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Estado de São Paulo amplia vacinação contra covid em crianças entre 3 e 4 anos

Segundo estudo da Fiocruz, embora haja redução significativa de internações e mortes por covid em todas as faixas etárias nos últimos meses, a velocidade dessa queda segue em ritmo mais lento entre as crianças menores de cinco anos

Cláudia Collucci e Patrícia Pasquini (Folhapress)

O esquema vacinal indicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é igual ao do restante da população: mesma dosagem e intervalo de 28 dias entre a primeira e a segunda dose. Foto: banco de imagens/Freepik

Enquanto a população aguarda a definição do Ministério da Saúde para o início da vacinação das crianças de seis meses a quatro anos, liberada há 12 dias, o governo do Estado de São Paulo anunciou, nesta quarta-feira, 28, que ampliará a vacinação contra covid-19 para crianças entre três e quatro anos a partir desta sexta-feira, 30. O anuncio do governo ocorreu no mesmo dia em que foi divulgada uma análise da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que aponta que o total de internações pela covid entre as crianças com menos de cinco anos passou a ser quase o dobro da de pessoas acima de 60 anos.

A vacinação em São Paulo de crianças entre três e quatro anos estava restrita, apenas, àquelas que apresentavam comorbidades. No entanto, o esquema de imunização estadual foi possível porque o Instituto Butantan, órgão ligado à Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, doou 2 milhões de doses da Coronavac, para atender a toda a demanda paulista.

Na capital, o esquema vacinal para este público-alvo teve início em 20 de julho. Dias antes, o Ministério da Saúde havia recomendado a vacinação de crianças de 3 a 5 anos com a Coronavac. “Este é mais um importante passo na campanha de vacinação em São Paulo. Somos o Estado que mais vacina no Brasil e agora é uma oportunidade de imunizar todas as crianças desta faixa etária com a produção e novas doses distribuídas pelo Instituto Butantan”, afirma a coordenadora do Plano Estadual de Imunização, Regiane de Paula.

De acordo com o governo paulista, o Ministério da Saúde não havia disponibilizado doses suficientes para vacinar toda essa população do Estado e do país. Diante disso, o Instituto Butantan importou o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) e concluiu, na última semana, a produção de 3,5 milhões de doses. O governo federal comprou 1 milhão. Do montante, 215 mil doses estão destinadas ao Estado de São Paulo. Para que o Estado pudesse vacinar a totalidade desse público, o Butantan doou à Secretaria de Estado da Saúde mais 2 milhões de doses.

“A Coronavac é considerada pela Anvisa segura para as crianças de 3 e 4 anos de idade. Nosso imunizante é o mais utilizado entre a população de 3 a 17 anos de idade, resultado da sua segurança e das poucas reações. Os dados indicam que é uma vacina muito efetiva e pode evitar que a doença evolua. Ainda temos altos números de internações de crianças e sequelas graves que podem ser evitadas. É fundamental que os pais e responsáveis levem seus filhos para se imunizar”, destaca o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.

A pediatra Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirma que não existe medicamento preventivo contra a covid-19 para essa faixa etária. “A única ferramenta que nós temos de medida não farmacológica é a vacina. Quanto antes vacinar, melhor. A maioria da Síndrome Respiratória Aguda Grave internada, dos casos de UTI e dos óbitos é de não vacinados”, diz. A vacina também protege contra a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), uma complicação grave em crianças, e contra a covid longa.

O esquema vacinal indicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é igual ao do restante da população: mesma dosagem e intervalo de 28 dias entre a primeira e a segunda dose.

Até às 15 horas de 28 de setembro, na capital paulista, das 311.886 crianças de 3 e 4 anos, 90.161 tinham sido vacinadas contra a covid-19.

Quase o dobro

Desde de julho até o dia 10 de setembro, o total de internações pela covid entre as crianças com menos de cinco anos passou a ser quase o dobro da de pessoas acima de 60 anos (2.205 contra 1.175), segundo análise inédita do Observa Infância, projeto da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) que monitora indicadores infantis a partir de dados do Ministério da Saúde. Embora haja redução significativa de internações e mortes pela covid em todas as faixas etárias nos últimos meses, a velocidade dessa queda segue em ritmo mais lento entre as crianças menores de cinco anos.

A vacina da Pfizer, indicada para as crianças a partir de seis meses, teve aval da Anvisa neste mês. Procurado, o ministério não disse quando o imunizante estará disponível na rede pública de saúde. “A cada dia que a gente passa sem vacina nessa faixa etária, a gente está condenando uma criança à morte por covid, o que hoje já poderia ser evitável”, afirma Cristiano Boccolini, pesquisador em saúde pública da Fiocruz e autor da análise.

O esquema de vacinação para esse público seria discutido em reunião da câmara técnica de assessoramento em imunização da covid do Plano Nacional de Imunizações (PNI) na sexta, 30, mas o assunto foi retirado da pauta porque ainda não há um posicionamento oficial do ministério sobre a quantidade de doses que estará disponível e nem o prazo para isso acontecer.

Segundo o pediatra Renato Kfouri, membro do comitê técnico do PNI e presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), esse indicativo é necessário para o grupo definir, por exemplo, quais os grupos prioritários para receber a vacina.

“É urgente essa tomada de decisão. A cada mês são mais de mil hospitalizações de crianças abaixo de cinco anos. Já tivemos mais de 12 mil hospitalizações e mais de 400 mortes neste ano. Isso não é residual. É mais do que todas as doenças do calendário infantil, mais do que pneumonia, meningite, hepatite, sarampo, que todas juntas”, diz ele.

No contrato que o ministério tem com a Pfizer, há uma cláusula que permite ajustar qual o tipo de vacina a ser recebida. Estima-se que hoje o país tenha um saldo de cerca de 35 milhões de doses. Mas nem o governo e nem a farmacêutica informam como estão essas negociações.

O Brasil possui cerca de 13 milhões de crianças entre 6 meses e 4 anos e, de acordo com o esquema vacinal previsto para esse público, serão necessárias três doses (um total de 39 milhões de doses). Porém, como as crianças entre 3 e 5 anos também podem ser vacinadas com a Coronavac, o número de doses necessárias da vacina da Pfizer cairia para 21 milhões, segundo estimativas de técnicos do ministério.

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