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Parabéns, Milton!

José Antônio Rosa*

Milton: referência internacional com a “cor local”. Foto: divulgação

Numa de suas passagens por Los Angeles, nos Estados Unidos, Milton Nascimento foi procurado por Maurice White, líder da icônica banda Earth, Wind and Fire. Durante o contato, White confessou que ele e os demais integrantes do conjunto, para muitos o melhor do mundo, atribuíam a Milton a escolha para que tivessem decidido enveredar pelos caminhos da música.

Outros artistas do cast internacional, de igual e ou até maior relevância, também reverenciaram e se renderam ao talento de Milton que hoje, 26, completa 80 anos. Em jornalismo, usa-se, ou usava-se, a expressão “cor local” para associar fatos e personalidades ao ambiente onde o determinado veículo de comunicação funciona. Sorocaba é pródiga em estabelecer relações dessa ordem. Milton Nascimento, claro, incluiu a cidade no roteiro das turnês com as quais viajou. Esteve aqui com “A Barca dos Amantes”, quando se fez acompanhar do guitarrista texano Pat Metheny, um de seus tantos amigos famosos.

Nessa oportunidade, calhou de o autor destas linhas tomar conhecimento de fato inusitado. Consta que Milton ficou hospedado na casa de um conhecido no condomínio Chácara Santa Maria. Ao lado da residência, ficava a chácara pertencente a um empresário a quem meu padrasto conhecia desde criança. Íamos lá aos finais de semana para visitar o caseiro e, quando possível, usufruir do campo de futebol da propriedade.

Aconteceu de, naquele período, o caseiro, sabedor de minha predileção por música, contar que, por aqueles dias, avistara à beira da piscina, um “escurinho”, de cujo nome não se lembrava, mas que, segundo lhe informaram, era cantor. Como o show no Clube Recreativo acontecera dias antes, fui tomado de surpresa. Perguntei se por acaso se tratava de Milton Nascimento. “Isso mesmo! ”, entusiasmou-se o interlocutor.

Senti uma ponta de frustração por não ter tido a mesma oportunidade. Milton já era um ídolo e eu acompanhava sua trajetória há tempos. Já na década de 90, circulando a trabalho por São Paulo, passo pela rua Nestor Pestana e, bem à frente do Teatro Cultura Artística, uma placa anunciava o show “Planeta Blue na Estrada do Sol” para aquela noite. Cheguei a pensar que os ingressos estariam esgotados, mas movido pela curiosidade fui até a bilheteria e arrisquei perguntar. Sim, soube, ainda havia ingressos disponíveis. Não pensei duas vezes e garanti meu lugar na assistência do espetáculo que aconteceria dentro de algumas horas. Tive, assim, o privilégio de acompanhar a gravação ao vivo do álbum e de conferir de perto Milton cantando, entre outros temas, “Beatriz”, de Edu Lobo (que, coincidentemente, se apresenta no Sesc Sorocaba).

Foi uma experiência fascinante. Tempos depois, atuando como jornalista e já ciente de que as chances de ficar diante de Milton eram praticamente nulas, fui pautado para acompanhar em São Paulo a abertura da exposição, no Memorial da América Latina, do painel “Guerra e Paz”, de Cândido Portinari. No caminho para a Capital fui informado que antes da exposição haveria um show. Eu não fora informado dessa apresentação e quis saber quem ocuparia o palco. Ninguém menos do que Milton Nascimento. Ele compôs várias canções em homenagem ao trabalho de Portinari e as interpretaria num “pocket show”.

Assisti à performance e segui para o local onde o painel ficaria exposto à visitação. Ali, em meio a tanta gente, avistei Milton andando pelo recinto. Aproximei-me e o abordei. “– Milton, eu sou do jornal…”. “ – De que jornal?”, ele quis saber. Respondi e ele, como que estranhando, disse-me que era o mesmo nome do time para o qual torcia em Minas, Cruzeiro. Tentei ganhar tempo para que o fotógrafo com quem fui aparecesse e registrasse uma foto ao lado do ídolo. Não foi possível. Milton estava com pressa e era lembrado o tempo todo por Fernando Brant, seu parceiro, de que precisava sair para outro compromisso. “ – Vamos, Bituca”, insistia Fernando.

Durou pouco mais de cinco minutos, se tanto, minha conversa com Milton. Não pedi autógrafo, não registrei em imagem aquele momento, mas o guardo com carinho e reverência. Feliz aniversário, Milton.

*José Antônio Rosa é jornalista e advogado.

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