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Academia do Oscar admite mudanças na premiação por gênero, mas não no momento

Prêmio mais importante do cinema comercial enfrenta a baixa audiência e o risco de novos incidentes durante a cerimônia

Pedro Strazza (Folhapress)

Janet Yang é a primeira pessoa com ascendência asiática a presidir a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Foto: divulgação

O Oscar deste ano é dominado por questões identitárias, e o favoritismo de “Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”, protagonizado por asiáticos, atesta o momento. As discussões, no entanto, não chegaram aos gêneros que diferenciam os prêmios dedicados às performances.

Outras premiações e festivais importantes, como o Spirit Awards e a Berlinale, unificaram recentemente as categorias de ator e atriz em melhor atuação, contemplando artistas de todas as identidades de gênero. Mas para a nova presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Janet Yang, o Oscar não deve passar por essa mudança.

“Quando se põe todos os gêneros em uma categoria, você corta pela metade o número de artistas vencedores, e eu não acho preferencial um modelo assim”, diz à Folha de S. Paulo.

Apesar de contrária, a executiva declara que a organização estuda internamente a reforma das categorias de atuação. No momento, porém, não há planos de instituir uma mudança do tipo no próximo ano.

A cerimônia do Oscar deste domingo é a primeira de Yang como presidente da Academia. Produtora de filmes como “O povo contra Larry Flint”, de 1996, e a animação “A caminho da Lua”, de 2020, ela foi eleita em agosto do ano passado. É a primeira pessoa de ascendência asiática e a quarta mulher a ocupar o cargo em 95 anos de premiação.

Mas as comemorações foram breves. A Academia lida ainda com a crise midiática do tapa de Will Smith em Chris Rock na última edição, que até hoje gera críticas à organização pelo mau gerenciamento do caso. O incidente continua a reverberar, virando assunto no especial de comédia mais recente de Rock na Netflix.

Yang diz que a situação foi surreal, mas reconhece que a resposta imediata da organização foi inadequada. Para evitar novas ocorrências, o Oscar deste ano será o primeiro a contar com uma equipe de crise, preparada para lidar com qualquer problema durante o evento.

“Criamos um sistema de rápida comunicação entre a equipe de segurança e as principais lideranças. Se houver problemas, conseguiremos responder rapidamente e de maneira decisiva. O que aprendemos é que eventos inesperados acontecem, e precisamos estar preparados.”

A nova administração também herda o problema da audiência. Há dois anos, o Oscar registrou a pior média de público da história, com apenas 9,85 milhões de pessoas assistindo a vitória de “Nomadland”. Para efeito de comparação, o Oscar de “Titanic”, em 1998, ano da edição mais popular do prêmio, registrou 55,25 milhões de espectadores

Yang considera a queda irreversível, mas diz que a avaliação precisa ser reformulada para levar em conta outros elementos da transmissão. Ela cita como exemplo o engajamento das redes sociais, onde, em sua avaliação, os jovens veem com mais empolgação a edição deste ano.

“Estamos cientes que boa parte das gerações mais jovens não se interessam pela programação da televisão, mas estamos à frente da curva nas redes”, afirma. “Eles estão vendo pelo YouTube e pelo TikTok. Eles estão buscando o Oscar em plataformas diferentes, e certamente estão assistindo a muitos dos filmes indicados.”

A executiva afirma também que a base de votantes está se internacionalizando. Segundo ela, um quarto dos membros da Academia é de fora dos Estados Unidos, e metade da lista de indicados deste ano não é americana.

A categoria principal do prêmio corrobora sua afirmação. Depois de “Parasita” em 2020, o Oscar de melhor filme tem entre os dez indicados dois filmes que não são americanos — o alemão “Nada de novo no front” e “Triângulo da tristeza”, do sueco Ruben Östlund.

Ao mesmo tempo, 2023 marca a terceira edição em dez anos em que não há filmes dirigidos por negros em melhor filme. Além disso, a única produção comandada por uma mulher entre todos os indicados, “Entre mulheres”, concorre em uma única categoria, a de roteiro adaptado.

Para a presidente, o resultado é fruto da imprevisibilidade de uma votação entre 10 mil pessoas. Ela diz que a seleção deste ano é diferente, com outros grupos minoritários contemplados nas categorias, como os indicados de origem ou ascendência asiática.

Ela também destaca o equilíbrio raro de filmes populares, entre eles “Top gun: Maverick” e “Avatar: O caminho da água”, com os longas-metragens independentes, como “Tár” e “Os Banshees de Inisherin”.

“É uma seleção variada de gêneros e de tipos de filmes, que também representam uma grande diversidade. É uma mistura diferente todo ano, e todo ano haverá aqueles que vão se sentir um pouco de fora.”

Onde assistir

Este ano, mais uma vez, a Rede Globo abriu mão da transmissão da cerimônia de entrega do Oscar, que era tradicional em sua programação. Nem mesmo em sua plataforma paga, a Globoplay, a emissora transmitirá o evento.

Para quem tem TV a cabo, a opção é assistir pelo TNT, a partir das 20h. A plataforma da HBO, HBOMax, também fará a transmissão no mesmo horário.

Quem não tem TV por assinatura nem streaming pago poderá assistir a toda a cerimônia, a partir das 20h, no canal do YouTube Omeleteve (link aqui).

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