
Conhecido por sua assinatura misteriosa nos muros, Valtinho da 2 hoje usa o tempo que sobra de suas atividades profissionais para grafitar. Foto: Fernanda Ikedo

Além do grafite, Valtinho da 2 também pinta em telas, que vende em eventos artísticos como a Feira do Beco do Inferno. Foto: Fernanda Ikedo
Quando chegou em Sorocaba em 2007, Valter Luiz de Souza já era muito conhecido como Valtinho da rua 2 do bairro Jardim Miriam, em São Paulo. A rua onde morava ficava três pontos de ônibus para baixo de Diadema.
O primeiro trabalho de Valtinho, por aqui, foi em abril de 2007, na construção do campus Sorocaba da UFSCar. Ele trabalhou quatro meses como pedreiro e nove meses como pintor. Após o dia de trabalho, Valtinho entregava currículos para atuar na área da saúde, como auxiliar de enfermagem.
A conversa com Valtinho, hoje com 50 anos, aconteceu recentemente, durante evento sobre saúde mental promovido pelo Fórum de Luta Antimanicomial (Flamas) com o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba (SMetal).
Com quadros expostos para comercialização, Valtinho a todo momento era chamado por alguém para uma foto e sempre com a pergunta inicial: “Você que é o Valtinho da 2”? Mistura de honra e oportunidade por conhecer uma celebridade dos muros de todas as partes da cidade.
Tem camiseta à venda com sua assinatura, além dos quadros e das pinturas que faz sob encomenda, em paredes residenciais e de entidades.
Mas Valtinho, além de grafiteiro, é técnico de enfermagem do Centro de Assistência Psicossocial (Caps) Viver em Liberdade. Seu primeiro emprego na saúde foi na clínica psiquiátrica de Salto de Pirapora, que ficava ao lado do hospital psiquiátrico Santa Cruz. Depois, atuou no hospital Vera Cruz e no Jardim das Acácias.
Ele presenciou e acompanhou o histórico dos hospitais psiquiátricos e a desinstitucionalização, após o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado perante o Ministério Público devido à luta do Flamas e às pesquisas do professor da UFSCar Marcos Garcia.
Além do Caps, Valtinho também trabalha numa entidade de acolhimento infanto-juvenil. Tempo para grafitar? Sobra pouco, ele diz. Mas qualquer brecha é bem aproveitada. Como a Feira do Beco do Inferno, realizada na Praça Frei Baraúna, onde ele pode ser encontrado.
Alto, magro e com um jeito tímido, Valtinho lida bem com as abordagens para foto e as perguntas curiosas. O grafite surgiu depois de ter visto um rapaz na avenida Rebouças, em 1990. Ele, que é fruto dos movimentos de pichação do final da década de 80, se encantou pela arte e hoje anda com stencil debaixo do braço para grafitar.
Empolgação e adrenalina é o que move Valtinho da 2 nas ruas. Muitas lendas giraram em torno dele. “Falavam que onde tava assinado Valtinho da 2 era lugar de criminoso. Depois, chegaram a falar que eu era um criminoso do Rio de Janeiro”, conta.
Em 2013, o artista teve que pagar nove cestas básicas após ter ido parar na delegacia por conta de uma pichação em uma fábrica abandonada. “Nunca faço em muro residencial, sempre em muros abandonados”, explica.
Antes, nos muros, só tinha a assinatura que todos já devem ter visto um dia. Hoje, na maioria das vezes, a assinatura vai embaixo de um grafite. “Levo tempo para fazer um stencil, mas depois, pra fazer a pintura, é mais prático”, conta.
Valtinho da 2 não é mais uma lenda. É um artista que expõe suas artes em praça pública.