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Economista diz que política de juros não resolve a inflação

Tendência é de recessão maior ainda este ano, com impacto maior para os mais pobres

Fernanda Ikedo

O Brasil é o terceiro país com a inflação mais alta do G20 (atrás apenas de Argentina e Turquia), conforme levantamento da Trading Economics – plataforma que analisa os dados históricos e as projeções de quase 200 países. É também a sexta inflação mais elevada de todo o continente americano (piores, só as taxas de Venezuela, Cuba, Suriname, Argentina e Haiti).

Publicado na quarta-feira, 23, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) confirma o quadro inflacionário. A taxa foi de 0,99% em fevereiro, a maior variação para um mês de fevereiro desde 2016. Em janeiro deste ano, foi de 0,58% em fevereiro de 2021, de 0,48%. O acumulado do ano é de 1,58% e o acumulado nos últimos 12 meses soma 10,76%.

Conforme a análise do professor de economia da UFSCar, Rodrigo Vilela Rodrigues, que também integra a Associação Brasileira de Economistas pela Democracia, “a inflação atual é de oferta. T??Tentar segurá-la com elevação de taxas de juros, que é um mecanismo de contenção de demanda, só vai intensificar uma possível recessão já para esse ano, sem maiores impactos sobre a inflação”.

Ele ressalta que a inflação vem sendo impactada por por preços administrados – “vide a fórmula que vincula o preço da gasolina aos humores dos preços internacionais do barril de petróleo e que agora pode ter mais uma elevação, haja vista a situação entre Ucrânia e Rússia”, e destaca também que essa é uma inflação muito mais sentida pelos cidadãos mais pobres, especialmente pelo grupo dos alimentos.

“Nesse aspecto, vale destacar a atuação negativa desde o Governo Temer, no sentido de desmontar os estoques reguladores para arroz e feijão e priorizar as exportações, como é o caso da proteína animal”, ressalta o economista. Rodrigo deixa claro que a política atual mantém a prioridade na exportação das carnes, ao invés de investir numa política mais justa para o mercado interno.

AUMENTO SENTIDO NO BOLSO

A dona de casa Salete Soares, que mora na zona leste de Sorocaba, espanta-se toda vez que vai ao supermercado e acaba sempre excluindo itens da lista. “O leite, o feijão e uma mistura são itens que não tem como não comprar, mas faz tempo que não compro mais doces, salgadinhos ou outros produtos que a gente chama de tranqueira”, conta.

Mesmo assim, Salete pesquisa entre um supermercado e outro. “A gente vai e pega o básico e o mais barato e aproveito as ofertas da semana do mercado”, afirma.

Embora dramática, a necessidade de deixar de comer certos alimentos e mudar os hábitos é menos grave do que a situação vivida por outros brasileiros, que simplesmente não têm acesso aos alimentos. Segundo levantamentos recentes, o Brasil tem cerca de 20 milhões de pessoas que passam fome e 116 milhões que comem, todos os dias, menos do que precisariam comer.

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