
Jornalista e cientista sorocabano Manequinho Lopes deu início ao plantio de eucaliptos na área que viria a ser o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Foto: Felipe Lopes de Oliveira Diehl/Wikimedia Commons – Foto de fundo: Rovana Rosa/Agência Brasil
Quando o sorocabano Manequinho de Oliveira importou centenas de mudas de eucalipto australiano, seu ato poderia ser encarado como um enorme paradoxo.
Baseado no jardim da Estação da Luz, o diretor de Matas, Parques e Jardins da cidade de São Paulo vivia a criticar, junto com o jornalista Monteiro Lobato, a mania dos brasileiros de introduzir e valorizar hábitos europeus para a formação de jardins em detrimento das espécies nativas do Brasil.
Mas a estratégia de Manequinho era apenas a de recuperar a área de pouco menos de 200 hectares conhecida como Ypy-ra-ouera (pau podre em Tupi) que, na verdade, era um brejão entre os córregos Caaguaçu e Sapateiro, nas proximidades do Rio Pinheiros, em São Paulo.
Ali, Manequinho, ao mesmo tempo, começou a produzir mudas de Pau-ferro, Ipê, Pau-Brasil, Tipuana, Pau-Jacaré e Sibipiruna, além de plantas arbustivas e herbáceas, notadamente floríferas que eram encontradas no Cerrado brasileiro e na Mata Atlântica.
O sorocabano foi reconhecido como o maior arborizador de plantas nativas da cidade de São Paulo. As mudas que inicialmente plantava nos viveiros no Jardim da Luz e do Parque da Água Blanca alteravam o conceito de jardinagem e abasteciam os jardins públicos e ruas da cidade que até então recebiam apenas mudas de plantas exóticas importadas de Paris.
Em 1927, como Diretor da Divisão de Matas Parques e Jardins, Manoel Lopes de Oliveira Filho começa a plantar suas mudas na várzea do Ypy-ra-ouêra que, na década de 50, se transformou no principal centro de convivência paulistana, o Parque do Ibirapuera. Seu gosto e habilidade para o plantio veio com sua formação de biólogo (entomologista) e agrônomo, adquirida em estudos na Europa (Suíça, França e Alemanha) para onde foi com 10 anos de idade, em 1882, e ficou até 1893. Com 21 anos se empregou na Prefeitura de São Paulo para cuidar de Parques e Jardins.
Por seu interesse pela natureza, se tornou um dos pioneiros do jornalismo científico no Brasil. Em 1918 assumiu um rodapé da página quatro do jornal onde desfilava uma coluna chamada “Assumptos Agrícolas”, em que disponibilizava todo o seu conhecimento adquirido como biólogo em Helderberg, na Alemanha, com especialização em Zurique (entomologista), na Suíça.
Por mais de 20 anos repassou conceitos de botânica e entomologia ao público leitor, promoveu cursos pelo jornal e foi precursor do caderno Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo.
*Ailton Segura é jornalista