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‘Contos Quarentênicos’ ajudam seus criadores a atravessar pandemia a se tornam referência literária

Maíra Fernandes e José Carlos Fineis

No dia 22 de abril de 2020, alguns privilegiados receberam pelo WhatsApp uma mensagem de áudio em que um narrador, secundado por uma trilha musical caprichada, interpretava o texto “Enfim, um indivíduo de ideias abertas”, de Marina Colasanti. Era a estreia de Contos Quarentênicos, podcast literário criado por dois amigos e parceiros de longa data: o ator/contador de histórias José Bocca e o músico Marcos Renato Silva (Marcos Boi).

Às vésperas de completar dois anos de existência, com novos episódios todas as quartas-feiras, os Contos Quarentênicos não só ajudaram seus autores a atravessar os dias mais difíceis da pandemia de covid-19 – quando ficaram impedidos de realizar seu trabalho em teatros e casas de shows –, como chegaram às principais plataformas de podcast e se tornaram uma referência de bons textos e autores, nem sempre conhecidos do grande público.

O começo de tudo foi aquilo que, para muitos, ainda que temporariamente, representou justamente o fim de tudo. Com o fechamento de bares, casas noturnas, teatros e cinemas, somado ao receio de aglomerações, mesmo em lugares abertos – medidas necessárias, mas que tornaram inviável o ganha-pão dos artistas –, tanto Bocca quanto Boi começaram a procurar alguma maneira de continuar criando e, se possível, ganhar algum dinheiro.

Como recorda Bocca, responsável pela escolha dos textos e narração, março de 2020 trouxe uma realidade que ninguém esperava. Autor de um livro infantil lançado em 2019, em parceria com a ilustradora Bruna Lubambo – “O bicho mais poderoso do mundo”, ed. Aletria –, Bocca estava em plena atividade de divulgação, com lançamentos agendados em diversas cidades brasileiras, que foram cancelados um a um tão logo eclodiu a pandemia.

Bocca havia realizado um projeto cultural com Maurício Toco em janeiro e fevereiro, com recursos do Fundo Municipal de Cultural de Votorantim, onde reside. Mas, em abril, o que era para ser uma situação financeira estável começou a ficar dramático. E não só para ele. “No começo de abril, recebi um telefonema do Marcos Boi. Todo mundo estava preocupado com todo mundo. E, na verdade, ninguém estava bem”, lembra o artista.

Na época, Boi fazia trabalhos em vídeo, e convidou Bocca para juntar-se ele, mas Bocca não se animou (“Vídeo não é muito a minha praia”). Porém, lembrou que gravara um áudio dias antes, para enviar pelo WhatsApp a uma amiga, que pedira uma história para ouvir com as filhas, e propôs a Boi que fizessem algo nessa linha, em áudio. Após algumas conversas para definir o formato dos episódios, a primeira edição dos Contos Quarentênicos chegava aos celulares dos contatos que os dois conseguiram reunir.

CHAPÉU VIRTUAL

Cada qual trabalhando em sua casa, em estúdios improvisados e com os equipamentos que tinham à mão, Zé Bocca e Marcos Boi colocaram toda sua energia e criatividade na produção dos episódios, que no princípio continham apenas uma vinheta e um texto curto interpretado por Bocca, acompanhado pela trilha musical exclusiva de Boi. A distribuição pelo WhatsApp foi uma escolha natural, diante do uso generalizado desse aplicativo. Para isso, foram criadas linhas de transmissão que, com o tempo, atingiram cerca de mil pessoas.

O retorno foi melhor que o esperado. Muitas pessoas passaram a colaborar com o “chapéu virtual” – sem que as contribuições, de qualquer valor, fossem condicionantes para receber o podcast. Rapidamente, a produção evoluiu em técnica e conteúdo, e em poucos meses chegou a seu formato atual, com 4 a 5 minutos de duração, em que Bocca narra um texto em prosa (ou trecho selecionado de texto) e um poema, sempre com as devidas citações dos respectivos autores, livros de onde foram tirados e editoras.

Quando completou um ano, o projeto foi desdobrado em um novo produto, um podcast composto por quatro episódios. Assim, os Contos Quarentênicos ficaram disponíveis em praticamente todas as plataformas de áudio existentes. Em paralelo, uma vez por mês, um material especial passou a ser enviado para uma lista de transmissão chamada “Mecenas”, na qual foram incluídos todos os que colaboraram de alguma maneira com os autores.

Para Marcos Boi, músico e produtor com 35 anos de carreira, os contos foram a evolução natural (e possível) de uma parceria antiga. “Na verdade, eu já viajava com o Bocca por diversas cidades, para apresentações artísticas, há mais de 20 anos”, conta ele. “O Bocca se incumbia da parte teatral, contando histórias, enquanto eu cuidava da produção musical dos espetáculos. E a gente trouxe essa experiência e parceria para os Contos Quarentênicos”, relata.

Enquanto celebram o sucesso do projeto, que será mantido independentemente do desenrolar da pandemia, os criadores destacam que uma das maiores virtudes dos Contos Quarentênicos é a divulgação de bons escritores para um público ávido por textos de qualidade, mas que nem sempre tem acesso a livros como gostaria. “Muitas pessoas que gostam de literatura passaram a curtir autores até então desconhecidos, graças ao nosso trabalho. Para nós também, a atividade de pesquisar textos e ajudar a popularizar bons autores é muito prazerosa”, afirma Zé Bocca – no que o parceiro Marcos Boi concorda inteiramente.

PARA RECEBER O PODCAST PELO WHATSAPP
e-mail para contosquarentenicos@gmail.com, ou pelas redes sociais dos artistas

PARA OUVIR ‘CONTOS QUARENTÊNICOS’

SPOTIFY
https://url.gratis/tnmQBl

DEEZER
https://www.deezer.com/br/show/3003262

APPLE PODCAST
https://url.gratis/YAVkRL

PODTAIL
https://podtail.com/pt-BR/podcast/contos-quarentenicos/

LISTEN NOTES
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