
Aracy com Armando Bógus (ao centro) e elenco da primeira formação do musical “Hair”, dirigido pelo sorocabano Ademar Guerra. Foto: Reprodução
Foi de Aracy Balabanian, que partiu hoje antes do combinado, o start para que eu levasse adiante o projeto de registrar em livro a biografia do diretor de teatro sorocabano Ademar Guerra. Até por isso, a considero madrinha da ideia que ganhou forma.
Eu a conheci quando aqui esteve com a peça “Fulaninha e dona Coisa”, espetáculo que ocupou o palco do Municipal. No hotel onde se hospedou, antes de começar a entrevista, foi logo questionando os repórteres (além de mim, lá também estava Deise de Oliveira, que viria a se tornar editora do caderno Mais Cruzeiro):
– Vocês não costumam homenagear as pessoas importantes da cidade?
Ela própria esclareceu o motivo da bronca. “No caminho para cá não vi uma rua, placa ou praça com o nome de Ademar Guerra. Até o teatro onde vamos nos apresentar não tem o nome dele”. E era verdade. Ressalvas à parte, Aracy nos atendeu com a simpatia que caracterizava seu jeito de ser.
Passados alguns anos, inscrevi a proposta no edital da Linc e fiquei entre os selecionados. Eu não pretendia produzir algo que dedicasse espaço para celebridades da cena artística, embora Ademar Guerra tivesse trabalhado com uma constelação de nomes famosos tanto da tevê quanto do teatro.
Pesquisando, conversei com minha prima, a bailarina Ismênia Rogich, que durante anos esteve no elenco do ballet Stagium, da coreógrafa Márika Gidali, ambas conhecidas de Ademar. A união com Márika rendeu mais do que belas produções; foi o que os críticos definiram como o casamento da dramaturgia com a dança. E foi a diretora do Stagium que mediou o contato com Aracy Balabanian. Ela que esteve em pelo menos dez dos espetáculos dirigidos por Ademar (tanto que a chamavam de “ademarete”), atendeu-me para uma conversa de mais de duas horas.
E falou do convívio e da admiração pelo amigo. Abre parênteses: Ademar Guerra já fora biografado pelo jornalista Oswaldo Mendes, também seu amigo de longa data, mas eu quis ambientar sua história em Sorocaba. Aracy, então, comentou do quanto ele gostava da cidade e dos trabalhos que juntos levaram à cena. Entre estes, o programa infantil “Vila Sésamo”. Contei-lhe que assistia quando criança. “– Fui sua Xuxa, então? ”, ela brincou.
Coincidentemente, Aracy está na reprise da novela “Loco motivas”, levada ao ar pelo canal Globoplay. Interpreta Milena, um dos vértices do triângulo amoroso que na história de Cassiano Gabus Mendes reúne Walmor Chagas e Lucélia Santos.
Ela, claro, se sobressaiu por incontáveis trabalhos, com a Cassandra do humorístico “Sai de Baixo” ou a dona Armênia, de “Rainha da sucata”. Triste como tanta gente, peço muita paz e muita luz por Aracy. Que Deus a receba e conforte os corações dos amigos, da família e da incomensurável legião de fãs. Obrigado, Aracy.
José Antonio Rosa é jornalista e autor do livro “Guerra, ato único” (Linc Sorocaba, 2011)