
Brasil tem a maior taxa real do mundo: são 5,75% de inflação para os 13,75% da Selic, o que representa 8% de juros reais. Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil
O cenário é de críticas por todos os lados depois que o BC (Banco Central) decidiu manter a Taxa Selic em 13,75% ao ano. O comunicado do Copom (Comitê de Política Monetário), órgão do BC que define a taxa básica de juros, foi divulgado na quarta-feira (22).
A alta na taxa Selic se mantém desde agosto do ano passado, quando o Copom elevou os juros de 13,25% para o percentual confirmado na quarta-feira. O Brasil tem a maior taxa real do mundo: são 5,75% de inflação para os 13,75% da Selic, o que representa 6,94% de juros reais.
Por aqui também não faltaram críticas. O presidente do SMetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região), Leandro Soares, por exemplo, avalia a decisão do BC como preocupante. “Juros altos afastam os investidores – seja nacional ou internacional – que não estão dispostos a correr riscos investindo no setor produtivo. Tudo faz com a economia do Brasil caminhe ladeira abaixo e o resultado é sempre o mesmo: desemprego, miséria e fome.”
O sindicalista também alerta que a indústria local pode sofrer impactos. Ele cita como exemplo que diversas montadoras colocaram os trabalhadores em férias coletivas por conta da alta nos juros. “A taxa Selic impacta diretamente no crédito para compra de automóveis, uma vez que 75% das vendas dependem de financiamento”, diz. “Isso gera uma reação em cadeia, afeta inúmeras outras empresas que fornecem para as montadoras. Não podemos descartar que essa situação se repita nas empresas de Sorocaba e região.”
Ciesp Sorocaba
O diretor-titular da Regional Sorocaba do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Erly Domingues de Syllos, também definiu a manutenção da Selic no atual patamar como preocupante e contrária ao que o setor industrial estava esperando. “Todos aguardavam com bastante expectativa o anúncio da nova taxa e essa decisão do Copom de manter altas taxas de juros prejudicam os investimentos da indústria brasileira”, explica.
Erly destaca ainda que “a variação do juro está atrelada ao desempenho das contas públicas. É importante que sigamos conquistando superávit primário para reduzir pressões inflacionárias e possibilitar a redução dos juros. Isso é crucial para estimular a economia”.
Ele completa que é preciso uma “boa convivência do Governo Federal com o Banco Central independente, uma vez que nessa relação não pode existir qualquer viés político, devendo prevalecer o interesse maior dos brasileiros, cujas prioridades são o crescimento do PIB, mais investimentos e criação de empregos”.
Sobre os impactos para as empresas locais, Erly diz que os índices de empregabilidade e exportação de Sorocaba e região são considerados ótimos, mas alerta para necessidade de várias medidas fundamentais para a indústria, entre elas, a reforma tributária.
Risco de desemprego
O economista Fernando Lima, da subseção do Dieese do SMetal, também aponta que a decisão do Copom é ruim para a economia. “Independentemente da magnitude da queda da taxa Selic, os membros do Copom perderam a chance de contribuir para a recuperação da atividade econômica brasileira”, afirma. “Assim como o corpo humano, quando um médico erra na dose do remédio, isso pode levar à morte, o BC hoje errou na dose e essa dose é de um remédio amargo, que pode contribuir ainda mais para desaquecer a economia e aumentar o desemprego.”
Nacional
Em nota divulgada na noite de quarta-feira (22) a CNI (Confederação Nacional da Indústria) afirmou que a “decisão do Copom é equivocada”. A entidade afirmou que “a manutenção da taxa de juros é, neste momento, desnecessária para o combate à inflação e apenas traz custos adicionais para a atividade econômica”.
Para a CNI, a alta da Selic “foi um dos fatores determinantes para a desaceleração da atividade econômica no fim de 2022, com destaque para a retração de 0,2% no PIB do último trimestre. E seguirá sendo um limitador significativo para o crescimento da atividade em 2023”.
O que disse o Copom
Os membros do Copom usaram como justificativa para manutenção da Selic no atual patamar a “deterioração do ambiente internacional”, especialmente pelos problemas com os bancos nos Estados Unidos e na Europa, além da inflação em alta na maioria dos países.
Considerando o cenário brasileiro, o BC aponta para desaceleração da atividade econômica, com a inflação ainda acima do teto da meta, e incertezas com relação às medidas econômicas que ainda devem ser anunciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.