Busca

Ator e cantor Hudi Rocha, o palhaço Fedegoso, morre em Sorocaba aos 84 anos

Nascido em Araçariguama e criado em Sorocaba, Hudi trabalhou em circo desde os três anos de idade; seu nome é reconhecido nacionalmente, principalmente como humorista e palhaço-cantor

Portal Porque

Hudi Rocha em cena com Edméia Pereira e Alexandre Malhone na lona da Biblioteca Infantil de Sorocaba, durante espetáculo patrocinado pela Linc em 2007. Foto: José Finessi

O humorista, ator e cantor Hudi Rocha, conhecido nacionalmente por sua trajetória no circo-teatro, morreu neste sábado, 29, aos 84 anos de idade, em Sorocaba.

Hudi Rocha Camargo era o criador do palhaço Fedegoso, o “palhaço caipira”, uma das atrações do Circo-Teatro Guaraciaba, que reunia públicos numerosos nas décadas de 1960 e 70, em Sorocaba e cidades da região.

O nome de Hudi é reconhecido nacionalmente e consta em enciclopédias do circo, como o Circo Data (veja aqui). Em 2011, foi homenageado com uma participação no filme “O palhaço”, produzido e dirigido por Selton Mello, em que seu filho Hudson Rocha, o palhaço Kuxixo, atuou como preparador de atores.

Nascido dentro de um barracão de circo em Araçariguama, no dia 22 de setembro de 1939, filho de Juviniano (que era palhaço de circo) e Zoraide da Rocha Camargo, Hudi atuou em espetáculos circenses desde os três anos de idade, interpretando o palhaço Preguinho. Na juventude, foi também trapezista e malabarista.

Em 1944, por motivo de doença da mãe, veio morar em Sorocaba, com a irmã Hermelinda e o cunhado Olindo (palhaço Peroba), que tinha seu próprio circo. Em Sorocaba, no quintal de sua casa, aprendeu a montar a tenda — e amadureceu a ideia de ter a sua própria companhia circense.

Em 53, integrou-se à trupe do Circo Novo Mundo, de seu tio Tercílio Rocha (humorista Nhô Frozinho).

Em 54, criou seu personagem de maior sucesso, o palhaço caipira Fedegoso, que fazia apresentações do tipo stand-up, cantando modas engraçadas ao violão, contando causos e piadas.

Além de trabalhar em circos da família, Hudi foi dono de “um punhado” de circos. O primeiro se chamava Irmãs Rocha, em homenagem às filhas do primeiro casamento. Seguiram-se o Circo Umuarama, o Circo Real e o Circo Laser, entre outros.

À luz de lampião

A vida nos circos não era nada fácil. O transporte dos artistas e de todos os materiais era feito em carros de boi. Não havia lonas impermeáveis. Os pequenos circos eram instalados perto das cidades ou das sedes das fazendas.

Em depoimento à jornalista Sandra Nascimento, no livro “Barreiras, palhaços, galãs e comparsaria” (Ed. do Autor, 2007), Hudi recordou:

Na época, luz quase não existia. Nos sítios então, menos ainda. Trabalhava-se com lampiões de carboreto e gasolina. Aí a gente colocava um lampião na porta do circo, um dentro do circo e um lá atrás, para se arrumar. E era assim! Eu sou quase de um circo primitivo. Mas era gostoso, muito bom demais. Se tivesse que repetir tudo de novo, eu repetia a mesma coisa. Era muito bom!”

Em paralelo ao amor do povo, as trupes sofriam com as dificuldades financeiras e o preconceito. No mesmo depoimento, Hudi lamentou:

O povo de circo era mal visto, havia muita discriminação. Na década de 40, quando o circo chegava – não tem dúvida – era uma atração: o povo vinha, trazia criança e ajudava a armar. Mas as pessoas, com um nível de vida um pouquinho melhor, tinham preconceito. Achavam que ali tinha ladrão, que alguém podia roubar a mulher de outro, que podia pôr menina a perder. Era um problema!”

Hudi foi casado duas vezes, com Zulméia (com quem formou dupla e teve os filhos Rita de Cássia, Ardelisse, Hudinaire, Hudiméia e Wagner) e com Edméa (com quem teve o filho Hudson).

Trabalhou em outros circos também. Atuou no Circo Garcia. Convidado por Antônio Malhone, o palhaço Pirolito, integrou-se com a família à trupe do Circo-Teatro Guaraciaba, que desde o início dos anos 1960 estava radicado em Sorocaba.

Foi no Guaraciaba que conheceu o circo-teatro, tornando-se ator não só em comédias, mas em dramas como “…E o céu uniu dois corações”, um clássico dos palcos circenses.

Em meados dos anos 1990, os artistas do Circo-Teatro Guaraciaba começaram a se reunir para apresentações na Biblioteca Infantil Municipal de Sorocaba. Os espetáculos da Semana do Circo, comemorada em março, voltaram a atrair um público saudoso dos circos-teatros.

Em 2005, com patrocínio da Lei de Incentivo à Cultura (Linc), o Grupo Manto de Teatro reuniu jovens atores à velha-guarda circense, na lona da Biblioteca Infantil. A montagem de “…E o céu uniu dois corações” estimulou os veteranos do circo-teatro, que, sempre com incentivo da Linc, promoveram diversos espetáculos nos anos seguintes, voltando a atuar em Sorocaba, Votorantim e cidades da região.

O corpo de Hudi Rocha será velado na Ossel de Votorantim, entre 0h e 13h30 deste domingo. A Ossel de Votorantim fica na avenida Reverendo José Manoel da Conceição, 735, Centro. O enterro será no cemitério São João Batista, de Votorantim.


O encontro de duas gerações de artistas e parte da história de Hudi Rocha no circo-teatro foram contados no documentário “Circo-teatro, alegria do povo” (Brasil, 2008, 59 minutos), dirigido por Sandra Nascimento.

mais
sobre
circo guaraciaba circo-teatro falecimento hudi rocha palhaço cantor
LEIA
+