Os números, mesmo sendo grandiosos, não dimensionam o universo cultural cuja existência foi possibilitada ao longo de mais de uma década, com a execução dos projetos culturais realizados pela MdA International em Sorocaba. Mas os números estão aí – mais de 500 apresentações artísticas das mais variadas linguagens; cerca de 200 ações pedagógicas; mais de 50 projetos culturais viabilizados – e tornam ainda mais difícil de aceitar o anúncio feito por Marco de Almeida, produtor cultural e diretor responsável da empresa. Na quarta-feira, 26, ele postou uma nota em sua rede social anunciando que as temporadas de Música Clássica e Música Brasileira não serão realizadas neste ano em Sorocaba, após 15 anos ininterruptos de programação.
Em seu post, Marco defende a pausa para uma reestruturação dos projetos. No entanto, para bom entendedor, fica claro que o atual cenário político no País e em Sorocaba, conservador e sem responsabilidade com o desenvolvimento de uma política pública cultural séria, tem boa parcela de culpa nessa decisão. “Eu não tenho dúvida em afirmar que nossa cidade regrediu, em triste consonância com o Brasil. A falta de estímulo de uma política cultural; de espaços adequados e bem equipados; de visão econômica e social da cultura; uma população dominada pela desinformação fazem este quadro se cristalizar”, afirmou Almeida, lamentando que, após muitos anos, os patrocinadores parceiros “declinaram” do convite para apoiar o projeto das temporadas.

As temporadas de Música Clássica e Música Brasileira não serão realizadas neste ano em Sorocaba, após 15 anos ininterruptos de programação. (Mirna Módolo)
Escrever a nota foi o modo que o produtor achou para responder, em público, a todas as propostas que tem recebido de projetos de artistas dos mais distintos gêneros. Sobre a negativa dos patrocinadores, o produtor afirma entender que eles têm a liberdade de escolher quais projetos desejam financiar, mas não esconde o assombro com a mudança na postura e a justificativa de parceiros de longos anos. “Este é um direito deles, sabemos, mesmo em se tratando de um dinheiro ligado a leis de incentivo e, portanto, público. Se trata de uma decisão de cada empresa, se reverte seus impostos para a cultura ou não; é assim que funciona a lei de incentivo”, ponderou.
De acordo com Almeida, há anos ele tenta levar ações culturais para fora dos grandes centros, priorizando, particularmente, Sorocaba, sempre defendendo o conceito de temporadas e não de eventos. Como explica, o conceito de temporada é de uma ação cultural constante, de formação; diferentemente do evento, que ocorre ocasionalmente. “Nos tempos atuais, tal ação, além que hercúlea, é quase a de um Prometeu, para seguirmos nos mitos. Isto se dá pela falta de uma atual política federal e municipal que estimule o setor e a sociedade, porque temos de lidar perversamente com gente que pouco entende e frequenta a cultura, e geralmente são as pessoas que têm o poder de decisão sobre os patrocínios e as políticas”, explicou.
CULTURA PARA TODOS
Só em Sorocaba, a MdA realizou mais de 50 projetos culturais, todos gratuitos, recebendo nomes como Nelson Freire, Maria Bethânia, Ute Lemper, Egberto Gismonti, Edna de Oliveira, Emmanuele Baldini, Edu Lobo, Ligiana Costa, Catarina Domenici, Ronaldo Rolim, Nana Caymmi, Denise Stoklos, Grupo Tapa, Denise de Freitas e muito mais. Somam-se aí, também, as apresentações de dança, exposições e espetáculos teatrais que ultrapassam um total de 500 acontecimentos culturais.
Além de nomes nacionais e mundiais, os projetos sempre garantiram espaços para os artistas sorocabanos, recebendo nomes como Vintena Brasileira, Guilherme Fanti, Evandro Marcolino, Fabio Gouvêa, Marcia Mah, entre outros. Nas mais de 200 ações de formação pedagógica, o sorocabano teve a possibilidade de ter aulas gratuitas com personalidades como Zuza Homem de Mello, Sergio Molina, Daniele Longo, Camila Fresca e outros, fortalecendo a construção de público e fomento da cultura.
“É claro que esta não é, e nunca seria uma carta de despedida. Não iremos parar aqui nosso trabalho e estamos trabalhando para darmos continuidade às nossas ações, pois acreditamos e defendemos isso. Estamos apenas em um momento de reestruturação. Contaremos sempre com a ajuda e apoio de todos: artistas, público, apoiadores, que acreditam em nosso trabalho. Se você sente que uma temporada, como a que por anos realizamos, vai fazer falta em Sorocaba, se manifeste!”, finalizou o produtor, incitando a população a usar a própria voz para defender sua cidade, as artes e a Cultura.