O EP “Corpo Desobediente” foi lançado no final de agosto pelo ator, cantor e apresentador Marco Antonio Fera. Foto: Divulgação
A masculinidade negra e o universo LGBTQIA+ está no EP “Corpo desobiediente”, lançado no final de agosto pelo ator, cantor e apresentador Marco Antonio Fera.
O EP, que já está disponível nos streamings musicais, contém cinco músicas que também discutem arte queer e masculinidade tóxica. A obra comemora 20 anos de carreira. O estilo musical, segundo Fera, é “nova MPB”, com referências em soul, funk, samba e pop. As músicas fazem uma ligação direta com outros e outras artistas negros e negras, com uma pegada contemporânea.
Em entrevista ao PORQUE, Fera, que é mestrando em Relações Étnico Raciais no CEFET/RJ, conta que as músicas “são extremamente pessoais, mas em um momento saem do pessoal para o coletivo quando falam da opressão da masculinidade, da opressão da heterossexualidade e do patriarcado”.
As músicas são: “Amor e fé”, “Bordado”, “Buquê de São Jorge”, “Machô” e “Corpo desobediente”, que dá título ao disco. Apesar de ter passado por muitas violências na infância, principalmente na escola, Fera não devolve, no EP, a agressividade que vivenciou.
“Peguei todas essas dores, essas questões dessa violência que muitas vezes sofri, esse engasgo e amadureço.” Quando Fera passou da fase da adolescência para a fase adulta começou a entender mais sobre raça, gênero e sexualidade e a começar a escrever.
Confira trechos da entrevista
Tenho muitos textos escritos e num momento falei para o músico Oziel, com quem trabalhei numa peça infantil que eu gostaria de fazer um trabalho autoral, que fosse fora do teatro, um trabalho musical mesmo. Ele topou a proposta, fiz seleção dos textos, escolhi cinco poesias e textos e entreguei para ele, entre 2017/2018.
Conseguimos uma pequena verba pela Linc emergencial, de R$ 7 mil e foi uma ação bonita porque todos os artistas toparam diluir o pagamento na construção da gravação da música e do clipe, que dá título ao EP, a Corpo Desobediente. Das cinco músicas que compõem o disco duas são inéditas, uma regravação e duas músicas que já tinham sido divulgadas como single.
A expressividade
Começamos a preparar essas musicas em 2019 e 2020, Com a pandemia, paramos para articular a feitura do EP. Vamos para o estúdio do Mauricio Nogueira e gravamos Amor e Fé, com violão e Fé; em 2021, gravamos Bordado e Buquê de São Jorge. O título do EP é o Corpo Desobediente, que faz parte do meu histórico. Sempre fui uma criança doce, educada, eu tinha um cuidado com apreço com as coisas da escola, como tenho até hoje. Sempre tive tudo muito organizado e minhas notas sempre eram boas. Mas, eu tinha a questão do obedecer.
Fui uma criança que gesticulava muito, ria muito, falava alto, gostava de imitar artistas, colocar tecidos na cabeça para fazer de cabelo comprido. E ouvia muito “obedeça”, “obedeça”. A minha expressão era tida como desobediência. Concluo que meu corpo é desobediente e quando vou fazer essa música, penso ele num feet (composição a varias mãos). Chamo o Tulio Crepaldi, que é heterossexual para compor um hit, a Thara Wells, transfeminsta para fazer uma fala, e o Oziel, que é bissexual, que compôs o arranjo.
Eu já sabia que a música título do disco seria feita com outras pessoas, para difundisse isso e estivessem no centro dessa construção, para não ser apenas uma perspectiva minha.
Ficha Técnica
Composição letras e voz: Marco Antonio Fera
Composição arranjos – violão, guitarra e backing vocals: Oziel Antunes
Baixo: Roberto Sgarbiero
Percussão: Fábio Serra
Percussão e bateria: Torquato
Teclado: Tiago Giovani
Preparação corpovocal: Dáda Félix
Participação Especial: Túlio Crepaldi eThara Wells
Produzido na Aquarela Studios entre março de 2020 e agosto de 2022 por Maurício Nogueira.
Contato
Marco Antonio Fera: (11) 95455-2377 ou marcorodrigues@yahoo.com.br
