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Vida de cadeirante: conheça os obstáculos para se locomover por Sorocaba

Num trajeto pequeno, de cerca de 2km, entre as Avenidas Gal. Carneiro e Armando Pannunzio,cadeirante mostra os obstáculos que enfrenta para circular pela cidade

Fabiana Blazeck Sorrilha (Portal Porque)
  • Maicon Adriano Braga, de 38 anos, mostra a grande quantidade de obstáculos para um cadeirante em apenas 2 km de trajeto. Foto: Fabiana Sorrilha
  • Sem rampas de acesso, Maicon usa as guias rebaixadas, que são muito inclinadas, e chegar à calçada. Foto: Fabiana Sorrilha
  • Sem rampa de acesso no ponto do BRT, cadeirante se arrisca pela rua para pegar ônibus. Foto: Fabiana Sorrilha
  • Ele conta que já chegou cair com a cadeira de rodas ao ter de disputar espaço com obstáculos na calçada. Foto: Fabiana Sorrilha
  • Numa das travessias de pedestres da Av. Gal. Carneiro, em frente ao Saae, não há rampa de acesso: "Não dá pra usar", diz Maicon. Foto: Fabiana Sorrilha

Todas as pessoas têm direito à acessibilidade, conforme diz a lei de acessibilidade no Brasil. Pessoas com deficiência (PCD’s) precisam ter acessibilidade em todos os estabelecimentos, em espaços públicos ou privados, em todos os ambientes. Porém em cidades como Sorocaba que, segundo o IBGE possui cerca de 8% da população com algum tipo de deficiência, a acessibilidade vem sendo deixada de lado. É o que sente na pele Maicon Adriano Braga, de 38 anos, aposentado por invalidez e morador do Jardim Magnólia que, desde criança, convive com a falta de mobilidade e usa uma cadeira de rodas motorizada para se deslocar pela cidade.

Ele diz se sentir humilhado e impedido de circular pela cidade pela quantidade de obstáculos que encontra. Conta que já chegou a cair em rampas irregulares. “Contei com a ajuda das pessoas para voltar para a minha cadeira. É muito humilhante ter mobilidade reduzida em Sorocaba. Somos transparentes para a sociedade, e isso faz muito mal para todos que são diferentes”, desabafa.

Ultrapassar a muralha

Num pequeno trajeto entre a UPH da Zona Oeste e o início da Avenida Armando Pannunzio, Maicon apontou diversas dificuldades que enfrenta todas as vezes que quer sair de casa, seja para encontrar amigos, ir a um restaurante próximo ou pegar um ônibus. Nesse pequeno trajeto, de cerca de dois quilômetros, precisa vencer barreiras que lhe parecem muralhas, como define. São rampas de acesso tortas, mal planejadas e com o concreto quebrado, que fazem descer para a rua sem estarem niveladas com o asfalto. O esforço para vencer os desníveis é imenso. Acostumado a enfrentar as dificuldades da vida e do dia a dia de um cadeirante, Maicon usa o peso do próprio corpo para fazer contrapeso e sua cadeira  transpor os degraus dos desníveis. “Uma pessoa com uma cadeira normal, sem ser motorizada, ou sem habilidade, não consegue fazer isso que eu estou fazendo aqui”, esclarece.

A batalha de Maicon para chegar a um barzinho próximo, onde costuma encontrar amigos, inclui ainda passar pelos pequenos vãos que sobram da calçada, com carros que insistem em parar sobre os recuos dos comércios, sem se preocupar se há espaço na calçada para os pedestres e cadeirantes circularem. Os contêineres de lixo também são obstáculos constantes. “Olha lá, como passarei ali? Preciso de muito jogo de cintura e habilidade para isso”, aponta.

Ponto do BRT sem rampa de acesso

Nem o recém-construído ponto de ônibus do Sistema BRT, no início da Avenida Armando Pannunzio, sentido centro/bairro, alivia a rotina do Maicon. Simplesmente, não há rampa de acesso para que o rapaz consiga acessar a plataforma de embarque. A opção é seguir pela rua, disputando espaços com os carros e ônibus, dar a volta no quarteirão e usar as guias rebaixadas de comércios para, enfim, subir na calçada e ir até o ponto de ônibus. O trajeto aumenta cerca de 340 metros, que pode parecer pouco, mas que, para um cadeirante, é muito. Isso sem contar que para pegar ônibus ali, ele precisa planejar esse tempo de deslocamento a mais que terá.

“O que eu peço ao poder público é que eles olhem mais para os locais críticos da cidade, especialmente para as rampas para cadeirantes, que têm degraus e dificultam muito a vida da gente, incluindo mães com crianças no carrinho, idosos com menor mobilidade. Também para as travessias da rua e para as calçadas completamente inclinadas, que tiram a estabilidade da cadeira. Minha esperança é que, num futuro, pessoas com mobilidade reduzida tenham liberdade de ir e vir sem correr riscos de quedas e que isso faça parte da vida de todos”, apelou.

Vereadores atendem a população

Maicon já procurou vários vereadores para pedir ajuda sobre a falta de acessibilidade nas ruas de Sorocaba, mas nunca teve retorno de seus pedidos. “Nunca recebi sequer uma ligação, dizendo se seria possível ou não melhorar os pontos que apontei como críticos. Acessibilidade simplesmente não faz parte da pauta dos nossos vereadores”, lamentou.

Ele já procurou os vereadores Fábio Simoa, Fausto Peres, Ítalo Moreira e Rodrigo do Treviso. Conta que chegou a percorrer o mesmo trecho com Fausto Peres, que prometeu ajuda para aliviar os trechos apontados por ele como inacessíveis.

O Portal Porque enviou, em 26 de outubro, perguntas à assessoria de imprensa da Câmara de Sorocaba com o objetivo de saber o que os vereadores podem fazer para amenizar os trechos críticos apontados e, até a publicação deste texto, não recebeu retorno.

Também foram enviadas perguntas à Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria de Comunicação (Secom), sobre a falta de rampa no ponto de ônibus do BRT, visto que a fiscalização das obras feitas pela empresa Consor, detentora do contrato para operar o sistema BRT na cidade, é uma obrigação do governo municipal. Como sempre faz, a Secom de não respondeu ao Porque, nem a Maicon nem aos milhares de portadores de deiciencia que vivem na cidade.

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