
Congresso Nacional vem investigando atos golpistas de 8 de janeiro há seis meses e agora concluiu os trabalhos. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A leitura do relatório final da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas do dia 8 de janeiro está marcada para esta terça-feira (17). A relatora do processo, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), vai apresentar as conclusões da investigação feita pela comissão desde maio. Também devem ser lidos os votos apresentados em separado por parlamentares da oposição.
No total, a comissão colheu 20 depoimentos, entre eles os de George Washington e Wellington Macedo, condenados por planejar a explosão de um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, no fim de 2022. O empresário Argino Bedin, conhecido em Mato Grosso como Pai da Soja, acusado de financiar os atos, também compareceu ao colegiado.
A comissão ouviu o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, coronel Mauro Cesar Cid, que aceitou fazer delação premiada dos acontecimentos. Também foi inquerido o coronel Jean Lawand, que apareceu, em troca de mensagens telefônicas com Mauro Cid, defendendo intervenção militar após as eleições de 2022.
Outras oitivas
Foram ouvidos ainda o sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, que negou acusações sobre fraude no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro, de participação nos atos de 8 de janeiro ou de irregularidades em movimentação financeira considerada atípica. Segundo Eliziane, entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022, o militar movimentou mais de R$ 3 milhões em sua conta.
Outros militares que prestaram depoimento à comissão foram os generais Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e Gonçalves Dias, o G. Dias, que também comandou o GSI no dia dos ataques às sedes dos Três Poderes.
Em seu depoimento, o general Heleno negou ter ido a acampamentos golpistas ou ter participado de reuniões com chefes das Forças Armadas para combinar golpe de Estado.
Minuta do golpe
O ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, também foi ouvido na comissão. Investigadores da Polícia Federal encontraram em sua casa um documento chamado “minuta do golpe”, que previa a decretação de Estado de Sítio no país e a prisão do ministro do pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Morais, e a realização de novas eleições, caso Bolsonaro perdesse a eleição presidencial.
A CPMI ouviu ainda o hacker Walter Delgatti Netto, que afirmou aos parlamentares ter invadido os sistemas do Judiciário brasileiro a pedido da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Após o depoimento de Delgatti, o colegiado decidiu quebrar sigilos bancários, fiscais, telemáticos e telefônicos, da deputada federal Carla Zambelli, do irmão dela Bruno Zambelli, deputado estadual por São Paulo, e do então assessor parlamentar da deputada, Renan César Silva Goulart.
A cabo da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) Marcela da Silva Morais Pinno, agredida por vândalos que invadiram as sedes dos três poderes, disse, em seu depoimento, que nunca tinha visto manifestação tão violenta e agressiva como a dos atos golpistas do 8 de janeiro.
Voto em separado
Na manhã desta segunda-feira (16), o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) apresentou um voto em separado no qual acusa a relatora, Eliziane Gama, de parcialidade nas investigações. O tucano pede ainda que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, seja investigado por, supostamente, ter demorado a acionar a Força Nacional de Segurança para coibir a ação dos vândalos.
O argumento já havia sido rebatido pelo ministro que, em ofício à CPMI, respondeu que não poderia usar a Força Nacional na Esplanada dos Ministérios em 8 de janeiro sem uma autorização expressa do Governo do Distrito Federal. O senador do PSDB também pede a abertura de inquérito ao ex-ministro-chefe do GSI, general Gonçalves Dias, pelos mesmos crimes.