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Pesquisadora destaca importância da formação no combate ao racismo no Brasil

Doutora em antropologia social, Jaqueline Lima Santos foi palestrante na 1ª edição da Feira Literária do SMetal; evento continua neste domingo

Jônatas Rosa (Portal Porque)

Para Jaqueline Santos, população negra foi fundamental no desenvolvimento de diferentes ciclos econômicos e trouxe conhecimento, práticas sociais e culturais ao Brasil. Foto: Jônatas Rosa/Portal Porque

A consultora em equidade de raça e gênero e doutora em antropologia social pela Unicamp, Jaqueline Lima Santos, foi uma das palestrantes da 1ª edição da Feira Literária do SMetal (FLIS), que teve o primeiro dia de atividades no sábado (28).

Pesquisadora do movimento Hip Hop, Jaqueline trouxe para o debate assuntos como mobilizações políticos-raciais e o genocídio do povo negro no Brasil. Para ela, além de inúmeras mortes de pessoas negras registradas cotidianamente, o genocídio é para além do físico.

Jaqueline explica que, no Brasil, a população negra foi fundamental para o desenvolvimento de diferentes ciclos econômicos e trouxe conhecimento, práticas sociais e culturais.

“Quando você nega as contribuições sociais, culturais, científicas e tecnológicas no desenvolvimento e construção desse país, você está fazendo um apagamento histórico e isso faz com que as pessoas não se reconheçam como sujeitos, com que elas não tenham autoestima, motivos para ser orgulhar porque é como se elas não tivessem história, como se elas fossem só escravas. E tudo isso gera uma forma de genocídio”, revela a pesquisadora.

Ela destaca ainda que, apesar de haver legislação – a Lei 10.639/03 – que determina o ensino da História da África nas escolas brasileiras, faltam incentivo e investimento.

“Não tem investimento em pesquisa para ter material didático e paradidático, não tem recursos institucionais, profissionais, equipes voltadas para o desenvolvimento dessa temática. Há muita divisão, a dotação orçamentária é mínima e você não consegue fazer o que precisa ser feito. A lei e as diretrizes são exemplos para o mundo, mas temos recursos para implantar de fato?”.

Ela aponta ainda que não é apenas no ensino que a legislação não funciona como deveria. A pesquisadora lembra que o Brasil tem lei que torna o racismo crime, mas isso não inibe que ocorra.

Segundo Jaqueline, é necessária mudança estrutural no imaginário social e na formação, além de um sistema de justiça que funcione. “Se reconhece que o Brasil é um país racista, mas não se identifica isso nas relações cotidianas. Então a legislação ainda é insuficiente”.

Ela completa que, além de ser necessário penalizar o racismo, é necessário pensar em formas de educar as pessoas para entender a questão. “Esse é um grande desafio”, enfatiza Jaqueline.

A formação é o caminho para mudanças estruturais nas questões raciais:

“Não adianta só ter política de inclusão, de redistribuição [de renda]. Isso é fundamental, porque uma pessoa com fome não pensa. Mas você precisa investir numa formação para transformação do imaginário social, e isso não é papel só do governo e dos movimentos sociais. As forças políticas estão aí e a gente precisa cumprir nosso papel”, finaliza.

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