Diversos portais de notícias repercutiram, neste domingo, 20, as acusações que a ex-mulher de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, fez contra ele e contra a família Bolsonaro. As acusações, inclusive de crimes graves — como sonegação fiscal, evasão de divisas e financiamento de grupos paramilitares (milícias) — estão registradas em uma live que Maria Christina Mendes Caldeira, a ex de Valdemar, fez na terça-feira, 15, no Instagram — e que viralizou a partir desta sexta.
Um suposto caso entre Valdemar e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também foi mencionado por ela.
Maria Christina, que atualmente mora nos EUA, diz não aceitar que Valdemar conteste o resultado democrático das urnas no Brasil. No vídeo, de 12 minutos e 30 segundos, ela afirma que o passado do defensor de Bolsonaro é uma “sujeirada danada” e cita “porto de Santos, aeroporto e tráfico de drogas”.
Também menciona “lavagem de dinheiro”, contas no exterior, sociedades espúrias e que os casos Taiwan e Shuong, que, segundo ela, interessam à Justiça nos EUA, “vão voltar à tona” se ele continuar constando a democracia “por causa do Bolsonaro”.
“Você tem o rabo sujo, Valdemar. Não dá!” A ex manda recado direto para Valdemar: “Você vai se estrepar de novo por causa desse estrupício, que você chamava de baixo clero, de burro [referindo-se a Jair Bolsonaro]”.
Além das acusações de corrupção e outros crimes penais, Maria também aponta incoerência em questões morais e comportamentais, que o PL, Bolsonaro e bolsonaristas tanto defendem. Ela afirma que Valdemar teve caso com a atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro, “que foi sua ‘peguete’ depois da minha administração [casamento]”.
Exilada nos EUA
Maria Christina foi casada com Valdemar de 2004 a 2007. Filha de empreiteiros, nasceu em berço de ouro. Mas viu a vida virar um inferno após o casamento, relata a revista IstoÉ. Valdemar conseguiu extrair fortunas até do ex-sogro. Na separação, deixou Maria na casa onde viviam com a luz cortada e sob ordem de despejo.
Atualmente ela se diz exilada nos EUA e afirma ter sido ameaçada de morte por Valdemar. Maria é motorista de Uber em Miami. Seu depoimento contundente de corrupção contra o então marido Valdemar, em 2005, na CPI do Mensalão, já o indicando como chefe do Centrão, causou a condenação do atual bolsonarista a sete anos e dez meses de prisão.
Valdemar cumpriu parte da pena em regime semiaberto e parte em casa, usando tornozeleiras. Mesmo assim, Bolsonaro e bolsonaristas não se constrangem em chamar o presidente eleito Lula, mesmo inocentado, de “ex-presidiário”.
Sobre a Lava Jato, que prendeu Lula, a ex de Valdemar afirma; “Ai, Valdemar… Você esqueceu que eu tenho uma porrada, uma quantidade gigante de documentação sua da época do car wash [Lava Jato] e da sua atual? E mais: a evasão de divisas e sonegação dos Bolsonaros?”
“O mais grave é você contestar a democracia, querido. No primeiro turno, que você elegeu sua bancada, tá tudo legal, funcionou, mas no segundo turno você contesta, né!?”, dispara ela na live.
“Eu fui casada com o dono do bordel do Congresso, conheço bem como você se movimenta. Essa coisa de você contestar a democracia aí, você entrou numa briga, uma briga que você não devia entrar. Eu acho que está na hora desse PL ser cassado, né?”, continuou.
Violência bolsonarista
Maria Christina Caldeira também afirma que vai tirar os “esqueletos do armário” de Valdemar “aqui”, nos EUA. Ela disse que dia 17 de dezembro vai depor em uma Comissão de Direitos Humanos dos Estados Unidos e mostrar que Valdemar e Bolsonaro investem em grupos paramilitares contra a democracia.
No vídeo, ela também recomenda reforço na segurança do presidente eleito Lula, inclusive em viagens internacionais. “Está cheio de bolsonaristas psicopatas por aí”, alerta a ex do presidente do partido de Bolsonaro.
