
Corpo é velado até as 10h desta terça-feira (3) e será enterrado Memorial Necrópole Ecumênica. Foto: Carlos Lara
Comecei a me apaixonar pelo futebol quando tinha seis anos de idade. Foi um tio-avô que fez despertar em mim esse amor que trago até os dias de hoje. Na época, ele era goleiro do Casi, o Clube Atlético Sorocabano de Itapetininga, cidade onde nasci e morei por um tempo. Aquele uniforme todo cinza que os goleiros usavam na época foi o que mais chamou a minha atenção.
Em 1970, já com 10 anos, meu pai me levou pela primeira vez ao Morumbi. Na ocasião, o São Paulo já era campeão paulista e faria o jogo de entrega das faixas contra o rival Corinthians. Deu Tricolor, 1 a 0, com gol do Paraná.
Ainda em Itapetininga, comecei a torcer pelo São Bento, time profissional mais próximo da minha cidade. Em 1972, quando vim morar em Sorocaba, aí sim não saia mais do Estádio Humberto Reale vendo treinos e jogos. Muitas vezes, sem a companhia do meu pai, me passava por filho de um estranho qualquer apenas para poder entrar e assistir as partidas.
Trago comigo uma frustração: eu nunca vi o Pelé jogar. Claro que acompanhei alguns jogos pela televisão, inclusive a Copa de 1970, a primeira televisionada, onde a seleção brasileira conquistou o tricampeonato mundial do México, a posse definitiva da Taça Jules Rimet e Pelé simplesmente encantou. Um verdadeiro momento mágico.
Já estava em Santos, ao lado da minha esposa, quando soubemos da morte de Pelé. Descemos ao litoral, como fazemos com frequência, para passar o Natal. Deveríamos ter retornado a Sorocaba antes, mas a notícia de que o Rei do Futebol seria velado na Vila Belmiro, estádio que o apresentou ao mundo, nos convenceu a ficar por mais alguns dias.
Exatamente às 12h30 desta segunda-feira (2) resolvemos encarar a quilométrica fila que nos levava para o último adeus àquele que, sem sombra de dúvidas, ficará eternizado no futebol como o melhor de todos os tempos.
Em duas horas, estávamos ao lado do caixão. Não vimos o tempo passar, pois minha esposa e eu, ainda na gigantesca fila, ouvimos diversas histórias sobre os feitos de Pelé em campo. Ali estavam torcedores de todos os times, pessoas de várias partes do Brasil e de outros países. Entre eles, um mexicano muito simpático. Minha mulher até entrevista deu a uma emissora de tevê da Austrália. Eles queriam entender o porquê deste ufanismo em torno de Pelé.
O que vimos ainda, no entorno da Vila Belmiro, eram casas, principalmente os sobrados, decorados com bandeirões que faziam alguma alusão ao Rei do Futebol. Na última vez que Pelé entrou em campo – sem vida sim, é verdade – eu estava lá para reverenciá-lo. Viva o Rei Pelé!
*Carlos Lara é jornalista, ex-assessor de imprensa de clubes de futebol e vôlei feminino e um apaixonado pelo esporte

Milhares de pessoas encaram a longa fila para homenagear o maior jogador de todos os tempos. Foto: Carlos Lara