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Sorocabanos recorrem a bicos como alternativa para complementar a renda

De acordo com pesquisa da Ipec, essa é a realidade de 45% dos brasileiros. Recessão e pandemia de covid-19 contribuíram para a piora na economia do País nos últimos anos

Maiara Beatriz

Para fechar as contas no fim do mês, os sorocabanos têm procurado alternativas para conseguir uma renda extra, e os chamados bicos são uma das formas de melhorar a vida financeira. Essa realidade, no entanto, não é exclusividade de Sorocaba. De acordo com a pesquisa realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) e divulgada na semana passada, 45% dos brasileiros, com 16 anos ou mais, precisaram fazer bicos para ter uma renda adicional nos últimos 12 meses.

Para Marcos Antônio Canhada, professor de economia da Universidade de Sorocaba (Uniso), o Brasil vem experimentando anos de dificuldades econômicas, agravados pela recessão de 2015 e 2016, assim como pela pandemia da covid-19, e esse cenário resultou na diminuição de renda dos trabalhadores e das ofertas de empregos formais. Para sobreviver, a população precisou recorrer a trabalhos extras, explica o professor.

Não são poucos os casos que reforçam o resultado da pesquisa e a afirmação de Canhada. Renata Rocha, por exemplo, é publicitária e, para ter uma renda extra, presta serviços como fotógrafa e vende ímãs de geladeira descontraídos e politizados. Ela relata que, nos meses em que tem mais eventos, as atividades extras chegam a compor 30% de sua renda mensal. No entanto, com a pandemia, foi difícil conseguir atuar como fotógrafa, o que prejudicou sua vida financeira. “Na pandemia, o extra de fotografia foi altamente afetado e, agora, com essa inflação, só o salário base não dá conta das despesas fixas”, conta Renata, que teve carro roubado recentemente e também precisou entrar em um financiamento imobiliário. “Agora estou tentando correr atrás do prejuízo e me equilibrar financeiramente”, relata.

Renda complementar

De acordo com a pesquisa do Ipec, a população com até um salário mínimo de renda mensal foi a que mais precisou realizar atividades extras. Um total de 33% dos bicos informados pelos entrevistados está relacionado a serviços como manutenção, beleza, faxina, aulas particulares, cuidado com idosos e animais. Outros 28% relataram ter recorrido as vendas de mercadorias, alimentos preparados em casa, objetos artesanais confeccionados manualmente, roupas e artigos usados, produtos de beleza ou gerais, para venda em comércio ambulante. Alguns informaram ainda fazer mais de uma destas atividades como complemento de renda.

A necessidade da renda extra está cada vez mais presente nas casas dos sorocabanos; em alguns casos, toda a família se submete a alguma atividade alternativa complementar, como na família de Terezinha de Jesus Faria Fagian, 58. Ela trabalha em uma empresa de embalagens plásticas como encarregada de limpeza, e começou a vender cosméticos por meio de catálogos, em um primeiro momento, por curiosidade. No entanto, as vendas foram crescendo e, hoje, são uma parte importante de sua renda. A maior parte de seus parentes também precisou recorrer a atividades extras.

Jéssica Cristina Faria Fagian, 30, filha de Terezinha, começou a vender doces em 2017, pois estava desempregada. Mesmo tendo certa afinidade com os preparos, surgiram dificuldades, “Eu sempre fiz alguma coisa, mas eram doces genéricos que fazia para comer em casa. Quando eu decidi fazer para vender foi tudo do zero, não sabia nem como embalar, qual tipo de embalagem deveria usar, não sabia as quantidades necessárias”, conta. Hoje, ela trabalha como técnica de engenharia civil, em uma empresa de engenharia e saneamento, mas continua com as vendas, que equivalem a 20% de sua renda total. Para ela, a renda extra é uma oportunidade de juntar dinheiro para comprar um carro e uma casa própria. Do mesmo modo, ter um pouco mais de qualidade de vida.

Seu irmão, Celso Luiz Faria Fagian, 36, também vive essa realidade. Ele é técnico em manutenção e faz bicos como eletricista residencial. “Comecei a trabalhar como eletricista residencial quando fiquei desempregado, há uns oito anos. Depois voltei a ter registro em carteira e continuei com a elétrica para complementar a renda”, conta. Mesmo a renda extra não passando de 15%, ele prefere continuar a fazer bicos como uma forma de segurança financeira, devido à instabilidade econômica do País. “Trabalho mais para manter os clientes, para caso eu precise de novo, ainda tenho contato com eles”, relata.

Bom de um lado, ruim do outro

A necessidade da renda extra, que é um modo de o trabalhador garantir um orçamento mais compatível com suas necessidade, pode ser interessante para a pessoa, no entanto, este cenário afeta o município, principalmente, no aspecto tributário, alerta Canhada. “Nas atividades informais, tributos deixam de ser arrecadados, tributos estes que são essenciais para prover benefícios para a sociedade: saúde, educação e segurança.” Além disso, no âmbito individual, as pessoas ficam privadas de benefícios sociais, entre eles: fundo de garantia, previdência social, décimo-terceiro e férias.

“Portanto, de forma geral, a atividade informal não é boa para a população, mas é uma alternativa, para enfrentar momentos de dificuldade econômica”, afirma o professor Marcos Antônio Canhada.
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