
O período chuvoso da região, que ocorre de novembro a março, faz com que a trafegabilidade da BR-319 seja prejudicada. Foto: Dnit/ Divulgação
Em janeiro de 2021, no decorrer da crise de Manaus, o candidato do PL ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), então ministro da Infraestrutura, atrasou o envio de 160 mil m³ de oxigênio em mais de 60 horas devido a um erro logístico. A escolha em levar os cilindros de oxigênio de Porto Velho (RO) até Manaus (AM) pela BR-319, em plena época de chuva, custou vidas, revela artigo assinado pelo mestre e doutor Lucas Ferrante, estudioso dos impactos ecológicos na região amazônica.
Na oportunidade, a falta de insumos hospitalares já havia levado a óbito ao menos 30 pessoas por asfixia em hospitais e postos de saúde em Manaus, com o avanço da segunda da Covid-19. A Força Aérea Brasileira (FAB), durante a crise, não disponibilizou aeronaves para que os insumos fossem transportados, por vias aéreas, de Porto Velho até Manaus, epicentro da crise no Amazonas.
A alternativa mais rápida de transporte teria sido a hidrovia do Rio Madeira, mas essa opção foi completamente ignorada por Tarcísio de Freitas e Eduardo Pazuello, então ministros da Infraestrutura e da Saúde, respectivamente. A preferência do governo federal de levar a mercadoria foi pela rodovia BR-319, na qual mais da metade dos 900 km de extensão está sem asfalto, o que dificulta o tráfego na região, principalmente em períodos de chuva.
Se por um lado, a chuva dificulta a locomoção pela BR escolhida, ela facilita a navegabilidade no Rio Madero, um dos principais corredores logísticos da região Norte. O transporte dos insumos poderia levar até 30 horas pela hidrovia, mas levou 96 horas pela rodovia BR-319.
O artigo aponta que o governo federal escolheu o pior trajeto de forma proposital, com o intuito de pressionar pela pavimentação da BR-319. O asfaltamento da rodovia é uma proposta antiga, mas que enfrenta resistência de povos indígenas da região e poderia gerar impactos ambientais prolongados, segundo estudos. O projeto atenderia, principalmente, a grileiros e madeireiros da região.
De fato, a demora da chegada do oxigênio passou a ser instrumentalizada, posteriormente, por políticos bolsonaristas para justificar a pavimentação da BR-319 sem, no entanto, que os povos indígenas mais afetados pelas obras, assim como os estudos de impactos ambientais sejam levados em consideração para a realização do projeto.
Com informações de Brasil de Fato