
Aos 59 anos, Clóvis é treinador nível 4 pela Confederação Brasileira de Voleibol e possui diversas graduações e especializações no desporto. Foto: Divulgação
Nas últimas décadas, quando se fala em vôlei em Sorocaba, o nome mais lembrado é o de Clóvis Antonio Granado. É ele quem está à frente de um projeto que visa fortalecer e retomar um projeto que obteve muito sucesso, na década de 1990, com a extinta equipe do Leites Nestlé.
Naquela época, grandes jogadoras do cenário nacional e internacional defenderam a cidade nas mais diversas competições. Entre elas, Ana Moser (hoje ministra dos Esportes no Governo Lula), Fernanda Venturini, Cilene, Filó, Ida, entre outras.
A ideia de Clóvis Granado, com muito empenho e com o auxílio de apoiadores e do amigo e parceiro Douglas Santa Anna, é fazer com que o vôlei feminino de Sorocaba volte a ser destaque no cenário nacional. Para tanto, ele se dedica ao projeto Renasce Sorocaba/Sesi.
Mas quem é Clóvis Granado?
Servidor público municipal concursado, Clóvis Granado é pai de Vanessa, hoje especializada na área de nutrição, e casado há quase 40 anos com Mônica. Aos 59 anos de idade, é treinador nível 4 pela CBV (Confederação Brasileira de Voleibol) e possui diversas graduações e especializações no desporto.
Os títulos são muitos: hexacampeão estadual infanto, campeão com a PUC em Sorocaba, tetra juvenil, principal, da Divisão Especial, octacampeão dos Jogos Regionais, bicampeão brasileiro infanto, campeão brasileiro de seleções de base, sem contar as conquistas do Paulista, Jogos Abertos do Interior e os que ele ganhou na passagem pelo Kuwait e Emirados Árabes.
No entanto, a paixão de Clóvis Granado pelo vôlei é de longa data. Nos início dos anos 1980, por exemplo, na chamada “era romântica da modalidade”, onde ainda se usava uma bola branca da marca Drible, ele jogou como levantador da Seleção de Sorocaba.
Já na função de treinador, idealizou times que foram campeões em Sorocaba, como o Sesi e o Objetivo, por exemplo. Atualmente, Clóvis também é instrutor da CBV e do Conselho Nacional de Treinadores. Assim, ministra aulas para técnicos nos níveis 1, 2 e 3.
Fora das quadras, trabalhou em vários projetos sobre vôlei como no Suzano e fez história no Oriente Médio. Desde 2021, é técnico do Renasce Sorocaba/Sesi. Neste ano, a equipe vai disputar a elite do vôlei do Estado. Sobre isso e mais assuntos, Clóvis Granado concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal Porque. Confira:
Portal Porque – Como foi seu início no voleibol. Era muito difícil?
Clóvis Granado – Eu comecei a jogar em Sorocaba quando tinha 17 anos. Era outra realidade [início da década de 1980] e nós treinávamos com o Guerra que foi dos mais destacados treinadores da modalidade na cidade. Para vocês terem ideia, por questões de horário a gente treinava de onze da noite até uma e meia da madrugada. A gente tinha que pagar tudo: transporte, fazer rifa para comprar bola, para comprar uniforme, não tinha dinheiro para nada. Joguei pouco mais de dois anos e comecei a trabalhar com meu pai porque só dava gasto, mas meu sonho sempre foi trabalhar com voleibol.
PP – E depois? Qual foi seu primeiro time?
CG – Na verdade eu já queria trabalhar com voleibol. Eu fiz um dos cursos nacionais da CBV para treinadores. Tive de buscar o meu caminho, enfrentar, vencer as dificuldades e correr atrás do meu sonho de montar uma equipe de voleibol aqui em Sorocaba. O primeiro time que montamos em Sorocaba [masculino], foi o Sesi em 1989. Disputamos o Campeonato Paulista. Depois fui para Mairinque, Itapeva, Capão Bonito e voltei para Sorocaba em 1993, quando iniciamos o projeto no Objetivo [Colégio]. Foi um grande período, onde jogamos o Paulista de 1993, 94 e 95 quando fomos vice-campeões estaduais. Em 1997, fomos campeões estaduais ganhando do Suzano a final. Antes já tínhamos ganhado em Sorocaba vários títulos nas categorias de base, Jogos Regionais etc.
PP – A partir daí o projeto decolou?
CG – Sim, a partir daí começamos a trabalhar num projeto-escola no vôlei masculino, pensando numa estrutura melhor, planejamento com tudo que o atleta precisa. Ficamos no Objetivo até 2004 onde ganhamos tudo que era possível: Paulista, Brasileiro, fomos tri do Jogos Abertos, ganhamos inúmeros Regionais, representamos o Estado no Brasileiro e fomos campeões. Mas o projeto do Objetivo terminou em 2004 e dei uma parada como treinador, atuando como supervisor. Fui para Suzano e, em 2007, ajudamos no projeto de levar o time para a Divisão Especial. Na Ulbra atuamos como supervisor, jogamos a Superliga e o Especial Paulista até 2007.
