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Procura de jovens pelo título de eleitor já é maior que em 2018 e 2014

Para TSE, o recorde é reflexo da mobilização de artistas e polarização política

Fernanda Ikedo e Maíra Fernandes

A mobilização de artistas, influenciadores e figuras públicas nas redes sociais e eventos de grande repercussão, como festivais de música, cobrando o alistamento eleitoral de jovens para as eleições deste ano, tem surtido efeito. Como reconhece o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), somadas à polarização no cenário político, essas ações contribuíram para um recorde no número de jovens que solicitaram o título este ano, superando, já, o total contabilizado nas eleições de 2018 e 2014.

De acordo com dados divulgados pelo TSE na quarta-feira, 21, só de janeiro a março de 2022 o Brasil ganhou mais 1.144.481 novos eleitores na faixa etária de 15 a 18 anos. Essa procura pelo documento superou o total registrado nas últimas eleições gerais de 2014 e 2018, quando foram emitidos 877.082 e 854.838 novos títulos, respectivamente.

“A Justiça Eleitoral sempre realiza campanhas de conscientização e incentivo ao eleitorado como um todo, em especial aos jovens, por meio da mídia e nas escolas. Neste ano, pela primeira vez, a campanha contou com a adesão espontânea de artistas e influenciadores, que dialogam diretamente com esse eleitorado, o que ajudou a impulsionar esses números”, avalia Diogo Cruvinel, cientista político e analista do TSE.

Para Cruvinel, além da adesão de figuras públicas, é preciso considerar que o Brasil vive um momento de acirramento dos discursos políticos, com uma maior polarização. Esse cenário, de acordo com ele, tende a incentivar os jovens a terem um maior engajamento e, por consequência, procuram participar mais ativamente do processo eleitoral. “E, para tanto, é necessário ter o título de eleitor. A população tem se conscientizado cada vez mais sobre isso”, analisa.

O VOTO JOVEM

É da natureza do jovem a transgressão e a luta por liberdades; por isso mesmo, esses novos eleitores têm uma inclinação mais para um voto contra retrocessos, retirada de direitos e tolhimento de liberdades – defende a socióloga Marcélia Valente.

Para ela, considerando o atual cenário em que o presidente da República se manifesta com falas, atitudes e ações preconceituosas, contrário às liberdades, com o desmonte de políticas de educação e cultura, negando os saberes científicos e apoiando atos antidemocráticos como a atual concessão de graça ao político condenado Daniel Silveira, é certo que, em sua maioria, esses votos jovens – que, para a socióloga, também deverão ser, em sua maioria, de mulheres – irão para projetos políticos de esquerda. Mesmo para aqueles que não se reconheçam em determinada sigla partidária, a tendência é que votem para somar a essa ação mais ampla, que é a mudança de governo.

Para Marcélia, a economia tem um grande reflexo nessa escolha. No entanto, a falta de políticas educacionais inclusivas e o desmonte da cultura são pautas mais caras a essa parcela de novos eleitores. Assim, declarações como a da cantora Anitta, cobrando que os jovens tirassem o título para participar efetivamente de uma mudança no país, no momento em que ela chegou no auge da carreira internacional, com canções entre as mais ouvidas no mundo, têm muito efeito.

Do mesmo modo, a recente edição do festival Lollapalooza, em São Paulo, com artistas nacionais e internacionais criticando o governo e pedindo #ForaBolsonaro!, foi outro momento importante para essa tomada de consciência dos jovens, ainda mais lembrando que o partido do presidente, em um primeiro momento, considerou cercear a liberdade desses artistas, recorrendo à Justiça que determinou a cobrança de multa para aqueles que se pronunciassem contrários ao governo, o que, no fim, não aconteceu.

PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

No Brasil, o voto é facultativo para os adolescentes de 16 e 17 anos, mas aqueles que entendem a necessidade de mudança e a força do voto na construção social não querem perder a oportunidade de participar desse momento histórico e necessário.

Para a estudante Ingrid Clavijo Del Grossi Soares, 15, não basta só garantir o título de eleitor, é preciso estar ciente da situação que o País atravessa, para “votar certo”. Ela, que cresceu vendo os pais estudando e debatendo política, também se enveredou por esse rumo. “Me surgiu a curiosidade de estudar e, debatendo política e observando, percebi o quanto é importante entender e votar. Votando certo, conseguimos ajudar o nosso País”, contou ela, que faz 16 anos em agosto.

Ingrid – que, assim como defendido pela socióloga, irá abraçar um projeto de mudança de esquerda – acredita que as mobilizações dos artistas influenciaram sim a geração de adolescentes e jovens que ainda não haviam considerado participar dessas eleições e conhece, em seu meio, pessoas que precisaram de um “empurrãozinho” dos ídolos para solicitar o título. “Muitas vezes os jovens não têm exemplos dentro de casa, os pais não se preocupam em saber sobre política, e os filhos também. Então, ouvir de um ídolo que política é importante e que devemos procurar saber mais, influencia bastante”, defendeu.

Como ela, a estudante Martina Fischer Beltrán, 15, também entende como de extrema importância a participação da juventude no processo democrático de escolha política. Também com exemplos em casa de debates políticos, disse ter ficado em “choque” quando descobriu que já poderia votar nessas eleições. “Pensei: nossa! Vou fazer 16 anos já, que responsabilidade!”, contou ela. Passado o susto, considerou: “Depois percebi que não faço mais do que a minha obrigação em tirar meu título de eleitor e ir votar.” Para ela, o jovem tem direitos e deveres como todo cidadão e merece ser ouvido nas urnas.

COMO SOLICITAR O TÍTULO

Quem faz 16 anos até o dia das eleições tem até o dia 4 de maio para solicitar o título eleitoral. Para saber sobre os trâmites, basta acessar: https://www.tse.jus.br/…/tudo-sobre-titulo-de-eleitor/

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