Quando a denunciante alerta para o fanatismo dos que ela mesma chama de “bolsominions”, impossível não lembrar do acampamento golpista em Sorocaba, no bairro Santa Rosália, que envergonha o município e realça a omissão do prefeito Manga e outras autoridades diante do extremismo da direita antidemocrática.
Por fim, sobre o atual presidente, ausente do serviço, mas ainda oficialmente em exercício, a ex-esposa do bolsonarista, líder do PL e do Centrão diz: “Essa coisa aí do seu lado [Bolsonaro], que não trabalha desde que perdeu a eleição, não é o Trump, tá no sofá vendo Netflix e picotando documento, ou tentando dar pau em computador para apagar as coisas que ele aprontou.”
Escândalos em família
Se as revelações de Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher de Valdemar, do PL, vão novamente derrubar imagens e poderes de mandatários saudosos de regimes autoritários ainda não se sabe. Mas que no Brasil pós-ditadura esses escândalos em família — que trazem verdades criminais e morais à tona, causando a derrocada de líderes políticos — estão se tornando tradição, é fato inegável.
Em 1989, Fernando Collor de Mello foi apresentado ao eleitorado brasileiro como “terceira via”, à direita, para vencer Lula nas primeiras eleições democráticas após o golpe de 1964. Collor era representante da oligarquia mais tradicional e conservadora de Alagoas. Foi eleito. Em 1992 foi desmascarado e afastado do poder após denúncias do irmão, Pedro Collor, de que ele era corrupto e chefe de quadrilha que assaltava os cofres públicos.
Em 2000, o caso Celso Pitta, prefeito de São Paulo, ficou conhecido em todo o país após sua esposa, Nicéia, revelar diversos casos de corrupção do marido, inclusive o famoso escândalo dos precatórios. Celso foi afastado do cargo pela Justiça, retornou e terminou o mandato rejeitado por mais de 83% dos paulistanos.
Na eleição de 97, Pitta teve como padrinho político o Paulo Maluf, apelidado de “filhote da ditadura” pelo tradicional político de esquerda Leonel Brizola (PDT), já falecido. Celso Pitta foi oferecido ao eleitorado como um conservador da direita moralista e ultra honesta, capaz de vencer a então prefeita petista Luiza Erundina. De fato, Pitta venceu com apoio de Maluf. Mas a máscara de ambos caiu logo depois e acabou com a carreira de ambos. O ex-prefeito Pitta morreu no final de 2009, aos 63 anos, de causas naturais. Maluf foi preso várias vezes por enriquecer com dinheiro público. Hoje é um idoso ainda condenado pela Justiça.
Desumanidade
Mais recentemente, foi o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, general Eduardo Pazuello, cuja ex-esposa, Andrea Barbosa, o detonou na CPI na Covid. Segundo ela, deslumbrado pelo poder, Pazuello promovia festinhas regadas a uísque em Manaus, enquanto a poucos quilômetros dali as pessoas agonizavam por falta de respiradores nos hospitais.
Em entrevistas e nas suas redes sociais, Andrea afirmou que estava em Manaus durante a crise de oxigênio, em janeiro de 2021, e diz ter presenciado quando a capital do Amazonas “foi feita de laboratório para testar imunidade de rebanho (isso mesmo, aquela mesma que se testa em gados), quando a cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz, era prescrita até para grávidas em estado febril pelo aplicativo TratCov”.
“Eu estava lá quando milhares de caixões eram enterrados em valas porque o cemitério já não tinha espaço e o presidente dizia que não era coveiro e, portanto, não tinha nada com isso”, disse ela no Instragram. A ex de Pazuelo é dentista, natural do Estado do Amazonas e afirma que não tinha como compactuar com a desumanidade e a esbórnia – festas de militares no AM em plena Pandemia – do governo Bolsonaro.
O vídeo completo no YouTube pode ser assistido aqui. Ou no Instagram de Caldeira, aqui.