PP – Como você foi parar no exterior?
CG – Depois que saí da Ulbra, parei um tempo para estudar e aprender e me aperfeiçoar no vôlei, que já vinha mudando. Só retornei em 2013, quando tive um convite para trabalhar no Oriente Médio. E acabei indo para o Kuwait. De lá fui para o time de Doha [Catar] e depois trabalhei no Al Jazzera e em Dubai [Emirados Árabes] onde fiquei até 2019. Foram sete anos de muito aprendizado. Disputei e fui campeão em vários campeonatos na Ásia.
PP – E voltou ao Brasil depois disso?
CG – Sim. Aí veio a pandemia em 2019. Depois desse período e a partir de 2021 iniciamos esse grande projeto e parceria com o Sesi, do time Renasce Voleibol/Sesi/Prefeitura de Sorocaba. Um projeto que já começa a dar frutos e, neste ano, Sorocaba joga a elite do voleibol paulista depois de muitos anos.
PP – Voltando à experiência no Oriente Médio, tem muitas histórias e curiosidades e adaptações. Como foi esse período?
CG – Foi uma grande experiência. Não somente esportiva, mas cultural, aprendendo no dia a dia com a convivência de costumes, a rica cultura deles, conhecendo a religião e outra forma de vida. E tivemos de nos adaptar [se referindo a ele e a esposa]. No voleibol, para vocês terem ideia, o capitão do time é sempre o mais velho. Na rotina de treinos, a folga é sexta e sábado – o domingo é um dia normal de trabalho. Tem a questão que todos sabem que as mulheres não podem usar roupas com decote, é proibido o consumo de bebidas alcoólicas etc. Há uma rigidez muito grande. Uma vez eu e minha esposa estávamos apenas conversando numa praça e uma pessoa [segurança] veio perguntar se éramos irmãos. Mas tem ainda o aspecto da saudade. No Brasil sempre fui muito sociável. É difícil ficar longe de familiares, pai e mãe, amigos. Lá nós conhecemos três ou quatro casais de brasileiros que ficamos amigos e sempre nos reuníamos às sextas-feiras. Enfim, são situações que você tem de se acostumar quando vai trabalhar tão longe. Mas que vale a pena pela experiência.
PP – Quais seus ídolos no voleibol?
CG – Como jogador e na minha posição sempre admirei o Nalbert, o Giovani e o Maurício, um levantador que modificou o voleibol brasileiro na posição, no aspecto velocidade do jogo. Nunca tivemos ponteiros altos e hoje a gente tem. Em relação aos treinadores, meus espelhos são o argentino Júlio Velasco e o Zé Roberto Guimarães que é um símbolo para todos nós.
PP – Como é fazer esporte no Brasil?
CG – Olha, fazer esporte no Brasil não é fácil. Nos Estados Unidos o esporte está nas universidades que dão todo apoio. Na Rússia e na China é o Governo Federal quem banca tudo. No Brasil, estamos ainda na época do patrocínio e nas pessoas. Para vocês terem ideia, em Sorocaba temos modalidades que se determinada pessoa sair o esporte acaba, infelizmente.
PP – E o novo projeto Renascer/Sesi?
CG – É sempre difícil montar um projeto do time [Renascer/Sesi], mas com o apoio de todos, tudo vem dando certo. Tínhamos três quadras com piso flutuante, da Escola Portal, Ginásio Municipal e do Sesi Mangal. Fechamos uma ótima parceria com o Sesi que nos ajuda e nos dá condição de mandar jogo no seu ginásio que é excelente. Nosso time foi montado através da credibilidade. Por pessoas que acreditam no esporte e no projeto. Gostamos de trabalhar com profissionais com experiência: preparador físico, psicólogo, nutrólogo e uma ótima comissão técnica muito específica.
PP – E os resultados já começaram a vir?
CG – Sim, conseguimos já no primeiro ano ser campeões da Copa da Retomada, dos Jogos Regionais e Jogos Abertos. E, principalmente, conseguimos vaga para Divisão Especial e estamos na elite do voleibol. É um trabalho de equipe, atletas, comissão técnica, patrocinadores, apoiadores, torcida. Temos a imprensa que vem divulgando bastante e devemos agradecer. É um projeto que tem tudo para crescer ainda mais e quem sabe no futuro jogar uma Superliga. Hoje temos mais de 22 mil seguidores no Instagram. Só pedimos que continuem acreditando no projeto e no voleibol de Sorocaba.