
Jair Bolsonaro afirma que governo Lula ‘não vai durar muito tempo’. Foto: José Cruz/Agência Brasil
A pouco mais de uma semana da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos Estados Unidos, nove membros do Partido Democrata apresentaram no Senado uma resolução pedindo que o presidente Joe Biden examine prontamente pedidos de extradição de ex-autoridades do Brasil ligadas aos ataques golpistas às sedes dos três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro.
A redação do texto obtido pela Folha de S.Paulo foi liderada pelo senador Bob Menendez, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa. O material busca responsabilizar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por ter motivado o que chama de “cerco violento” às instituições.
“Condenamos o cerco violento ao Palácio do Planalto, ao Congresso e à Suprema Corte do Brasil conduzido por apoiadores do ex-presidente, evento que foi alimentado, em parte, por desinformação disseminada durante vários meses por Bolsonaro”, diz um trecho.
Bolsonaro está nos EUA desde o fim de dezembro e, segundo seus advogados, pediu um visto de turista para permanecer mais tempo no país – a modalidade dá direito a seis meses em solo americano. O ex-presidente é alvo de diferentes ações que pedem sua inelegibilidade por abuso de poder e é investigado por incitação aos ataques golpistas. O governo brasileiro pode pedir a extradição de Bolsonaro a depender das conclusões dessa e de outras investigações.
Há duas semanas, deputados democratas enviaram uma carta à Casa Branca pedindo que o Departamento de Justiça responsabilize “quaisquer atores baseados na Flórida que possam ter financiado ou apoiado os crimes violentos de 8 de janeiro”, referindo-se a Bolsonaro.
A resolução enviada ao Senado nesta quarta-feira (2) afirma que Bolsonaro fez repetidas acusações infundadas questionando a transparência e a integridade do processo eleitoral do Brasil e encorajou seus apoiadores a amplificar essas declarações sem fundamento.
No material, os congressistas exortam plataformas digitais e aplicativos de mensagem a adotarem medidas concretas para combater a desinformação que prolifera no Brasil e a trabalhar com autoridades brasileiras para compreender o possível papel que desempenharam para facilitar e ampliar os atos violentos de 8 de Janeiro.
Lula se reúne com Biden, na Casa Branca, no dia 10 deste mês. O petista também deve se encontrar com o senador Bernie Sanders, outro dos signatários do texto. Um dos temas na agenda é justamente a regulação das plataformas digitais, além do extremismo de direita e da defesa da democracia.
Além de Menendez, um dos senadores mais influentes no Congresso dos EUA, e de Sanders, assinam a resolução Tim Kaine, Dick Durbin, Chris Murphy, Jeanne Shaheen, Jeff Merkley, Ben Cardin e Chris Van Hollen.
“O ataque recente aos símbolos do governo democrático do Brasil configura um ataque à democracia global”, afirma o senador Durbin. “É uma vergonha que Bolsonaro estivesse nos EUA tirando selfies durante esse episódio deplorável. Propus essa legislação para garantir que autoridades que sabotam eleições livres e justas não possam fugir para os EUA para escapar de responsabilização.”
Para Menendez, a insurreição em Brasília também demonstra a resiliência do povo brasileiro e das instituições democráticas. “As autoridades brasileiras merecem todo nosso apoio em sua busca por verdade e responsabilização pelo 8 de Janeiro.”
O texto no Senado encoraja membros do Congresso americano a ajudarem autoridades brasileiras em qualquer demanda relativa à investigação dos ataques golpistas, inclusive compartilhando estratégias utilizadas no Comitê de Investigação da Câmara sobre o ataque de 6 de Janeiro contra o Capitólio.
Além de demonstrar solidariedade à população brasileira diante dos ataques, os legisladores enfatizam a parceria estratégica entre Brasil e EUA e citam como prioridades a defesa da democracia e dos direitos humanos, além da cooperação em defesa, segurança alimentar, meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
Em seu primeiro evento público desde que deixou o Brasil e foi para os EUA, na terça-feira (31) Bolsonaro afirmou que o governo Lula “não vai durar muito tempo” e que houve injustiça nos processos dos ataques golpistas em Brasília.