A edição de agosto da Feira do Beco do Inferno, que ocorreria no domingo, 14, na praça Frei Baraúna, está cancelada. De acordo com a organização, houve um boicote, por parte da Prefeitura de Sorocaba, com burocracias e argumentações infundadas para impedir a realização do evento que já está com a programação pronta e mais de 140 expositores agendados.
Por segurança e para garantir que não haja prejuízo, foi sugerido uma nova data para a realização, provavelmente em 11 de setembro. “A Prefeitura está boicotando a feira, e já pediram para cancelar essa edição pronta, mesmo com a autorização da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Turismo (Sedettur)”, reclamou Flávia Aguilera, expositora e organizadora do evento.
De acordo com ela, em março deste ano, os organizadores receberam autorização da Sedettur liberando a realização da feira em todas as datas apresentadas, até o mês de dezembro. No entanto, no último dia 21, a Prefeitura enviou um e-mail solicitando a mudança do evento do dia 14 para uma nova data, alegando que o motivo do cancelamento seria o desfile cívico de aniversário da cidade, que ocorrerá um dia antes, em 13 de agosto. “Mas o desfile acontece um dia antes e nem passa pela praça Frei Baraúna. O evento não atrapalharia em nada”, contestou Flávia.
Mesmo com tudo programado, taxas pagas e expositores inscritos, a opção foi por mudar a data para o dia 11 de setembro, por medo de alguma ação de remoção prejudicar os participantes, principalmente aqueles feirantes que comercializam comida, que poderiam perder seus produtos e ter prejuízos. “A feira é uma manifestação cultural, é um modo de complementar a renda dessas pessoas, já que a situação está calamitosa”, diz a organizadora.
EXIGÊNCIAS ABSURDAS
Não é de hoje que os organizadores do evento vêm sofrendo para convencer a Prefeitura a autorizar a realização da feira. Depois da pandemia, começaram as tratativas com a Secretaria de Cultura (Secult), que acreditavam ser a responsável por esse tipo de manifestação. Ao ouvirem de Luiz Antonio Zamuner, titular da Secult, que o assunto não era da alçada da cultura e sim da Sedettur, engoliram o susto e iniciaram as tratativas para a obtenção da licença. Esta, foi obtida em março, a tempo de realizar a edição de junho e programar as demais, bimestralmente, até o fim deste ano, após cumprirem as exigências previstas, como o preenchimento de fichas com os dados de todos os expositores, e um outro cadastro presencial para os feirantes de alimentos, realizado por todos, presencialmente, na Uniten.
Cumprido esse processo, e uma semana antes do retorno da feira, os organizadores contam que receberam outra solicitação do Poder Público, mas desta vez da Secretaria de Licenciamento e Urbanismo (Seurb), exigindo 24 documentações como laudos técnicos de engenheiros sobre segurança de estrutura e som. “Pediram 24 documentos absurdos, como se nós fossemos fazer o Rock’n’Rio em Sorocaba”, contou Flávia, lembrando que a estrutura de som usada são duas caixas de som e, a maioria dos shows é no formato acústico; bem como a estrutura dos expositores compreende algumas tendas pequenas e mesas e outros objetos que levam de suas próprias casas. “Depois que aconteceu a feira, que foi sucesso total, a Seurb mandou outro e-mail e disseram que não adiantava só o cadastro da Sedettur, e que estavam aguardando os documentos que haviam pedido. Não respondemos, em nenhuma outra feira em Sorocaba são exigidos esses documentos.”
A PRAÇA NÃO É DO POVO!
Para os organizadores, é claro que houve boicote ao evento. Ao manifestarem a decisão da Prefeitura em um grupo de WhatsApp de artistas, a opinião foi a mesma. Além de perseguição política, acredita-se que exista um desconforto no Poder Público sorocabano, causado pelo nome da feira, que remonta ao nome histórido da rua onde o evento começou há seis anos (rua Leite Penteado, antigo Beco do Inferno), e que pode não agradar a um governo autodeclarado “cristão”.
Para cobrar do prefeito Rodrigo Manga uma posição, artistas e simpatizantes foram ao Instagram de Manga nesta tarde e pediram satisfações por meio das hashtags #ChegaDeBoicote e #FeiraDoBecoDoInferno. “Queremos a feira do Beco! Evento cultural, gratuito com diversos pequenos expositores locais que já estão há tempo se preparando! @rodrigomangaoficial para q o boicote?”, questionou uma internauta.
O cancelamento, pontuou Flávia, desconsidera o trabalho adiantado dos organizadores, que já divulgaram, selecionaram 147 expositores, pagaram taxas e serviços, e já haviam acertado a presença de 30 indígenas de Tapiraí para uma apresentação e roda de conversa, bem como os quilombolas do Cafundó, que participariam com shows de batuques e umbigada no evento. “A feira é uma manifestação cultural, mas, para o governo Manga, a praça não é do povo, é de quem tem CNPJ, e CNPJ forte, para poder pagar todos os laudos e documentos solicitados”, sentencia.