
De acordo com a reportagem, algumas das escrituras consultadas trazem expressões ainda mais precisas sobre o uso de dinheiro vivo, como moeda “contada e achada certa” ou “em espécie”. (Foto: Banco de imagens/Pixabay)
Escrituras firmadas em cartórios e dados de quebras de sigilo obtidos pelo Ministério Público do Rio Janeiro evidenciam que os 51 imóveis comprados pela família do presidente Jair Bolsonaro (PL), nos últimos 30 anos, foram de fato adquiridos por meio de pagamento parcial ou total em dinheiro vivo. Uma reportagem do UOL, publicada nesta sexta-feira (9), mostra os detalhes das transações imobiliárias que desmentem as alegações de Bolsonaro, que vinha negando as compras milionárias com dinheiro em espécie.
A denúncia da compra de imóveis, desde os anos 1990 até hoje, pelo presidente e seus irmãos e filhos, veio à tona em reportagem publicada em 30 de agosto pelos jornalistas Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, do UOL. A matéria mostrou que dos 107 imóveis adquiridos, 51 deles, ou seja, metade, totalizaram o pagamento, em dinheiro vivo, de R$ 13,5 milhões. O equivalente, nos dias atuais, a R$ 25,6 milhões em valores corrigidos pelo IPCA. Sem explicações diretas da família Bolsonaro, a defesa do clã argumentava, contudo, o uso de “moeda corrente” nas negociações.
Segundo a família, essa forma de transação seria diferente de “dinheiro vivo”, por se tratar de “quaisquer meios de pagamento, contanto que sejam em moeda nacional”. Nesta semana, em uma entrevista à emissora Jovem Pan, o presidente decidiu se pronunciar sobre o caso, alegando também que o UOL havia confundido deliberadamente o uso da expressão “moeda corrente nacional”. Mas dados de 1.105 páginas de 270 documentos requeridos a cartórios de 16 municípios provam que a afirmação de Bolsonaro está errada.
Dinheiro vivo em cada compra
De acordo com a reportagem, algumas das escrituras consultadas trazem expressões ainda mais precisas sobre o uso de dinheiro vivo, como moeda “contada e achada certa” ou “em espécie”. A investigação também levou em conta entrevistas com parte dos vendedores e consultas aos próprios cartórios de notas. Outros 26 imóveis, que não mencionaram a forma de pagamento, foram eliminados da conta, o que resultou em 51 imóveis comprados com “dinheiro vivo”.
Desse total, 17 compras foram citadas em investigações do MP do Rio que apura o esquema de rachadinha nos gabinetes de Carlos e Flávio Bolsonaro, filhos do presidente da República. Outros 24 imóveis estão em São Paulo, Estado em que os cartórios devem declarar em escrituras as formas de pagamento.