
Hamilton de Holanda, acompanhado do seu trio, vai receber João Bosco no palco montado no Brasital, às 21h. Foto: Divulgação
Neste sábado (20), quando Hamilton de Holanda, acompanhado do seu trio, receber no palco João Bosco, às 21h, o público do Festival de Jazz de São Roque terá um retrato sonoro da música brasileira. Isso porque as obras desses profícuos e incansáveis criadores e pesquisadores de ritmos se mesclaram em um repertório pensado especialmente para o evento e com um único intuito: emocionar! O show é gratuito e será realizado na Brasital, em São Roque.
“João Bosco é um parceiro de muitos anos, faço muitos shows com ele dentro e fora do Brasil. Enfim, é um parceiro maravilhoso que a vida me deu de presente, por ser um mestre, por ser um cara que ouvi muito, antes mesmo de conhecê-lo pessoalmente”, afirma Hamilton de Holanda. “O convite para este show foi uma ideia do pessoal do festival e adorei. Vamos fazer uma parte do meu álbum novo com o trio e outra parte tocando o repertório do João Bosco. Será bem emocionante.”
Para Hamilton de Holanda, instrumentista brasileiro com maior presença nos palcos internacionais, João Bosco é uma espécie de “obelisco” e fundamental em sua formação musical, principalmente pela parte rítmica, o modo de tocar seu violão e de dividir as melodias.
Desde 2015, quando se aproximaram em parcerias tocando juntos em diversos palcos, a influência do “mestre” passou a ser mais sentida por Hamilton. “Cada show é uma aula, cada passagem de som a gente aproveita muito. Ele gosta muito de passar o som, lembrar as músicas. O João é uma inspiração sempre”, comenta.
Frango voador
Mais do que o encontro desses dois gigantes da música, o público irá conhecer o novo trabalho de Hamilton, o “Flying chicken”, lançado no mês passado e já apresentado fora do Brasil. O álbum que faz homenagem a um amigo de longa data – Frango, técnico de som que o acompanha desde a década de 1990 – é uma “cria” da pandemia e da criatividade incansável de Hamilton de Holanda que, só em 2020, no auge do isolamento social por conta da covid-19, criou 366 composições, ou seja, uma por dia, por se tratar de um ano bissexto.
No entanto, essa produção, apesar de contínua, nada tem a ver com repetição; pelo contrário. O fechamento do mundo surtiu efeito antagônico: “A pandemia me abriu a cabeça.” O resultado é um álbum com a presença de eletrônico, teclado e uma bateria mais “groovada”, com uma sonoridade mais aberta. “Com certeza esse período me influenciou nas ideias”, garante Hamilton.
O instrumentista, cujo primeiro gênero musical foi o choro, explica a sonoridade visual da faixa que dá título ao álbum, inspirado no amigo: “É um álbum inspirado no meu grande amigo Frango, uma figura emblemática no meu trabalho e que resolve tudo, voa baixo. Acho que essa sonoridade do título é legal e representa superação dos limites. E a música tem um pouco de desenho animado, se colocar uma ilustração, cai super bem”.
Estrada a fora
Prodígio desde a infância e vindo de uma família musical, Hamilton de Holanda foi destaque no programa “Fantástico”, da Rede Globo, ainda aos seis anos como uma promessa do bandolim Começou com o choro, o mais brasileiro dos gêneros e fundou, ainda na década 1990, a primeira Escola de Choro do mundo, em Brasília, Distrito Federal.
Vencedor de 12 Grammy’s Latinos – os últimos no ano passado como “Melhor Álbum Instrumental: Maxixe Samba Groove” e “Melhor Álbum Jazz Latino: Chabem – Chano Dominguez, Hamilton de Holanda e Rubem Dantas (nominado)” – já transcendeu gêneros e, cada vez mais, solidifica sua obra como mundial.
Não por acaso, o total das suas apresentações em palcos internacionais são quase paritárias àquelas que faz dentro do seu país. Isso, de modo algum, prejudica sua produção; pelo contrário. “Quanto mais a gente vive, mais ideia a gente tem, a verdade é essa! Quanto mais eu estou viajando, trabalhando, conhecendo novas pessoas, lugares, comidas, paisagens, a criatividade agradece. Parece um negócio sem fim, e mais a inspiração vem.”
Para o artista, é um orgulho pisar em um palco fora do Brasil, tocando música brasileira e perceber a admiração das pessoas. “Estamos dando continuidade àquilo que já foi feito lá atrás, desde Pixinguinha, passando por vários outros artistas. O Brasil é muito respeitado lá fora, essa história está pavimentada. É interessante conseguir mostrar nossa realidade, nossa música e aprender outras realidades e outras música. É emocionante e muito especial quando vejo que as pessoas gostam da nossa música brasileira.”
Por conta de importância dessa troca, Hamilton reitera a importância de festivais como o de São Roque, que aproximam a população a um tipo de música que é muito brasileira, mas que tem, também, toda essa conexão com o mundo. “Esses festivais fomentam a área da cultura e preparam nossos artistas para serem internacionais, fazem essa ponte da nossa música com o mundo. E, para as cidades que recebem, é uma oportunidade de conectar a população com a parte educativa que a música também tem, além da emocional.”
Sobre o futuro, o músico salienta que os últimos quatro anos não foram penosos apenas para a cultura, mas para a sociedade em geral. Assim, diante uma nova realidade econômica, social e política, tem esperança que haja fomento na área cultural e que o resultado seja encarado como produto de exportação de excelência. “Tenho confiança que o nosso povo tenha força para manter essa produção sempre em alta e, claro, com ajuda fundamental da parte política, acho que isso vira algo sublime e inconstestável.”
Serviço
Festival de Jazz de São Roque
Quando: Neste sábado, 20 de maio de 2023
Onde: Brasital – Avenida Aravaí, 250, Vila Aguiar, em São Roque
Atrações: Bruno Migotto Trio; Hamilton de Holanda Trio & João Bosco e jam session com a Banda Anfitriã
Horário: A partir das 19h30
Entrada: Gratuita
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