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‘Depois a Gente se Vira’ mantém a tradição e abre o Carnaval em Sorocaba

Bloco, que completa 34 carnavais, vai homenagear a artista sorocabana Ana Maria Duarte, a partir das 19h desta sexta-feira

Maíra Fernandes

Sem cordão, sem abadá, sem ingresso e sem exclusividades, a festa celebra a liberdade e o encontro de gerações. Foto: Divulgação/Grupo Imagem

Quando o bloco “Depois a Gente se Vira” tomar as ruas da região central de Sorocaba para a retomada do Carnaval depois da pandemia de covid-19, nesta sexta-feira (17), a partir das 19h, a resistência deixa de ser fantasia e se torna realidade. Há 34 anos, o bloco que nasceu despretensioso, resiste e insiste em manter o espírito livre e popular de outros carnavais, arrastando, gratuitamente, uma diversidade de pessoas para avisar: o Carnaval chegou!

Mais longevo bloco da cidade e sem ajuda do Poder Público, o “Depois a Gente se Vira” mantém tradições como a concentração na Eugênio Salerno, avenida que abrigava o antigo Bar Depois – local de nascimento do bloco e seu hino, escrito por Bertinho, Dino e Pererê, que pede: “esqueça toda a tristeza da vida, depois a gente se vira!”, intercalado com marchinhas e sambas antigos.

Sem cordão, sem abadá, sem ingresso e sem exclusividades, a festa celebra a liberdade e o encontro de gerações, com estrutura apenas de um caminhão de som que abre caminho para a dispersão, na Praça Frei Baraúna, a partir das 23h.

“A retomada foi muito trabalhosa pelo pouco tempo que tivemos, mas estamos dando conta de todas as pendências. Nossos foliões e foliãs podem se preparar para uma grande festa, com muito samba e marchinhas”, adianta Edméia Pereira, uma das responsáveis em botar o bloco na rua, juntamente com Mingo, Mel e Paulo Henrique Soranz. A animação fica por conta do músico Marcelo Theto e do Grupo Samba Rasgado.

Neste ano, a artista homenageada será Ana Maria Duarte, cujo trabalho foi apresentado pelo Portal Porque (saiba mais clicando aqui). Outros nomes já estamparam a camiseta oficial do bloco, como Márcia Mah, Mazé Lima, Adolfo Frioli e Júlio Veredas, por exemplo.

Edeméia Pereira explica que a ideia é valorizar o artista local, já que o Poder Público deixa a desejar neste quesito. “Nós resistimos, porque entendemos ser preciso preservar os nossos patrimônios históricos. E o bloco é um patrimônio. Em Sorocaba, nada é preservado, as administrações não respeitam a cultura nem seus artistas. Por isso, em cada Carnaval, homenageamos uma pessoa da cultura. É a nossa forma de demonstrar gratidão aos artistas que fazem arte na cidade. Nossa homenageada este ano é a artista Ana Maria Duarte, uma baluarte da cultura sorocabana.”

Resistência

Esse só será o 34º Carnaval do “Depois a Gente se Vira” por conta dos dois anos parados devido à pandemia de covid-19. Na verdade, faz 36 anos que um grupo de amigos encabeçado pelo engenheiro Orivaldo Simonetti e pelo professor Nilo Seiffert começaram a pensar na criação do bloco, ainda em 1986. A ideia era um bloco livre, como pede a canção Plataforma, de João Bosco, hino dos primeiros carnavais do bloco: “Não põe corda no meu bloco. Nem vem com teu carro-chefe. Não dá ordem ao pessoal. Não traz lema nem divisa”.

A primeira saída ocorreu no Carnaval de 1987. Além do hino, o já falecido publicitário Mané Mota esboçou, em um guardanapo do bar, a arte da primeira camiseta que Simonetti reproduziu em silk-screen. A camiseta, no caso, vai à avenida desde o primeiro Carnaval, vestindo o engenheiro e folião, que a conserva como relíquia.

Ele nunca faltou a um desfile e decidiu, junto com Nilo, deixar o “filho” voar assim que assumiu a maioridade, com 21 anos de vida. Desde então, o bloco passou por outras direções, até chegar em um momento mais livre, como agora, quando não há chefes, nem líderes, apenas apaixonados pelo Carnaval e mantenedores da tradição.

Ao conversar com o Portal Porque, Simonetti lembra a característica do “Depois a Gente se Vira” de ser livre e sem utilizar de recursos públicos. Do mesmo modo, apesar de apartidário, sempre humanista e dotado de críticas sociais, o que fez, até hoje, ser frequentado, em sua maioria, por pessoas da esquerda. “É um bloco apartidário, mas com responsabilidade política”, ressalta, acrescentando que a primeira vez que botaram o bloco na rua a crítica era contra a construção de Aramar, em Iperó.

Subversivamente, a escolha do dia de saída do bloco também causou ruído à época, quando se acreditava que os festejos só começavam a partir de sábado. Ao longo deste tempo, nunca houve mudança no dia e o bloco sai sempre na sexta-feira, abrindo o Carnaval sorocabano.

Para ele, essa resistência e o posicionamento sustentaram a longevidade do “Depois a Gente se Vira”, que já teve concorrências ao longo deste tempo com outros eventos similares, mas mais fadados aos modismos.

Assim, de forma autêntica, preservando a crítica e a intenção de um Carnaval legítimo, acolhendo e respeitando a diversidade, democraticamente celebrando uma festa ancestral, acredita que a cria ainda permanecerá nas ruas por muitos anos. “Para mim é motivo de orgulho o bloco. É muito gostoso saber que participei da criação de uma coisa popular e que agora é tradição. Culturalmente, o bloco é muito importante”, afirma Simonetti.

Primeira porta-estandarte do “Depois a Gente se Vira”, Edeméia Pereira também nunca perdeu uma saída do bloco e defende a manutenção dele como patrimônio cultural da cidade. “A importância é histórica, porque o bloco já não pertence a um grupo, mas à cidade. É muito tempo para manter um bloco em atividade, sendo amado e respeitado pela população”, diz.

Ela complementa: “as pessoas ficam na ansiedade meses antes do Carnaval. Está todo mundo feliz. Só seríamos mais felizes se as escolas de samba também pudessem ir às ruas”, defende, lembrando que uma das características do “Depois a Gente se Vira” é o respeito à diversidade que se mantém apesar de mudanças ocorridas ao longo do tempo.

Edeméia Pereira explica ainda que, aos poucos, o bloco foi sofrendo algumas mudanças, desde passar a ter um caminhão de som para acompanhar o desfile, até o que é hoje. “No início era um pequeno grupo que acompanhava. Hoje temos mais de 2 mil pessoas. Isso é mudança provocada pelo tempo. O caminhão pequeno que nos acompanhava foi substituído por um enorme caminhão, sempre cedidos pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, nosso eterno parceiro. A tradição que mantemos é prezar por um Carnaval sem intolerância e sem confusão.”

Serviço
Bloco Depois a Gente Se Vira
Quando: Nesta sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023
Horário: A partir das 19h
Local: Concentração em frente ao Bar do Argentino – Avenida Dr. Eugênio Salerno, 396,  Centro
De graça

 

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