A crise energética que desabou sobre o Brasil e tornou ações que já foram rotineiras na vida da nossa gente – encher o tanque do carro ou da moto, trocar o botijão de gás – situações dramáticas que, cada vez mais exigem cálculos precisos, de resultados assustadores, não é um castigo divino, um resultado do carma dos brasileiros ou coisa assim. Resulta da conduta impatriótica e insensível de umas poucas pessoas, cujo nome e RG são conhecidos. Os preços altos são totalmente injustificáveis e isso é muito fácil de se demonstrar.
Há quase 70 anos – 1953 – Getúlio Vargas, em seu governo democrático (1951/1954), criou a Petrobras vendo nela parte do alicerce capaz de sustentar o desenvolvimento do país e permitir ao seu povo beneficiar-se dos avanços da modernização tecnológica. Não conseguiu completar o alicerce desejado, criando, na área da energia elétrica, uma empresa semelhante – a Eletrobras. Encurralado por um terrível arco de forças que somava dos reacionários mais empedernidos da UDN aos comunistas (!), englobando, inclusive, generais que dividiam com ele a mesa de decisões no palácio presidencial, Vargas, para escapar a deposição desonrosa, possivelmente seguida de prisão, suicidou-se.
Nas décadas seguintes, governos e grupos econômicos internacionais, empenhados em abortar o surgimento de um Brasil autossuficiente em termos de energia, fizeram de tudo para nos manter subjugados à dependência externa. Um notável geólogo americano – Walter Link –, contratado pela Petrobras, recomendou que esquecêssemos o sonho de encontrar petróleo que, garantiu, aqui não existia. Ao mesmo tempo, as empresas de energia elétrica deixavam nossas maiores cidades às escuras e travavam, por exemplo, o desenvolvimento do interior paulista. Em Tatuí, os cidadãos incendiaram o escritório da Sul Paulista. Sorocaba ficou décadas sem receber fábricas novas, o mesmo ocorrendo com Itapetininga.
Apesar disso, a Petrobras cresceu e formou equipes de técnicos que viabilizaram a prospecção, extração e processamento, em nosso país, de petróleo a um dos menores custos do mundo. José Sérgio Gabrielli, que a dirigiu nos governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estima que, considerados todos os custos, inclusive os de reposição e atualização dos equipamentos, o barril de petróleo não custa, para a Petrobras, computado inclusive o lucro que ela precisa apresentar, mais do que 28 dólares – R$ 140,00. Mesmo infestadas por parasitas políticos de toda ordem, a Eletrobras e as empresas estatais que com ela se relacionam, estavam, durante os governos progressistas, em vias de levar a energia elétrica aos nossos grotões mais distantes.
Surge, então, no cenário nacional, uma das nossas grandes pragas com RG conhecido: Michel Temer. Traindo a presidente Dilma e prometendo construir uma ponte para o futuro, ele começou a nos levar, em velocidades espantosas, rumo ao passado mais tenebroso. Afastada a presidente, nomeou para comandar a Petrobras um certo Pedro Parente, que, logo em seguida, estabeleceu que os derivados de petróleo tivessem os seus preços equiparados aos do mercado internacional.
Tudo o que está ruim sempre pode piorar. Depois de Temer – aproveitando-se das condições por ele criadas e com apoio dos setores mais retrógrados e impatrióticos da força armada – desabou sobre nós o destrambelhado capitão que aí está, formando parelha com o desalmado Paulo Guedes.
O resultado, cada brasileiro está sentindo na própria pele. A Petrobras lucra cada vez mais, esse lucro vai para um reduzido número de investidores – inclusive empresas estatais estrangeiras que adquiriram uma ínfima parcela de suas ações –, e os brasileiros vivem em desespero: encher o tanque do carro – ou da moto – tornou-se um pesadelo. Milhões de brasileiros estão precisando cozinhar com álcool porque não conseguem arcar com o preço do botijão de gás.
No momento, essas cobras criadas estão destruindo o outro alicerce de nossa independência energética, a Eletrobras, o que vai fazer com que milhões de brasileiros precisem, em pouco tempo, renunciar ao banho quente e enfrentar a escuridão da noite à luz de velas.
Se você está satisfeito com a nossa marcha batida rumo ao atraso, continue obedecendo a voz de comando do capitão. Ele dará a todos nós um país cada vez mais miserável, sem ordem e sem lei, com muita fome e sem perspectivas de progresso. Se isso o assusta, some-se aos brasileiros que efetivamente amam seu país e participe do esforço para que nos livremos, pelo voto, do capitão, do Temer, do Parente, do Guedes e de todo mal que eles encarnam.
Geraldo Bonadio é jornalista, advogado e escritor.