
A polícia editou instrução normativa específica para a segurança dos candidatos à Presidência com diretrizes que devem ser seguidas pelos agentes e com recomendações claras aos políticos que vão concorrer. Foto: Agência Brasil
A perspectiva de uma disputa acirrada e os casos recentes de violência política levaram a Polícia Federal a reforçar o esquema de segurança de candidatos à Presidência para este ano. Até 2018, a PF fazia a proteção dos candidatos com base em lei e portaria sucinta do Ministério da Justiça, que tratava genericamente da necessidade de a corporação proteger aqueles que disputassem o Palácio do Planalto.
Após o pleito, marcado pela facada em Jair Bolsonaro e ameaças à campanha de Fernando Haddad (PT), a polícia editou instrução normativa específica para a segurança dos candidatos à Presidência, com diretrizes que devem ser seguidas pelos agentes e com recomendações claras aos políticos que vão concorrer.
Casos de violência
Desde a pré-campanha eleitoral, crimes como ameaças e mortes relacionados à política têm se acumulado no país. Em julho, um policial penal federal bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros o guarda municipal e militante petista Marcelo Aloizio de Arruda, em Foz do Iguaçu (PR).
Na última quinta-feira, 8, um homem que defendia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi morto por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) após uma discussão em Confresa (a 1.160 km de Cuiabá).
Autor do crime, Rafael de Oliveira, 24, passou por audiência de custódia, e a Justiça de Mato Grosso manteve a prisão preventiva. Ele confessou, segundo a polícia, ter matado a facadas o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, 44, depois de uma discussão política. De acordo com a polícia, o autor tentou decapitar a vítima e, após o crime, ainda filmou o corpo.
O novo episódio de violência política gerou repúdio nesta sexta-feira (9) dos presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).
‘A intolerância tirou mais uma vida’
O ex-presidente Lula usou termos como intolerância, ódio e selvageria ao se referir ao assassinato em Mato Grosso.
“É com muita tristeza que soube da notícia do assassinato de Benedito Cardoso dos Santos, na zona rural de Confresa. A intolerância tirou mais uma vida. O Brasil não merece o ódio que se instaurou nesse país. Meus sentimentos à família e aos amigos de Benedito”, escreveu o petista em uma rede social.
Em seguida, no Rio, Lula disse que “o país caminha para uma selvageria que até então desconhecíamos”. “É uma demonstração do clima de ódio estabelecido no processo eleitoral. Uma coisa totalmente anormal.”
O petista ainda afirmou esperar que a polícia esteja atenta, assim como a Justiça Eleitoral, à possibilidade de que o crime tenha ocorrido a mando de alguém, “por orientação, ou se é uma estratégia de política”.
Questionado se aceitaria discutir uma trégua com Jair Bolsonaro (PL) para reduzir o acirramento do clima político, Lula disse: “O problema é que ele não vai reconhecer que é da parte dele. Como se pode fazer uma trégua? Se tiver trégua, peço para o [candidato a vice na chapa petista Geraldo] Alckmin negociar.”
O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, atribuiu o crime de homicídio registrado em Confresa (MT) ao que chamou de “guerra fratricida e polarização odienta”.
“Mais uma vítima da guerra fratricida, semeada por uma polarização irracional e odienta que pode inundar de sangue o nosso solo. Abaixo a violência política. O Brasil quer paz”, escreveu Ciro em sua página no Twitter.
‘Este não é o Brasil que queremos’
A senadora e candidata à presidência da República Simone Tebet (MDB) responsabilizou o presidente Jair Bolsonaro (PL) pelos casos de violência política, argumentando que ele “estimula o ódio”. A emedebista também pediu que o chefe do Executivo “dê um basta nisso”.
“Este não é o Brasil que queremos, este não é o Brasil que podemos aceitar. O Brasil é um país de paz, quer paz, quer união, especialmente na área da política. A política não é isso. Política é a arte de realizar sonhos das pessoas”, afirmou a candidata, durante agenda no interior paulista.
“Nós precisamos que o presidente da República dê um basta nisso. Ele estimula o ódio, ele instiga o ódio através de fake news, através de suas redes sociais. É preciso que ele dê um basta. Nenhum filho pode dormir sem o pai por uma briga fratricida por questões políticas”, completou.
No entanto, o presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo diante da escalada da violência política do país, radicalizou o discurso contra o PT e disse que varrerá o partido para o lixo da história.
Em ato político na tarde desta sexta-feira (9), em Araguatins, cidade do norte do Tocantins, o presidente afirmou: “Essa praga sempre está contra a população. Esse pessoal não produz nada, só gera desgraça para o povo brasileiro. Com essa nossa reeleição, […] varreremos para o lixo da história esse partido dito dos trabalhadores, mas na verdade é composto por desocupados”, afirmou.
O presidente voltou a tratar a disputa eleitoral como uma luta “do bem contra o mal” e colocou a pauta de costumes no centro do seu discurso, com acusações aos adversários.
*Com informações da Folhapress