
“Não basta Lula vencer hoje. As forças progressistas terão de vencer todos os dias, sem reservas ou hesitações, para conquistar cada palmo de terreno e manter posição.” Foto: reprodução
Os brasileiros voltam às urnas neste histórico 30 de outubro carregados de incertezas quanto ao resultado que será conhecido logo mais à noite. As pesquisas da véspera da eleição, embora indicassem nítida vantagem para o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, também registraram, em alguns casos, diferença percentual tão estreita que, no extremo da margem de erro, para baixo e para cima, poderiam indicar empate técnico.
O PORQUE já firmou posição no primeiro turno, fiel a sua proposta de trabalhar pela democracia e contra o protofascismo encarnado pelo atual presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). Desnecessário afirmar que, no segundo turno, este portal e aqueles que nele atuam torcem por uma vitória de Lula, para virar em definitivo essa página ultrajante de nossa história, escrita com raro impatriotismo pelos bolsonaristas.
Entretanto, seja quem for o vencedor, uma coisa não mudará: os que sonham resgatar o Brasil do abismo em que foi lançado pelos agentes do retrocesso político, econômico e social terão que lutar, de maneira incessante, para ganhar terreno e mantê-lo. Não basta Lula vencer hoje. As forças progressistas terão de vencer todos os dias, sem reservas ou hesitações, para conquistar cada palmo de terreno e manter posição.
Caso Lula vença, será preciso amplificar a mobilização para que o resultado das urnas seja acatado. Mais do que nunca, será indispensável cerrar fileiras em defesa da Justiça Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal (STF) – este último, responsável por não haver o bolsonarismo, já agora, convertido o Brasil numa republiqueta, comandada por um títere vitalício, acolitado pela escória do poder político, econômico e militar.
E será preciso, depois, cuidar para que a elite do atraso não se articule por seus muitos tentáculos – como ocorreu com Dilma Rousseff –, a fim de inviabilizar a governabilidade; ou crie narrativas para jogar o povo contra o governo eleito, arrastando para as ruas multidões de incautos, cada vez que seus interesses sejam contrariados. As lições do impeachment de Dilma são muitas, e cabe, às forças progressistas, aprender com elas.
Não queremos, neste espaço, sequer cogitar a possibilidade de o atual presidente conseguir mais quatro anos. Se essa tragédia ocorrer, tanto mais os democratas precisarão estar unidos e articulados, pois as ameaças ao Estado de Direito tenderão a assumir contornos ainda mais concretos, com ações objetivas para controlar a Corte Suprema, alterar a Constituição, perseguir opositores, inviabilizar a alternância no poder.
Na vitória ou na derrota, a responsabilidade histórica das forças progressistas já está desenhada: caberá a elas trabalhar arduamente para evitar que o cancro do bolsonarismo venha, de maneira ardilosa, erodir a confiança nas instituições e a fé na democracia. É fundamental, sobretudo, estar junto do povo, falar sua língua, ouvi-lo, entendê-lo e trazê-lo para perto — pois é ele, o povo, em última instância, o fiel da balança.
José Carlos Fineis é editor-chefe do Portal Porque