ou conhecer quem é. No entanto, basta falar “o Kbeça do Sesi” que tudo muda.
Ele é um dos mais queridos e reconhecidos desportistas de Sorocaba. Com estilo despojado, divertido, alegre e de bem com a vida, o professor e hoje dirigente é um dos símbolos importantes do desporto de Sorocaba.
Kbeça é reconhecido como um dos mais competentes treinadores de ginástica artística e de futsal da história do município. Também é reconhecido como gestor esportivo de alta qualidade.
Formado em educação física pela ACM no início da década de 1980, Kbeça se notabilizou por revelar talentos. Prova disso é que lapidou uma das mais brilhantes e vencedoras equipes da ginástica artística da região, no Sesi de Votorantim.
Foi atleta, preparador físico e, de 1996 a 2019, atuou no Sesi Sorocaba como coordenador geral esportes e lazer e como coordenador de qualidade de vida. Hoje, estuda outros projetos na área esportiva e de lazer e, assim, pretende colocar em prática toda experiência e competência adquirida em quatro décadas dedicadas ao desporto. Sobre isso e muito mais, ele fala ao Portal Porque. Confira:
PQ – Fale de suas origens, infância, juventude e do Sérgio antes de se tornar treinador e dirigente.
Kbeça – Minha família é de Botucatu, mas eu sou sorocabano-nato. Minha infância como esportista foi toda desenvolvida no Sesi de Sorocaba e no Colégio Salesiano. Particularmente no Sesi tive a oportunidade de participar das equipes de rendimento na modalidade futsal. Com o fim das equipes de rendimento, em 1975 joguei por dois anos no Ipanema Clube. Em 1977 abandonei o futsal e passei a me dedicar ao futebol no Oratório Salesiano.
PQ – Como surgiu o Sérgio treinador e quando o Sesi apareceu na sua vida? Como foi essa fase inicial como treinador?
Kbeça – O Sesi sempre esteve presente na minha vida como esportista, dos 7 aos 14 anos. Ali pude me desenvolver em todos os esportes e ser voluntario em atividades de lazer. Em 1987, já com 25 anos, surgiu o convite do professor Wilson Mansur para trabalhar no Sesi de Votorantim. O meu início como treinador se deu aos 21 anos com as equipes do Colégio Salesiano. Como professor, notava que entre os alunos havia muitos talentos. A partir disso, resolvi fazer as seletivas e montar as equipes de competição nas modalidades de futsal e futebol. E ganhamos boa parte dos torneios que participamos. Em 1988, já em Votorantim, fui treinador das equipes de futsal, futebol e ginástica artística. Cabe ressaltar que todas com sucesso. A cidade de Votorantim, na minha época, tinha talentos para qualquer modalidade.
PQ – O Sérgio Kbeça sempre foi bem-humorado, mas e na hora do trabalho? Como foi trabalhar com essa nova geração do esporte? Quais foram as atletas que você revelou e te deram orgulho? E os títulos?
Kbeça – Sim, sempre tive um humor até exagerado [risos]. Mas na hora do trabalho sempre levei a sério as diretrizes técnicas e comportamentais exigidas para equipes de rendimento. Quanto a atletas revelados, vou me reservar ao direito de não citar para não esquecer ninguém. No que se refere a títulos, me orgulha um 2º lugar nos Jogos Regionais por Votorantim, na ginástica artística, por se tratar da primeira medalha da cidade nesta modalidade e pelo fato de a equipe ser formada, exclusivamente, por atletas da cidade. No futebol, ser campeão varzeano sub-15 com a equipe de futebol do Sesi de Votorantim e um sexto lugar na final do Campeonato Estadual de Futebol, em Ourinhos, também são outros destaques.
PQ – Foram muitos anos como treinador, mas você tem uma passagem brilhante no futsal, além de outras modalidades. Fale das alegrias e tristezas.
Kbeça – No total trabalhei por 15 anos como treinador de equipes. Entre 1983 e 1988 fui ainda preparador físico da Seleção Sorocabana de Futsal nos Jogos Abertos e nos Jogos Regionais. Fui preparador físico das equipes da Roca, do Neobor [Porto Feliz] e Tejusa [Indaiatuba] nas disputas do Campeonato Paulista de Futsal. Enquanto treinador, só tive alegrias. Tive o prazer de trabalhar com os melhores seres humanos [atletas e pais]. A minha maior tristeza foi o fim da equipe de ginástica artística em Votorantim.
PQ – Você define o Sesi como um grande formador de talentos?
Kbeça – Sim. O Sesi tem os melhores recursos físicos e metodologias assertivas.
PQ – Bom, depois de um período como técnico, você assumiu o cargo de coordenador do Sesi. Como foi isso e como você encarou esse desafio, passando a gerir uma estrutura gigante como o Sesi Votorantim e Sorocaba?
Kbeça – Esse foi um desafio interessante [assumir a coordenadoria do Sesi]. Pude colocar em prática tudo que aprendi e vivenciei como atleta, voluntario e professor. Fiquei 23 anos na função.
PQ – O que falta para o Brasil ser uma potência no esporte? O que tem de ser melhorado independente de governo, ideologia ou partido?
Kbeça – Para ser potência no esporte o Brasil já tem o mais difícil, que são os talentos, mas não creio que tão já o Brasil não se torne essa potência. O esporte por aqui nunca teve o tratamento que merece. É raro ver em nível estadual, municipal e federal pessoas do esporte ocupando cargos de liderança e tendo autonomia para decidir. Fora isso, os orçamentos para o esporte são patéticos.
PQ – O que seria necessário fazer para começar a mudar esse quadro no Brasil?
Kbeça – Creio que para começarmos a pleitear um posto entre as nações desenvolvidas no esporte, temos que pela ordem: 1 – nomear para cargos no esporte pessoas do esporte com competência para liderar, pois hoje as indicações são políticas; 2 – dotar a pasta de um orçamento digno. Há de se ter como filosofia que mais gastos no esporte significa menos gastos com saúde; 3 – tudo começa na escola, então o esporte escolar e suas competições devem ser prioridades. Para isso, seria necessário equipar as escolas, repensar o modelo de educação física e promover competições organizadas.
PQ – Qual é o recado que o Kbeça deixa para a garotada que quer praticar esporte ainda neste Brasil atual da internet e muito ligado em rede social e celular?
Kbeça – Já está comprovado que quem prática esporte é melhor no raciocínio, controla melhor as emoções, além claro de ter uma saúde melhor. É importante que a garotada comece a se mexer agora antes que seja obrigada por ordem médica no futuro.
PQ – Hoje o que faz o Sérgio? Quais projetos, metas e legado no esporte?
Kbeça – Atualmente estou aposentado e estudando algumas propostas para voltar a trabalhar. Queria lembrar que tivemos no Sesi professores altamente competentes e que trabalharam conosco. Grandes profissionais que estão fazendo sucesso no campo da educação física no Estado e no Brasil. Ainda tenho vários projetos e ideias para o esporte, lazer e qualidade de vida. Estamos estudando qual é o melhor caminho para darmos sequência.
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*Rivail Oliveira é jornalista esportivo, radialista e colaborador do Portal Porque

Kbeça enquanto técnico de futsal: ele também foi preparador físico e atuou em diversas modalidades. Foto: Divulgação