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Qual o papel social da escola?

Será que os pais não sacam mais seus filhos? Não vigiam suas bolsas e gavetas? Não os observam? Não os abraçam? Não os oferecem acalanto?

Daniel Lopes*

Daniel Lopes é professor e secretário-geral do SinproVales, o Sindicato dos Professores de Indaiatuba, Itu e Salto. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

O caos persecutório que afeta as escolas gera a necessidade, a fim de atender ao mercado (entenda-se mãe-e-pai-clientes), de uma série de iniciativas: palestras educativas com a polícia, aulas de defesa pessoal aos funcionários, colocação de seguranças na entrada, câmeras nos arredores e detectores de metal por todos os cantos.

Robocops, jaspions, he-mans, changemans e todos os heróis de minha tenra infância podem agora ser vividos na realidade; minhas fantasias narcísicas de heroísmo postas em ato. Sinto-me “o cara”.

Bobagens ao lado, claro que o assunto merece tratamento diferenciado. Todo cuidado é pouco. Proteger professores, estudantes e demais atores da vida escolar é fundamental.

No entanto, há reflexões ausentes do debate, e fundamentais. Pouco se discute o espírito bélico, destrutivo e armamentista construído pelo bolsonarismo: a selvageria e a escrotisse como afirmação de valentia.

Quem sabe se tivéssemos exaltado Bauman no lugar de Batman, situação que fez habitar parte da sociedade chapada de WhatsApp, e sim, termos observado cientificamente a vida como ela é, constataríamos que vivemos mais um “medo líquido”, absolutamente adequado ao espírito do tempo neofascista brasileiro.

O problema é que agora, só pra variar, a responsabilidade recai sobre a escola, que se vê desesperada em dar uma satisfação que acalme. Afinal de contas, se um aluno (psicopata ou surtado) resolver sair matando a todos; a sociedade, a mídia, a “turma do amendoim” e grande elenco de sabichões dirão que a escola tem culpa, especialmente os professores, que deveriam ter avisado a coordenação acerca do aluno com postura “estranha”, encaixotando qualquer coisa nesta designação.

E eu me pergunto: onde está a família nesta situação toda? Longe de fazer um discurso reacionário e moralista, mas será que os pais não “sacam” mais seus filhos? Não vigiam suas bolsas e gavetas? Não os observam? Não os abraçam? Não lhes oferecem acalanto?

De um tempo para cá, tudo se justifica no bullying sofrido pelo assassino escolar?! Desse jeito?!

Naquela época recente, em que os pais se encorajavam para atacar os “professores doutrinadores”, um pai veio me interpelar. Foi quando o questionei: você já parou para pensar a razão pela qual seu filho gosta mais de mim do que de você?

*Daniel Lopes é professor e secretário-geral do Sinprovales (Sindicato dos Professores de Indaiatuba, Itu e Salto)

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