A véspera do feriado de Tiradentes teve um significado especial para a democracia brasileira. No mesmo dia em que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) condenavam, por 10 votos a 1, o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) a oito anos e nove meses de prisão em regime fechado, perda de mandado e dos direitos políticos e multa de R$ 212 mil, o deputado estadual de São Paulo Arthur do Val (União Brasil), um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), prevendo a cassação de seu mandato, anunciou que renunciará à vaga na Assembleia Legislativa.
Os motivos que levaram os expoentes da direita radical a cair em desgraça foram diferentes. Silveira foi condenado por uma série de vídeos em que estimulou atos democráticos e ataques às instituições democráticas, entre elas o próprio STF. Do Val, também conhecido como Mamãe Falei, estava com a espada suspensa sobre a cabeça desde que uma boa alma fez o favor de vazar um áudio sexista, machista, misógino e preconceituoso, enviado por ele a um grupo durante viagem à Ucrânia, em que tecia comentários depreciativos sobre as mulheres daquele país.
Embora os motivos sejam diferentes, o que levou à derrocada dos deputados de direita foi, em largo sentido, o mesmo sentimento de desprezo por valores humanitários e igualitários que estão entre os principais alicerces da democracia e, em sua base, da própria civilização. Um acreditou que poderia, protegido pela imunidade parlamentar, incitar as pessoas a atacar juízes da Suprema Corte ou fechar o Congresso. Outro, valeu-se de suas credenciais de representante do povo para perscrutar supostas oportunidades de vantagens sexuais em um país devastado pela guerra.
Outra semelhança curiosa é que ambos procuraram se defender com o argumento de que o que fizeram não foi tão grave. Do Val se definiu como alguém que é perseguido pela Assembleia, onde 21 pedidos de cassação de seu mandato foram protocolados. A defesa de Silveira tentou alegar que o deputado bolsonarista apenas fez uso de sua “liberdade de expressão”. Para alívio dos democratas, as instituições deram provas de vitalidade, ao reafirmar que mandato não é salvo conduto para condutas imorais e que liberdade de expressão não pode ser usada para sabotar a democracia.
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(Da Redação, com informações da Rede Brasil Atual – www.redebrasilatual.com.br)